Bora percorrer as belezas da Estrada Real, um dos caminhos mais incríveis do Brasil. A rota fica predominantemente no Estado de Minas Gerais, mas também inclui destinos do Rio de Janeiro.
A Estrada Real é um ótimo roteiro para quem curte road trips, incluindo destinos e cidades históricas como Ouro Preto, Tiradentes e São João del-Rei. Em cerca de 6h30 de carro a partir de São Paulo ou menos de 2 horas a partir de Belo Horizonte, é possível chegar nos destinos da Estrada Real.
Para realizar essa rota, nós recebemos um convite do Instituto Estrada Real e do blog Dentro do Mochilão para participar de uma fam trip pela Estrada Real.
A notícia foi recebida com muita satisfação, não somente pela felicidade de participar de uma viagem organizada por quem entende profundamente do destino, mas também pela oportunidade de viajar com alguns dos melhores blogueiros de viagem.
Muito além de transmitir dicas ou informações práticas da Estrada Real, vamos tentar também trazer um pouco das emoções dessa viagem, que não foram poucas.
Confira a seguir os mapas, caminhos e principais cidades da Estrada Real.
Caminhos da Estrada Real – 5 Lugares Imperdíveis em Minas Gerais
Conheça algumas experiências inesquecíveis por quem percorre os Caminhos da Estrada Real
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Para quem não conhece, a Estrada Real é a rota utilizada desde o século XVII para escoamento de ouro e diamantes de Minas Gerais até o litoral.
Os caminhos do ouro começavam em Ouro Preto (na época Vila Rica). O primeiro caminho (Caminho Velho) desembocava em Paraty, posteriormente sendo alterado para uma rota que levava os valores até a capital do Rio de Janeiro, tornando-se esse o Caminho Novo. Posteriormente, a Estrada Real se estendeu até Diamantina, formando o Caminho dos Diamantes.
A Estrada Real é a maior rota turística do Brasil, composta de mais de 1.600 quilômetros de extensão (aqui inclusos o Caminho Velho, Caminho Novo, o Caminho dos Diamantes e o Caminho do Sabarabuçu).
Como era de se esperar, nossa viagem de 6 dias não conseguiria englobar toda a extensão da Estrada.
Mapa da Estrada Real
O recorte proposto procurou abranger aspectos diferentes da rota, que incluíram desde o patrimônio histórico e cultural, até trilhas pela natureza. Alguns destinos mais espirituais, outros mais aventureiros, outros finalmente mais culturais, enfim, um pouco de tudo o que a Estrada Real tem para mostrar.
A viagem foi incrível e teve inúmeros momentos divertidos e emocionantes, portanto sugiro ficar de olho nos próximos posts. Para o momento, vamos identificar os 5 momentos mais marcantes de nossa viagem pela Estrada Real, em lugares incríveis que individualmente já valeriam a viagem.
Roteiro Completo
- Dia 1: Chegada em Belo Horizonte e estrada para o Santuário do Caraça com pernoite na Pousada do Caraça
- Dia 2: Ouro Preto e Mariana com pernoite em Ouro Preto
- Dia 3: Lavras Novas com pernoite na Pousada Buieiê
- Dia 4: Tiradentes com pernoite em Tiradentes
- Dia 5: Carrancas com pernoite em Tiradentes
- Dia 6: São João del-Rei e retorno a Belo Horizonte
Esse roteiro ficou bem corrido, então nossa sugestão é pelo menos aumentar um dia em Ouro Preto.
Agora se você estiver com sorte e tempo disponível, cada um desses destinos merece pelo menos duas noites de hospedagem.
1 – Santuário do Caraça
Nosso primeiro dia de viagem foi bem cansativo: avião e muita estrada. No final da tarde chegamos no lugar de nosso primeiro pernoite: o Santuário do Caraça. Nem nas minhas melhores expectativas poderia imaginar um lugar tão surpreendente.
