Região Central de Minas reserva maravilhas do Barroco, além de belezas naturais exuberantes temperadas pela culinária mineira. E tudo pertinho de BH
Maio chegou e, com ele, o friozinho gostoso das tardes e manhãs, a bruma tomando conta da paisagem, as montanhas de Minas ainda mais reluzentes ao sol do outono. Nas cidades da Região Central, ao longo da Estrada Real, os visitantes encontram tesouros dos tempos coloniais localizados bem à flor da terra, num convite às trilhas, e ao pé das serras, sempre com descobertas: igrejas, capelas e mosteiros do século 18, casario nas cores azul e branco, ruas de pedra, ladeiras a perder de vista, tudo imerso na religiosidade do povo, temperado pela gastronomia única e mergulhado na hospitalidade reconhecida internacionalmente.
Dois municípios, Ouro Preto – o primeiro do país (1980) reconhecido como patrimônio mundial pela Unesco, com seus 12 distritos, entre eles Lavras Novas –, e Catas Altas, onde fica o célebre Santuário do Caraça, emoldurado pela serra de mesmo nome, merecem a visita dos brasileiros e estrangeiros que têm Minas como destino.
Em qualquer estação, especialmente outono e inverno, o calor da acolhida se soma aos sabores preparados no fogão a lenha, a exemplo de frango ao molho pardo, com quiabo ou ora-pro-nóbis, lombo de porco seguindo receitas de família, e aguardentes cheias de história.
A tricentenária Ouro Preto, ex-Vila Rica, a 95 quilômetros de BH, já está fervilhando de turistas depois do longo período de restrições impostas pela pandemia. Neste fim de semana (13 a 15), haverá o Festival de Cozinha, Arte e Cultura, na Praça da Ufop (Rua Diogo de Vasconcelos, s/nº, no Bairro Pilar), com shows e encontro de carros antigos.
No passeio pelo Centro Histórico, o visitante vai admirar ícones da história de Minas, templos da espiritualidade e referências da arquitetura barroca.
Um dos monumentos mais importantes está na Igreja São Francisco de Assis da Penitência, no Largo do Coimbra (espaço que abriga uma feira de artesanato, especialmente objetos de pedra-sabão). Em 2011, a igreja, que tem projeto arquitetônico de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), e pinturas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), recebeu oficialmente a certificação como uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo.
Bem cultural tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Igreja de São Francisco de Assis começou a ser erguida em 1766, e Aleijadinho foi o responsável também pelo risco da portada, púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor.
No último dia 29, dentro das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, o adro da igreja foi palco da ópera “Aleijadinho”, produção da Fundação Clóvis Salgado.
Não menos espetacular, a Igreja Nossa Senhora do Carmo, também protegida pelo Iphan (responsável pelo tombamento do Centro Histórico de Ouro Preto, em 1938), teve sua construção iniciada em 1756 e está ligada “à considerável contribuição de três grandes mestres: Manuel Francisco Lisboa, o seu filho Aleijadinho, e Ataíde”, conforme está no livro “Igrejas e capelas de Ouro Preto”, organizado por Paulo Lemos e com textos de Alex Fernandes Bohrer e Mauro Werkema.
Os autores registraram: “Por ser uma igreja pertencente ao período rococó, em seu interior encontramos uma ornamentação mais comedida, característica típica da época. Porém, esse fato em nada anuvia a notável produção artística do templo”.
Lavras Novas, a 15 quilômetros do Centro de Ouro Preto, é outro tesouro das montanhas de Minas. No ano passado, de acordo com a premiação Travellers Review Awards 2021, da plataforma de reservas on-line Booking.com, o distrito ficou entre as 10 localidades mais acolhedoras do país.
Não visitar a Igreja Nossa Senhora dos Prazeres é um pecado.
Erguida no início do século 18, a joia de Lavras Novas tem a fachada característica dos primeiros templos mineiros, com frontão triangular simples, sem ornamentação decorativa. As torres, em telhadinho, são comuns no período, registraram Bohrer e Werkema.
“Internamente, a igreja ostenta um conjunto singelo, com três altares que, pela tipologia, não podem ser enquadrados numa tipologia construtiva precisa (…) O templo, apesar da humildade, apresenta interessantíssimo valor paisagístico, localizado no alto de uma colina, onde foi construída a pequena cidadela.”
Em Catas Altas, a moldura de pedra
Já aos pés da Serra do Caraça, os visitantes devem conhecer a Matriz Nossa Senhora da Conceição, tombada pelo Iphan desde 1937, que abriga obras de Aleijadinho e Ataíde.
Conforme os estudos, a edificação começou em 1729 em substituição a uma pequena capela, demolida por não comportar mais o número de fiéis.
As características arquitetônicas remetem à segunda fase do Barroco mineiro: paredes de taipa de pilão, alicerces de alvenaria de pedra, frontispício rígido e presença de elementos ornamentais em cantaria. Quem vai à igreja não deixa de fotografar os arcos externos emoldurando a Serra do Caraça.
JOIAS BARROCAS
1) Em Ouro Preto
- Igreja São Francisco de Assis da Penitência, eleita uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo
- Igreja Nossa Senhora do Carmo, também no Centro Histórico, traz a marca de três mestres do Barroco mineiro
- Dica: Em Ouro Preto, conheça o recém-inaugurado Museu Boulieu – Caminhos da Fé, com mais de mil peças barrocas de todo o mundo. Rua Padre Rolim, 412, perto da Praça Tiradentes
2) Lavras Novas, distrito de Ouro Preto
- Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, erguida no século 18, traz, na fachada, características dos primeiros templos coloniais mineiros. O templo fica aberto apenas para celebrações religiosas, portanto, para conhecê-lo, só indo à missa.
- Dica: Lavras Novas está entre as 10 localidades mais acolhedoras do país. Portanto, aproveite bem as pousadas, os bares e passeios na região
3) Catas Altas
- Matriz Nossa Senhora da Conceição, tombada pelo Iphan em 1937, apresenta obras dos mestres Aleijadinho e Ataíde
- Dica: A 37 quilômetros do Centro de Catas Altas fica o Santuário do Caraça, da Província Brasileira da Congregação da Missão. Passeio obrigatório a um paraíso ambiental, paisagístico, histórico e arquitetônico
Movimento crescentede turistas
Dados divulgados ontem pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) mostram bastante movimentação nos aeroportos mineiros: pousos e decolagens foram 27% superiores em fevereiro em relação ao mesmo mês no ano passado.
Já o fluxo de passageiros registrou aumento de 30% no comparativo entre os dois períodos. Quanto à taxa de ocupação hoteleira, foi de 43% em fevereiro de 2022, 9,3 pontos percentuais acima do registrado no mesmo período do ano passado, enquanto no setor de emprego foram geradas 23,8 mil vagas em atividades relacionadas ao turismo entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022.
Minas foi o estado com maior número de municípios registrados no Mapa do Turismo Brasileiro: 567 municípios, informa a Secult.
FONTE ESTADO DE MINAS