Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) prevê reajuste entre 35% a 40% no preço do torrado e do moído
Quem costuma passar na padaria para comprar o café da manhã ou o lanche da tarde notou um aumento nos preços nos últimos meses e tem gastado mais para levar o pãozinho quente para casa. O aposentado Benedito Alves, 76, até mudou a rotina. Ele sai cedo do bairro Goiânia, na região nordeste de BH, e vai até o bairro vizinho, na região leste, só para encontrar preços mais atrativos.
“Prefiro pegar um ônibus já que não pago e vir no Santa Inês. Os preços e a qualidade estão melhores apesar de estou aproveitando esses aumentos em tudo para fazer uma mudança de hábito. Já não como bolo, farinha, no fim das contas tem sido bom para a saúde e para o bolso”, brinca o aposentado.
O sacrifício dele tem explicação. De acordo com uma pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro, o pão de sal na capital pode custar entre R$ 11,49 e R$ 19,90. Só neste ano, o pãozinho acumula alta de quase 10% – o valor do quilo saltou de R$ 14 para R$15,40. A situação se repete entre a muçarela e o presunto, que tiveram reajustes ainda maiores – 33,83% e 16,76%, respectivamente.
Até o cafezinho não saiu ileso. Nos últimos doze meses, o café já sofreu alta de 12,33%, em Belo Horizonte, enquanto o IPCA variou 9,43%, de acordo com o IBGE. O problema é que, segundo o presidente do Sindicato e da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), Vinícius Dantas, a expectativa é que os valores continuem aumentando pelo menos até o fim do ano por conta dos custos de produção.
“Esses aumentos recentes na energia elétrica vai impactar drasticamente Nosso setor tem a segunda maior conta de energia no país por conta dos freezers, fornos. O mercado já está retraído e absorvendo uma parte dos reajustes há bastante tempo, mas vai chegar um momento que não vai ser possível suportar mais”, pontua.
Com a alta do dólar, com a seca e com a geada intensa dos últimos meses, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) prevê, inclusive, reajuste entre 35% a 40% no preço também do torrado e do moído a partir deste mês. A alta seria a maior nos últimos 25 anos.
“Os aumentos das padarias são em cadeia. Tem desde o trigo que é importado e cotado em dólar, fora o transporte, porque ele vem por via terrestre. Além disso, tem o leite, que subiu bastante e estamos na entressafra. O preço de todos os derivados está em patamares muito altos desde o ano passado”, explica o economista, Feliciano Abreu.
Lanche salgado.
Por conta dos preços, a costureira Cleusa Ângela Tiago, 69, deixou para trás o hábito de ir à padaria todos os dias. Agora, só tem pão duas vezes na semana e mesmo assim a compra tem se resumido somente ao básico. “Não dá, aquela vontade de comprar um refrigerante e salgadinho para ter um lanche mais gostoso nunca mais aconteceu, é luxo do luxo”, conta.
O vendedor João Victor Araújo, 20, também consumido somente o básico. “Saudade quando a gente vinha para comprar bolo, presunto. O pão por si só já tem sido um luxo mesmo”, conta ele que diminuiu até a quantidade. Agora, ao invés de cinco pães de sal, o orçamento só dá para dois.
A sócia da padaria do Baixinho, no bairro Santa Inês, Wânia Rodrigues, já percebeu a mudança no consumo. “Os produtos de valores mais altos e que não são de primeira necessidade, como fatiados mais nobres, diminuíram o consumo. As pessoas cobram antes presunto e muçarela, por exemplo, de três em três dias, agora é uma vez por semana”, afirma a empresário, que também não tem aguentando os reajustes.
“Além de subir muito o preço, estamos tendo dificuldade de encontrar matéria-prima. Farinha de trigo e ovos, que são básicos para a gente, tiveram aumentos absurdos”, conta ela, que tem pagado 150% mais para o fornecedor de margarina desde o último ano. “Percebemos, antes, que os valores subiam durante a entressafra, mas depois abaixavam. Agora só sobe, não tem mais fôlego”, completa.
De acordo com o economista Feliciano Abreu, a alta nos produtos “supérfluos” nas padarias tem explicação. Para não perder os clientes, os empresários têm aumentado o valor dos itens em detrimento do pão.
“Quando você vê os preços médios na padaria você vê que tem aumentos considerados, como o leite e a própria manteiga, mas o pão em si as padarias têm tentando segurar os aumentos, porque se o dono da padaria aumentar ele acaba perdendo muito cliente. Então, ele tende a manter o preço do pão até pelo preço de custo e prefere ganhar no preço do pão integral e refrigerante, por exemplo”.
Preço salgado
Veja quais foram os reajustes no preço das padarias em Belo Horizonte
Trivial
Produto / preço médio / variação em 12 meses
Pão Francês (kg) / R$ 15,40 / 9,97%
Pão Doce (kg) / R$ 18,07 / 13,15%
Pão Sovado (kg) / R$ 20,39 / 8,43%
Pão de Forma Seven Boys / R$ 7,96 / 5,84%
Pão de Forma Wickbold / R$ 7,75 / 10,97%
Manteiga Itambé (500g) / R$ 24,70 / 14,89%
Margarina Qualy (500g) / R$ 7,72 / 5,28%
Leite Itambé / R$ 5,01 / 15,88%
Leite Cotochés / R$ 4,61 / 9,80%
Leite Tipo C Saquinho / R$ 3,82 / 5,65%
Lanche
Produto / preço médio / variação em 12 meses
Mortadela (kg) / R$ 22,82 / 6,60%
Presunto (kg) / R$ 34,46 / 16,76%
Mussarela (kg) / R$ 41,84 / 33,83%
Cafezinho / R$ 1,28 / 2,90%
Pingado/ R$ 1,67 / 7,05%
Café c/ Leite / R$ 2,32 / 5,95%
Pão c/ Manteiga / R$ 2,05 / 4,23%
Pão de Queijo / R$ 2,60 / 4,30%
– O pão de sal pode custar entre R$ 11,49 e R$ 19,90
– Já o pão doce pode custar de R$ 11,49 a R$ 32,40, o quilo
Fonte: Mercado Mineiro e O Tempo