Assim que desembarcamos da van no Santuário do Caraça, para onde quer que eu olhasse, eu enxergava alguma beleza. Em contrapartida, o dia estava quase terminando, e fiquei tenso se naquele curto espaço de tempo que separa o dia da noite, eu conseguiria registrar todas as belezas que eu estava vendo.
Acho que minha preocupação não estava sozinha. Quando eu vi, os outros blogueiros que participavam da viagem, saíram cada um para um lado, máquina fotográfica em punho, registrando todas as belezas que encontravam no caminho.
Cada um registrou o Santuário do Caraça com seu olhar, e tenha certeza, mesmo que tenhamos passado pelos mesmos lugares, cada um enxergou (e fotografou) o Caraça sob sua perspectiva particular.
E sabe aqueles lugares que você não espera nada, são justamente os que mais te surpreendem. Cheguei sem saber sequer o que era o Santuário do Caraça, e saí de lá querendo voltar e compartilhar tudo o que eu vivenciei. Mesmo não sendo religioso, mesmo num lugar em que a internet não pega e mesmo num movimento tão díspar da selva de pedra em que eu moro.
Para isso, uma placa no próprio lugar já avisa: “Aos que ficam: paz, saúde e harmonia (…) Entre no clima”.
O Caraça ainda nos reservou outros momentos únicos, como a visita do lobo-guará, o museu com móveis e artefatos antigos e o nascer do sol.
A História do Caraça
Para quem não sabe, o Santuário do Caraça foi fundado em 1774, começando com uma Ermida construída pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora. Essa Ermida foi utilizada até 1876, quando foi destruída para a construção da atual capela.
A explicação do nome Caraça tem 2 origens possíveis: o formato de um rosto (uma grande cara) em uma das montanhas da região (nessa tese há o problema de que o nome da região seria Serra da Caraça – já que cara é um substantivo feminino – e não Serra do Caraça, como é conhecida até hoje) ou a existência de um desfiladeiro da região (Caraça em tupi-guarani significa desfiladeiro). O importante é que por volta de 1770 o irmão Lourenço compra a sesmaria do Caraça e resolve aqui fazer um hospício e uma capela, como sinais de devoção a Nossa Senhora Mãe dos Homens.
Antes de morrer, Irmão Lourenço doou as terras para a Coroa Portuguesa para que seu trabalho tivesse continuidade. Em 1819, dois padres são enviados por D. João VI e começaram a conduzir trabalhos de expansão para que o Caraça fosse transformado em um Colégio, que perdurou até 1968, quando ocorreu um incêndio que encerrou as atividades.
Alguns anos depois do incêndio de 1968, o Caraça foi transformado no que é hoje, um “centro de espiritualidade e missão, de cultura e educação, de conservação ambiental, lazer e turismo” (Plano de Ação para o Caraça 2007 – 2012, p. 1).
É interessante saber que nos quartos onde dormimos, hoje transformados em acomodações para turistas ou peregrinos, um dia já dormiram estudantes célebres (até presidentes) e seminaristas. A simplicidade das acomodações ainda permite que essa influência do passado se torne sempre presente.
Destaques do Santuário
No interior da igreja, o destaque fica para toda a concepção neogótica, que ao contrário do barroco, busca a aproximação do homem a Deus através da racionalidade, principalmente através das luzes que entram no ambiente interno através dos vitrais.
Um dos destaques internos é o quadro “A Ceia”, do Mestre Ataíde (1762-1830).
No jardim externo, uma das curiosidades é que os padres tem o costume de colocar alimentos para os animais da região. Como já dissemos no início do post, pipocas são colocadas para atrair os pássaros.
Mas um dos principais atrativos mesmo do Caraça são as carnes e frutas colocadas no adro (área externa cercada das igrejas) para alimentar o lobo-guará.
