3 de maio de 2024 08:39

Fio da vida: pacientes relatam o medo e angústia do possível fechamento da clínica de hemodiálise; “para onde vamos”, desabafam

“As autoridades deviam vir aqui para ver o que nós passamos e sentir a dor do outro”. Assim desabafou a moradora de Congonhas, Vanessa Goiana, de 42 anos, que há 2 anos é paciente da Clínica Santo Antônio, em Lafaiete. Ela faz 3 sessões semanais e relata o drama quando soube da possibilidade do fim das atividades. “Comecei a chorar quando fiquei sabendo. São nossas vidas. Nossa vida está aqui e isso não pode acontecer”, frisou a paciente que sofre de problemas renais e outras doenças crônicas. Ela chegou a clínica de hemodiálise eram por volta das 5:30 da manhã desta quarta-feira (31) para fazer a sessão quando nossa reportagem esteve no local a pedido de pacientes para mostrar a realidade vivenciada diariamente pelo grupo de diálise.
A dor e o drama afligiram os pacientes quando souberam da situação financeira que se abate sobre a clínica. A alta de insumos e os baixos valores repassados pelo SUS podem comprometer o tratamento daqueles que carregam a esperança de dias melhores e condições dignas e necessitam da clinica para manter a vida.
A realidade da Clínica Santo Antônio é bem idêntica a tantas outras espalhadas pelo Brasil afora e lutam para manter os serviços especializados e de alto custo.
Mesmo diante da ameaça de suspensão das atividades divulgada em carta aberta em março desde ano, pouco se avanço em busca de uma alternativa para sustentabilidade financeira da clínica. O serviço é mantido, mas ninguém sabe até quando.
“É um clima que nos deixa apreensivos e gente precisa do tratamento. São vidas e a gente tem os nossos sonhos. Ficamos pensando para onde vamos se a clínica fechar mesmo suas portas”, pontuou Márcia Júnia Faria, que percorre quase 150 km entre Piranga a Lafaiete, 3 vezes por semana.
“A gente sai da clínica fragilizados já que é um tratamento muito agressivo e sem contar com alta carga de medicamentos. Saímos daqui debilitadas e já pensou termos que ir a para Belo Horizonte? Seria muito sacrificante e muitos pacientes idosos não suportariam esta viagem”, assinalou Vanda, de 65 anos, morador de Gagé, em Lafaiete. “Dependemos da clínica para continuar a viver”, completou emocionada.
Ao todo são cerca de 50 funcionários que atuam na unidade de diálise e as incertezas também atingem seu trabalho. “A possibilidade de fechamento tomou os pacientes abalando o lado emocional. Só quem passa por este tratamento sabe o quanto mexe com eles. Então é preciso olhar com carinho para este grupo. A clínica oferece o melhor para aqueles que dependem dela. Mesmo com esta crise, nunca atrasaram nossos pagamentos e não faltaram medicamentos e insumos. Temos que ser fortes e a gente teme sim pelo futuro da nossa única clínica de diálise em Lafaiete e região. As autoridades deveriam se colocar no lugar deles e vivenciar o drama dos nossos pacientes”, comentou o Fabrício Silva, enfermeiro que atua na clínica há 10 anos.
Fábio Alencar, morador de Lafaiete, de 38 anos, está há 3 anos em tratamento e elogia o atendimento da clínica. “Somos acolhidos com afeto e respeito. Todos aqui são grandes profissionais que nos auxiliam neste momento de muita dor e agonia que passamos na diálise. Temos um café da manhã e os médicos e enfermeiros nos atendem com muito carinho nesta hora que mais estamos debilitados”, assinalou.
Mas o grande desejo alimentado pelos pacientes é o transplante. “A gente tem um sonho de um dia poder ser contemplado com o transplante. Grande parte aqui está na fila, mas é algo bem distante e, enquanto aguardamos esta graça, vamos mantendo firmes nossa esperança e acreditando sempre na vida que Deus nos ofereceu. Enquanto houver esperança vamos lutar pela vida”, analisou Márcia.

A clínica

A Clínica Santo Antônio atende pacientes de mais de 15 cidades da região. Os pacientes que diariamente vão a clínica recebem o transporte da prefeitura e custo de tratamento é do SUS. Apenas 8% são particulares.
São realizadas cerca de 1900 sessões/mês, com o custo de R$279,88, mas o repasse do SUS é de apenas R$194,20;
✓A instituição está endividada e com dificuldade de honrar seus compromissos;
✓ A hemodiálise consiste em 3 sessões semanais de 4 horas de duração cada;
✓Caso a clínica venha a fechar, o lugar mais próximo da região que realiza esse procedimento fica a 100 km daqui e não há vagas.

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