(Por Arnaldo Silva) A palavra folclore vem do inglês, folk-lore, significa a expressão oriunda do povo expressos em causos, lendas, canções, costumes, que são preservadas ao longo dos séculos, se transformando em tradição, dando identidade a uma comunidade, uma cidade, uma estado ou um país. Por sua vocação de preservar e conservar suas tradições, Minas Gerais é o mais rico estado brasileiro em tradição e identidade cultural, com sua riqueza e variedades cultural e costumes. Os folguedos populares são uma dessas tradições preservadas e vivas em Minas Gerais. (foto abaixo, grupo de Pastorinhas em Jaboticatubas, fotografado por Thelmo Lins)
Algumas manifestações folclórica mineiras, como a Folia de Reis e as Pastorinhas, tem como origem as tradições de Portugal, introduzidas no Estado no período do Brasil Colônia, com influência da cultura indígena e africana. Outras manifestações foram surgindo ao longo dos tempos, como o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, nascido nas senzalas de Ouro Preto com os escravos, numa mistura da religiosidade católica, com as crenças africanas. A festa se popularizou e se democratizou, sendo hoje uma das maiores manifestações religiosas e folclóricas de Minas Gerais. (na foto abaixo, de Elvira Nascimento, a Dança das Fitas em Ipaneminha, ditrito de Ipatinga MG)
A presença dos portugueses, introduzindo no estado sua cultura, religiosidade, arquitetura, artesanato, não recebeu influência ou adaptação apenas nos folguedos, mas também no artesanato, na música típica, na medicina popular, nas lendas criadas que acabaram fazendo parte do nosso folclore como o Caboclo D´água de Barra Longa, o Bicho da Carneira de Pedra Azul, a Loira do Bonfim de Belo Horizonte, dentre outras tantas lendas e claro, na nossa culinária culinária. Minas Gerais é uma impressionante mistura das culturas portuguesas, africanas e indígenas, manifestadas ao longo dos séculos, sendo determinantes para a formação de nossa identidade cultural.
Os mais populares folguedos em Minas Gerais: Congado
É uma das maiores manifestações folclórica e religiosas de Minas Gerais. No período da Escravidão, ss escravos eram proibidos de frequentar igrejas e também de manifestarem suas crenças de origens africanas. Por isso buscaram uma forma de expressar sua fé e sentimentos, sem serem proibidos. Assim surgiu o sincretismo religioso, que é a mistura das crenças africanas, com a crença católica. Como os escravos tinham simpatia por Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Nossa Senhora das Mercês e Santa Efigênia, começaram a sair às ruas usando roupas enfeitadas e tocando seus instrumentos de som, de origem africana, cantando músicas que lembravam suas origens, bem como seus sofrimentos como escravos, reverenciando esses santos. Com o passar dos anos, a festa foi se tornando popular, se democratizando, ganhando novos instrumentos musicais, cânticos novos e ornamentos nas vestimentas, passando a ser reconhecida pela Igreja Católica. (foto acima, de Alisson Gontijo do Reinado em Perdigão MG e abaixo de Arnaldo Silva em Bom Despacho MG)
Durante a festa, os grupos de tradição negra, como Moçambique, Catopés, Congo, Marujada, Caboclos, Marinheiros, Vilão e Candombe, se reúnem para preservar a tradição, sua dança e música, unindo a outros cortes formados por pessoas que por algum motivo, geralmente para pagar promessas, formam cortes de Reinado. A festa que começou com os negros, é hoje a festa de todos, sejam brancos ou negros, participando, reverenciando Nossa Senhora do Rosário e perpetuando em Minas Gerais, nos quase três séculos desse folguedo popular, uma das mais importantes festas populares do Brasil.
Catira
Muito popular em Minas Gerais, principalmente nas Regiões Central e Triângulo Mineiro, a catira é uma dança marcada pela batida dos pés e mãos de um grupo, formado por seis a 10 componentes, organizados em fileiras opostas.
Uma dupla de violeiros canta e toca modas de viola, dando ritmo aos passos. (foto acima de Gislene Ras, da dupla de violeiros do Grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG) É uma dança tipicamente interiorana, praticada por pessoas que vivem no meio rural. A própria vestimenta dos catireiros como, botas, calças jeans, camisa listrada, chapéus, já caracteriza a dança como sertaneja. Antes dançada apenas por homens, hoje conta com a presença de mulheres e crianças em grupos de catiras e até dançando em conjunto com homens. (foto abaixo, de Gislene Ras, grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG)
Sua origem é incerta, mas a acredita-se que tenha vindo da Europa ou da Oceania, introduzida em Minas pelos imigrantes europeus, no século 19. Há também quem afirme que a origem da catira seja indígena, adaptada pelos boiadeiros que iam tocando gado pelos rincões do nosso sertão. Os peões boiadeiros imitavam as danças indígenas e perceberam que com suas botas pesadas e duras, faziam barulhos interessantes nos assoalhos dos ranchos. Assim foram adaptando a dança, com o bater dos pés e mãos, originando a catira, um dos mais importantes folguedos de nosso folclore. Por não ter origem certa, a dança de catira é chamada de dança híbrida.