A aparição do Lobo-Guará
Quando ficamos sabendo que o lobo-guará aparece nas noites do Caraça, todos ficamos ansiosos para vê-lo. A aparição, porém, não é garantida. Já estávamos planejando passar a noite no adro para garantir que veríamos o bicho. E não é que quando eu estava passando em direção do refeitório para jantar, às 19h, o lobo simplesmente aparece.
Assim que o lobo sobe as escadas e chega no adro, surge uma pequena tensão. O Padre Lauro nos adverte para aguardarmos um pouco que o lobo ganhe confiança, para então começar a tirar as fotos.
Nada de assustar os animais do Caraça. Ficamos todos em silêncio absoluto, o lobo se aproxima lentamente da bandeja de comida, e afinal começa a se alimentar. Vez por outra ele olha para o exterior do Santuário, desconfiado. Curioso é que nossa presença é indiferente ao lobo, ele se alimenta tranquilamente, apenas olhando de vez em quando para fora, como se temesse a aproximação de algum concorrente.
Os flashes começam a disparar. No meu caso, ainda tentei bater fotos sem flash, mas a iluminação por ali é precária.
Depois de observar o lobo, ele afinal desceu as escadas e sumiu na escuridão da área externa do Caraça. Fomos jantar e como alguns dos blogueiros ainda não tinham visto o lobo, no retorno do jantar sentamos todos nos degraus da igreja e ficamos aguardando que o lobo-guará retornasse. E não é que ele apareceu novamente.
Não foi uma aparição rápida. O lobo ficou bastante tempo ali se alimentando, para o deleite de todos nós, que tiramos várias fotos.
No final da noite, ainda rola um chá com pipocas, onde conversamos um pouco com o Padre Lauro sobre a história do Caraça.
O Centro Histórico
No café da manhã, o destaque fica para deliciosos pães de queijo quentinhos. Mas o café tem outras opções igualmente saborosas, entre elas o próprio hóspede pode preparar uma tapioca numa chapa quente à disposição dos visitantes.
O Caraça guarda muita história para contar. No período de uma noite e uma manhã que passamos por lá, ficamos muito interessados por algumas dessas histórias, como o empenho de Irmão Lourenço na construção do santuário, o incêndio de 1968 (alunos e padres arriscaram suas vidas para salvar parte do acervo da biblioteca) ou o modo como os alunos viviam no Colégio.
O centro histórico do Santuário do Caraça é composto da Igreja Nossa Senha Mãe dos Homens, do Claustro, das Catacumbas, as ruínas do antigo Colégio transformado em Museu, a Biblioteca (que guarda acervo de 30 mil obras entre elas 2.500 obras raras), o Jardim, o Calvário e uma Capelinha.
Nas fotos abaixo, vemos as ruínas do Colégio e as camas de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, que estiveram hospedados no Caraça de 11 a 13 de abril de 1881. Nesse link, você encontra o diário de Dom Pedro II durante sua passagem pelo Caraça. “Só o Caraça vale toda a viagem a Minas Gerais”, essa frase atribuída a Dom Pedro II está afixada nos corredores do Caraça.
Isso foi só um pouco do que conhecemos por lá. O Santuário é uma reserva de patrimônio natural, com diversas trilhas de curta, média e longa duração, que podem ser feitas sem acompanhamento ou acompanhadas de guias credenciados, dependendo do grau de dificuldade das trilhas. Infelizmente não tivemos tempo de fazer nenhuma das trilhas, mas vontade não faltou.
Pousada do Caraça
O antigo Colégio foi transformado em pousada em 1970 e conta com 42 apartamentos, 8 quartos com banheiros externos e algumas casas, comportando até 190 pessoas. A diária é em regime de pensão completa e também inclui o acesso às trilhas da Reserva Natural.
As reservas devem ser feitas pelo telefone (31) 3837-1939 (de segunda a sexta, das 8h às 16h), ou pelo e-mail [email protected]. Atenção, a Pousada adverte que a procura é grande, portanto reserve com antecedência. Para valores de diária, consulte o site da Pousada, pois há diferentes preços conforme a quantidade de pessoas em cada quarto e a ala em que se fica hospedado.
Santuário do Caraça – Como Chegar
- Para chegar ao Caraça, deve-se pegar um ônibus para a cidade de Santa Bárbara (pela Viação Pássaro Verde, R$ 11,85, com alguns horários diários).
- A partir de Santa Bárbara, não existe transporte público até o Caraça, portanto sem carro, a melhor saída é pegar um táxi (R$ 90,00).
- Leia mais detalhes no site do Santuário.
O interessante é que o Santuário do Caraça é um lugar totalmente diferente de mim. Talvez pelos contrastes, a experiência no Caraça tenha me fascinado tanto. Nas viagens, quanto mais diferentes os lugares são de nós, mais temos a aprender com eles e nos modificar. “Entre no clima!”
FICHA TÉCNICA:
Título: Santuário do Caraça
Direção: Catas Altas/MG
Roteiro: Belo Horizonte, Santa Bárbara (Brumal), Santuário do Caraça
Fotografia: Fábio Pastorello
O melhor: estar num lugar cheio de história e também num espaço de muita paz e contato com a natureza foi uma experiência incrível para mim, que passei apenas uma noite, imagino para quem tem a oportunidade de ficar mais tempo
O pior: o lugar é afastado, o que garante justamente a experiência de isolamento, mas não é a melhor opção para quem busca infraestrutura e variedade de opções durante a viagem
Ano: 2014
País: Brasil
Horário: todos os dias, das 8h às 17h00 (a taxa de visitação só é recebida até às 16h)
Preço: R$ 10,00 a taxa de visitação e R$ 20,00 o preço das refeições para quem não se hospeda no Caraça. Para os hóspedes, o regime é de pensão completa (café da manhã, almoço e jantar) e não há taxas adicionais
Gênero: História, Natureza, Religião
Avaliação: ★★★★★
2 – Ouro Preto e Mariana: Descida às Minas de Ouro
Se a Estrada Real era o caminho utilizado para levar o ouro até o mar, nada melhor e mais significativo nesse roteiro do que visitar uma mina de extração de ouro, localizada na estrada entre Ouro Preto (antiga Vila Rica) e Mariana, onde se concentram uma grande parte das minas da região.
Mas antes de visitar as minas de ouro, conhecer a história é fundamental em Ouro Preto.
E em Ouro Preto eu tive realmente essa certeza, de que estudar história viajando é uma experiência enriquecedora. Complementar aos livros e aos professores (e história era a minha matéria preferida na escola), estar lá ao vivo é uma grande aula.
E se na escola quem conduz a história (e desperta a paixão) aos alunos é o professor, nos destinos turísticos, esse é o papel do guia de turismo. É a forma como ele conta essa história, os detalhes que apresenta, até mesmo as curiosidades divertidas (ou serão inventadas?) que despertarão a paixão de quem o escuta.
História de Ouro Preto
E o que não faltam em Ouro Preto são histórias. Por isso, ter um boa guia é essencial. O Instituto Estrada Real providenciou para nós o ótimo guia Afonso ([email protected]), que nos apresentou algumas das atrações locais.
Existem vários outros guias que oferecem seus serviços, basta parar na Praça Tiradentes que algum deles se aproxima. Mas assim como o professor de história, um guia ruim pode fazer você odiar a matéria a ser estudada.
Para escolher, fique atento à abordagem do guia ou, se preferir, consulte a Secretaria Municipal de Turismo de Ouro Preto (Praça Tiradentes 41 – Tel.: 31-3559-3269 ou Rua Cláudio Manuel 61 – Tel.: 31-3559-3287).
Nossa primeira matéria de estudo foi a Praça Tiradentes e o Museu da Inconfidência. Foi ali que Afonso começou a apresentar algumas das informações históricas (outras eu pesquisei na internet, veja as fontes no final do post).