Na região Central de Minas, catira, no mineirês, significa trocar alguma coisa. Vamos catirar ou vamos dar uma catirada, pode ser dançar catira ou fazer uma troca de algum objeto por outro.
Folia de Reis ou Reisado
É um dos mais antigos folguedos europeus, introduzido no Brasil pelos portugueses e tradição preservada há séculos em todas as cidades mineiras e também do Brasil, sendo conhecido em outros estados por Reisado. A festa começa na véspera do natal e se encerra no dia 6 de janeiro, dia dedicado aos Santos Reis. (na foto acima de Luis Leite em Guaranésia MG) As companhias de Folias de Reis vão de casa em casa e conta com o mestre à frente, responsável pela cantoria e coordenação do grupo, auxiliado pelo contramestre, que é o responsável por recolher as doações, podendo também substituí-lo em alguma necessidade. Tem ainda a figura do embaixador, o responsável por pedir licença para entrar nas casas e cita profecias bíblicas sobre o nascimento de Jesus aos moradores.
Carregam estandartes, flâmulas, tocam instrumentos, cantam e dançam usando vestimentas coloridas e máscaras. Essa formação não é padrão, podendo ocorrer diferenças de acordo com a região, como por exemplo, a presença de membros das companhias simbolizando os três reis magos.
Pastorinhas
Um folguedo de origem portuguesa presente em Minas Gerais. São grupos de moças e meninas que saem vestidas como as pastoras portuguesas, visitando os presépios de casa em casa, cantando músicas de louvou ao Menino Jesus e Nossa Senhora. Em Minas Gerais a festa é popular (foto acima de Thelmo Lins com as Pastorinhas de Jaboticatubas MG), mas os grupos não são formados apenas por meninas e moças, como na tradicional festa portuguesa. Mulheres e senhoras também fazem parte do grupo de pastorinhas, visitando as casas, cantando, dançando e pedindo contribuição para ajudar no natal de crianças carentes da comunidade em que vivem.
Boi de Reis (ou Boi de Janeiro, Bumba-Meu-Boi etc.)
A origem desse folguedo é dos teatros medievais na Idade Média, na Península Ibérica. Seria uma mistura da Folia de Reis com o Bumba-Meu-Boi, iniciando no dia de Santos Reis, 6 de janeiro, se estendendo até o dia de São Brás, em 3 de fevereiro. Usando trajes coloridos e máscaras, cantam e dançam visitando as casas e principalmente fazendas. Muito comum na região Norte de Minas, caracteriza-se pela representação da captura de um boi, que neste folguedo representa a fartura. Na encenação, o boi morre e por fim ressuscita. Sua ressurreição é acompanhada de muita alegria, dança e cantoria. É um dos mais populares folguedos de nosso interior, cujos nomes e elementos que compõem a cena, podem variar de acordo com as diferenças regionais. (na foto acima de Pingo Sales, Bois de Reis em Januária MG)
Festa do Divino
Consagrada ao Divino Espírito Santo, é um dos mais antigos folguedos portugueses, introduzido em Minas nos tempo dos Brasil Colônia. A tradição é preservada em Minas Gerais há mais de 300 anos, principalmente em Diamantina MG, Alto Jequitinhonha, onde a festa é chamada também de Festa do Império. Durante a festa em Diamantina, é eleito um Imperador, no caso o próximo festeiro. A côrte, com o Imperador e Imperatriz, sai pelas ruas da cidade histórica em cortejo acompanhado por grupos folclóricos e populares. A Festa do Divino Espírito Santo ou Festa do Imperador, é tão importante para cidade que foi declarada Patrimônio Imaterial de Diamantina, junto com a receita do tradicional bolo de arroz, servido durante a festa. (na foto acima de Projeto Acervo Diamantina – Fragmentos Visuais da Cidade no Século XXI, festa do Divino em Diamantina MG)
Cavalhada
Presente em todas as regiões mineiras, a Cavalhada é uma herança das tradições da Cavalaria Medieval. Representa as sangrentas batalhas travadas entre cristãos e mouros na Idade Média. Nesse folguedo, os cavalos são decorados com finos tecidos bordados e cheios de babados. As cores predominantes usadas são o azul e o vermelho, representando os cristão e mouros. Acontece ao ar livre e durante a festa são eleitos reis, rainhas, príncipes e princesas, embaixadores, capitães e tenentes, nobres, damas, cavaleiros e lacaios, todos ricamente vestidos e portando espadas, pistolas e lanças, fazendo manobras com os cavalhos, simbolizando a cena medieval. (foto acima de Ane Souz da Cavalhada em Amarantina, distrito de Ouro Preto MG)
Mulinha de ouro
Mulinha de Ouro é um folguedo popular na região do Médio e Baixo São Francisco. É a dança de um animal, geralmente uma mula, mas também usa-se a representação de boi, que dança e faz coreografias no meio do povo. (foto acima de Themo Lins em Pedra Azul MG)
Dança de São Gonçalo
Tradicional em Portugal desde o século XIII onde era conhecida também por Dança das Regateiras, porque só participavam as mulheres que queriam se casar, a Dança de São Gonçalo foi introduzida no Estado pelos portugueses, passando a fazer parte do nosso folclore, mas com características próprias. A dança é realizada no dia da morte do santo (10/01/1259) e em outras épocas também, caso as devotas consigam alguma graça ou façam alguma promessa durante o ano. Assim sendo, juntam o grupo para dançar e rezar, pedindo ou agradecendo pela graça. Em Minas, a Dança de São Gonçalo é muito comum no Norte do Estado e Jequitinhonha.