A origem de Ouro Preto vem das pedras de ouro encontradas na região, que eram cobertas de uma fina camada de óxido de ferro. Quando descobertas, essas pedras deram origem a uma corrida atrás do ouro que, 30 anos depois da primeira descoberta, atraíram cerca de 40 mil pessoas para a região.
Mariana foi a primeira capital e posteriormente foram criadas outras vilas, entre elas Vila Rica. Em 1720, afinal, a capital foi transferida para Vila Rica, que posteriormente teria seu nome alterado para Ouro Preto.
A Corrida do Ouro
Durante o período de auge da extração de ouro, foram extraídas cerca de 5 a 7 toneladas de ouro que sustentaram os luxos da Coroa Portuguesa.
A partir de 1750, o ouro começou a se tornar menos abundante, o que gerou ações de fiscalização por parte da coroa (entre elas a criação da Estrada Real, trilhas outorgadas para escoar o ouro até Paraty – caminho velho).
Os impostos continuavam altos, não obstante a redução da produção, o que acabou gerando protestos e culminando na Inconfidência Mineira.
Um dos maiores heróis da história do Brasil, Tiradentes, fez parte desse movimento e foi único dos inconfidentes a receber uma punição mais severa. Foi enforcado no Rio de Janeiro, mas sua cabeça trazida até Vila Rica (Ouro Preto). Seus restos foram deixados por vários lugares do Caminho Novo da Estrada Real.
Visitar Ouro Preto é conhecer um pouco melhor a história desse “personagem” e de seu movimento.
No cinema, a história de Tiradentes foi contada por alguns filmes, entre eles o filme “Inconfidência Mineira” (Cármen Santos, 1948), “Tiradentes, o Mártir da Independência” (Geraldo Vietri, 1972, com Adriano Reys), “Os Inconfidentes” (de Joaquim Pedro de Andrade, 1972, com José Wilker) e finalmente o “Tiradentes” (de Oswaldo Caldeira, 1988, interpretado por Humberto Martins).
O último filme, com Humberto Martins, tem algumas cenas curiosas, como quando Tiradentes vai tirar satisfações com Aleijadinho porque o artista fez uma escultura usando a esposa de Tiradentes como inspiração. A cena é gravada na Igreja São Francisco de Assis, toda projetada por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Passaporte da Estrada Real
Durante a sua visita, não deixe de solicitar o passaporte da Estrada Real e garantir seu carimbo em Ouro Preto.
O passaporte da Estrada Real é uma iniciativa do Instituto Estrada Real. Você pode retirar o passaporte em Ouro Preto, Paraty, Petrópolis e Diamantina. Mas para retirá-lo, é preciso preencher um formulário online e levar 1 quilo de alimento não perecível ou 1 peça de roupa. Para mais informações, consulte o site do Instituto Estrada Real.
Mina da Passagem
A Mina da Passagem é considerada a maior mina de ouro aberta à visitação do mundo.
A visita começa de maneira muito especial. Entramos em um trolley que viaja por 315 metros de extensão e 120 metros de profundidade túnel abaixo. A descida no carrinho lembra o filme Indiana Jones e o Templo da Perdição (um dos meus filmes prediletos, principalmente na minha infância), em que os personagens se aventuram em um carrinho dentro de algumas minas em alta velocidade.
A descida na Mina da Passagem não é tão aventureira ou radical como no Indiana Jones (tudo é feito com bastante segurança para os visitantes), mas não deixa de ter seu grau cinematográfico e divertido. É pura adrenalina, principalmente para quem senta na frente.
Lá no fundo da mina, os caminhos impressionam, com suas enormes fendas, as rochas e as explicações do guia que nos acompanhou pela visita.
No final do passeio, encontramos um lindo lago subterrâneo com águas transparentes.
3 – Lavras Novas: Adrenalina no Quadricross
Em nosso terceiro dia de viagem pela Estrada Real, partimos de Ouro Preto para Lavras Novas (distrito de Ouro Preto), passando pelo Povoado de Chapada.
É hora de abandonar o carro e partir para diferentes formas de explorar a Estrada Real. A primeira foi uma trilha a pé de 5 km, um dos poucos trechos em que não se anda de carro na Estrada Real.
Tudo bem que Ouro Preto já é uma cidade em que é possível respirar história por todas as suas ruas e igrejas, mas chegar no simpático povoado de Chapada é como voltar no tempo. Um pequeno vilarejo (pequeno mesmo: tem 500 metros de extensão e nele habitam menos de 100 pessoas), cercado pela natureza das Serras da Chapada e do Trovão.
Embora as construções sejam antigas, como a capela do século XIX, o destaque mesmo fica para a natureza. Para entrar em contato com ela, nada melhor do fazer uma boa trilha.
Povoado de Chapada – Como Chegar
O vilarejo da Chapada está distante cerca de 15 km de Ouro Preto. Veja o mapa com a localização de Ouro Preto, Chapada e Lavras Novas. O acesso até Chapada é por estrada de terra, mas o caminho se encontra em boas condições.
Antes de partir para a trilha até Lavras Novas, resolvemos registrar o grupo reunido em frente à Capela de Santana. A capela possui um belo brasão na sua fachada, que data de 1883.
Aliás rolou uma foto e também rolou um pulo coletivo, difícil foi combinar para que todos pulassem ao mesmo tempo. Depois confiram o vídeo desse dia da viagem e vejam como foi.
Quem nos acompanhou durante a trilha foram a Daniele e o Rafael da Quadricross, empresa que seria responsável pela nossa aventura com rodas no período da tarde.
Roteiros Planilhados da Estrada Real
Para seguir os caminhos, o Instituto Estrada Real disponibilizou planilhas bem detalhadas.
Nelas você encontra todos os marcos da Estrada Real, o descritivo do trecho percorrido, as distâncias entre um marco e outro e o número da placa. Veja exemplo na figura ao lado.
Durante todo o trajeto fomos acompanhando nossa planilha e verificando o percorrido. Achamos a iniciativa excelente, quem dera que mais roteiros de viagem contassem com esse suporte.
Trilha de Chapada a Lavras Novas
Nossa trilha começou atravessando a Capela de Santana, no Povoado de Chapada, onde seguimos por caminho de terra até encontrar o primeiro marco da Estrada Real.
Os marcos estão presentes nos caminhos, pelo menos a cada 2 km ou sempre que houver uma bifurcação. Mas atenção, apesar dos marcos possuíram em sua ponta superior uma seta, não é ela que indica a direção que devemos seguir. A direção é definida pelo lado do caminho em que o marco está. Se o marco estiver no lado direito da rua/estrada/caminho, é preciso seguir à direita.
Na sequência, após cerca de 800 metros de caminhada, é preciso um pouco de atenção, pois em determinado momento não seguimos mais pela estrada de terra, mas por um caminho à esquerda. É ali de fato que começa a trilha. Visualize o caminho para Lavras Novas no mapa.
A trilha é bastante tranquila, em poucos momentos existem subidas, mas o nível da caminhada continua sendo fácil. No caminho, lógico, além de acompanhar as belas serras e vegetação do Parque Nacional de Itacolomi, a grande atração é encontrar os marcos pelo caminho.
A trilha pode ser feita a pé, de bicicleta ou a cavalo e pode ser feita tanto no sentido Chapada para Lavras Novas (como fizemos) como no sentido inverso.
Veja o caminho percorrido.
FICHA TÉCNICA:
Passeio: Trilha a Pé em Lavras Novas
Direção: Ouro Preto – Distrito de Lavras Novas/MG
Fotografia: Fábio Pastorello
O melhor: é o ponto ideal também para fazer sua foto com o marco da Estrada Real e uma bela paisagem de fundo.