Os grupos festeiros de São Gonçalo são formados apenas por mulheres, todas vestidas de branco que fazem coreografias segurando um arco de madeira, enfeitado com plumas brancas. As mulheres dançam e cantam em honra ao santo, podendo ter ao centro a figura de um homem, também vestido de branco, que simboliza São Gonçalo.(na foto acima, de Pingo Sales, Dança de São Gonçalo em Januária MG)
Quadrilha
É um dos mais populares folguedos no Brasil, também chamada de quadrilha caipira e quadrilha matuta. De origem européia a festa homenageia São João Batista, Santo Antônio e São Pedro, em junho. As festas de junho surgiram das coutry-dances inglesas medievais no século XIII, ainda no período da Guerra dos 100 anos, entre Inglaterra e França, a dança acabou sendo incorporada e adaptada ao estilo francês expandida para outras partes da Europa, entre eles Portugal, que trouxeram a tradição européia para o Brasil nos tempos do Brasil Colônia.
Os passos da dança que para os franceses chama-se “contredance” são todos falados em francês, “abrasileirado” como quadrille (quadrilha), Alavantú (en avant tous), Anarriê (en arrière), Changê (changer/changez), Cumprimento ‘vis-à-vis’, Otrefoá (autre fois), Balancê (balancer), Returnê (returner), Tur (tour).
A diferença é que no Brasil a “Contredance” francesa recebeu uma mistura de cores, sabores e estilos de todas as regiões do Brasil, de acordo com suas diferenças culturais. Outra diferença é a música. A música brasileira, a encenação do casório e as coreografias, são bem mais animadas.
É sem dúvida uma das mais aguardadas festas populares do Brasil e que marca a infância de muita gente.
Quem nunca fez parte das quadrilhas das escolas? Se vestiu de caipira, pintou o rosto e ensaiava na hora do recreio? Mas as festas juninas hoje vão além das escolas. São verdadeiros espetáculos, principalmente em Belo Horizonte, com o tradicional Arraiá de Belô, no forró de Curvelo na região Central de Minas, em Ingaí no Campo das Vertentes com a maior fogueira de São João (na foto acima de Gilson Nogueira), em Cachoeira de Minas no Sul do Estado com a maior fogueira de São Pedro, em Mesquita no Vale do Jequitinhonha e em todo o Vale do Mucuri, destacando as cidades de Pavão e Teófilo Otoni.
Caxambu
Caxambu, na língua africana é o tambor maior e principal usado nas manifestações afro-brasileiras. Em Minas Gerais, é o nome dado a uma cidade do Sul de Minas e a uma dança de origem africana, também conhecida por Jongo, em alguns estados. Essa dança foi introduzida no Brasil e em Minas Gerais pelos negros bantos, sequestrados na África e vendidos no Brasil como escravos. No Brasil, a dança se popularizou, principalmente nas senzalas das fazendas de café de Minas e do Rio de Janeiro, tendo tido grande influência na formação do samba carioca, bem como da nossa cultura em si. Nessa dança, homens e mulheres formam pares e dançam, enquanto outros tocam instrumentos de percussão. As mulheres usam vestidos longos, coloridos, rendados e fazem movimentos charmosos com o corpo e vestidos. Os homens acompanham, com evoluções mais fortes.
Maneiro o pau
Também chamada de Mineiro-pau, é uma dança muito popular na Zona da Mata Mineira, com a participação de várias pessoas, enfileiradas, lado a lado, de frente para o outro, dançando segurando um ou dois bastões, de forma ritmada, com várias batidas, dependendo das evoluções do grupo.