O pior: durante o caminho, o tempo fechou um pouco, o que estragou um pouco a bela paisagem
Ano: 2014
País: Brasil
Avaliação: ★★★
Chegada em Lavras Novas
Depois de cerca de 1h30 com as paradas demoradas para fotos, chegamos em Lavras Novas. A cidade é um encanto, também pequena, mas dessa vez com cerca de 3.000 habitantes, construída na base da Serra do Trovão.
A origem do distrito, que faz parte da cidade de Ouro Preto, seria a mineração de ouro (lavras significa exploração de jazidas). Após o declínio da mineração, os mineradores abandonaram o vilarejo e os poucos que ficaram começaram a trabalhar com artesanato, que eram vendidos em Ouro Preto.
A maior tradição do artesanato local é a arte em taquara, extraída do bambu. Mas existem outros tipos de artesanato locais, e as lojas são bem originais na forma como decoram o distrito. Além da beleza e criatividade nas fachadas das casas, a tranquilidade impera.
Infelizmente começou a chover, sorte que na hora chegamos no restaurante Serra do Luar para almoçar.
O restaurante possui uma comida caseira e funciona em estilo self service. O ambiente do restaurante, que também funciona como pousada, também é bastante agradável.
Passeio de Quadriciclo em Lavras Novas
Chegou afinal a parte mais emocionante de nosso dia. Depois do almoço, seguimos para a sede da Quadricross, onde começamos a nos preparar para uma grande aventura. Para mim, aventura maior ainda.
A Quadricross oferece vários passeios pela região:
- Parque Nacional do Itacolomi
- Cachoeira do Castelinho
- Santo Antônio do Salto
- Cachoeira dos Prazeres
Os passeios possuem diferentes níveis de dificuldade e durações.
O passeio que fizemos foi até a Represa do Custódio, passando pela Cachoeira dos Namorados, circuito que leva aproximadamente 2 horas e possui nível de dificuldade fácil.
Mas antes de começar, preenchemos um termo de responsabilidade e vestimos nossos equipamentos de segurança para o circuito, como capacete e roupa própria para o passeio.
Inicialmente foi preciso fazer um treinamento na sede da Quadricross para que todos testassem o equipamento. Após algumas voltas de teste, partimos para a aventura.
Algumas Informações sobre o Quadriciclo
- O veículo requer um pouco mais de experiência na direção de carros, experiência que eu não possuo.
- De início foi um pouco atribulado, mas depois de um tempo eu peguei jeito no negócio.
- Mesmo para os mais experientes, trechos de subida em terreno super acidentado e outros de descida morro abaixo demandam maior atenção.
- O terreno é acidentado e em vários momentos é preciso bastante atenção.
- O roteiro que fizemos é o da Represa do Custódio, que tem 16 km e é percorrido em cerca de 2 horas.
- A equipe da Quadricross, em várias motocicletas, se multiplicou pelo trajeto para dar atenção a todos nós.
- Como é comum nos grupos, alguns têm mais facilidade e avançam na dianteira, outros (eu) com mais dificuldade dão um pouco de trabalho no caminho.
Cachoeira dos Namorados
A Cachoeira dos Namorados teria esse nome por causa da forma de coração encontrada na base da queda. Usando um pouco de criatividade você consegue ver. O sol reapareceu, mas a água continuava gelada.
O negócio foi criar coragem mesmo assim para tomar um banho, afinal ninguém deve dispensar um banho de cachoeira.
Represa do Custódio
Ponto final do nosso roteiro, a Represa do Custódio é uma tranquilidade só. As águas paradas da represa formam um belo espelho d’água.
A vontade de “quebrar” aquele espelho é incontrolável, e o pessoal começou a jogar pedras que quicavam nas águas.
Aproveitamos um banho em suas águas, que estavam bem geladas. Só é bom ficar atento, pois a tranquilidade das águas pode enganar e algumas pessoas já se afogaram na represa.
Hotel/Pousada em Lavras Novas
Depois das aventuras do dia, foi a hora de tomar um gostoso banho em uma pousada. Ficamos hospedados na Pousada Buieiê.
A pousada é cercada pela Serra do Trevão, e cercada não é força de expressão.
Quando abri a janela do quarto, que possui uma pequena varanda, encontrei a paisagem maravilhosa da serra.
Uma pena realmente que o tempo estava ruim e chovia muito, caso contrário poderíamos curtir um belo pôr do sol.
A pousada possui 15 apartamentos em estilo rústico. Com chuva, o melhor da hospedagem foi o café da manhã, uma delícia.
Jantar no Espaço Cultural Santo Graal
Outra opção bem legal para se fazer em Lavras Novas é conhecer o Espaço Cultural Santo Graal.
Muito mais do que um restaurante, o lugar é uma proposta de cultura, lazer e entretenimento na região. O ambiente remete todo à Idade Média, o que já deixa o lugar completamente cinematográfico.
No primeiro andar, existe um acervo de objetos antigos formando um mini museu.
No térreo, também há espaços para shows e apresentações culturais.
Além disso, a comida no restaurante Jacques de Molay é simplesmente deliciosa. A única coisa que eu não gostei muito foi que o lugar é bastante escuro, praticamente a luz de velas. Faz parte do clima medieval.
4 – Estrada Real: Caminhando pelas ruas de Tiradentes
Tiradentes, nosso destino no quarto dia de viagem, é encantadora e cinematográfica. Caminhar pela cidade é uma viagem ao passado e um grande respiro de história. Suas ruas de pedra e as casas de janelas e portas coloridas lembram muito Paraty, outra das cidades da Estrada Real.
Assim como Paraty, Tiradentes viveu um período de decadência ecônomica (no caso de Tiradentes após o fim da mineração), o que manteve sua arquitetura e natureza praticamente intocadas.
No entanto, quando o turismo começou a se desenvolver, a cidade sofreu com a especulação imobiliária e os imóveis do centro histórico de Tiradentes começaram a ser comprados por pessoas de fora da cidade. Tiradentes vive agora o desafio de manter suas tradições culturais.
Mesmo assim, a cidade mantém seu aspecto bucólico, cercada pelas montanhas da Serra de São José, o que garante um destino romântico e tranquilo para seus visitantes. É como voltar no tempo.
É irresistível escolher uma de suas portas e janelas coloridas para tirar uma foto. Fica sempre aquele receio de alguém abrir a porta de sua casa e nos surpreender tirando uma foto como se aquela casa fosse nossa. Nós escolhemos uma das fachadas que serviu de cenário não somente para uma fotografia do grupo reunido, mas também um vídeo para lá de divertido.
Tiradentes ainda nos reservava outras surpresas, num lugar que definitivamente eu pretendo voltar para curtir com mais tempo e explorar toda a sua arquitetura, atividades naturais e a vida noturna, repleta de bares e restaurantes charmosos.
5 – As cachoeiras de Carrancas
Nosso circuito em Carrancas, no quinto dia de viagem, foi o do Complexo da Fumaça. Quem nos levou foi a Carracas Eco Adventure. O circuito permite visitar várias cachoeiras em curto período e através de uma caminhada leve. Mas assim que iniciamos a trilha, começou a chover. Bateu aquela tristeza de passar por lindas cachoeiras com chuva. Mas como disse o nosso guia, é comum que todas as estações se façam presentes num mesmo dia, o sol logo voltou a abrir.
Um dos pontos mais especiais do circuito foi quando cruzamos a parte superior da Cachoeira Véu da Noiva, onde há uma pequena e rasa piscina natural, que fica quase na beira da queda. Para quem olha de longe, a paisagem pode parecer um pouco vertiginosa, mas chegar bem na beirada é bastante tranquilo e aproveitamos para tirar várias selfies nesse ponto.
Foi quando descemos a trilha em direção à base do Véu da Noiva, que o sol começou a brilhar, como se esperasse o momento certo em que estávamos passando por algumas lindas formações rochosas. Uma delas seria a origem do nome de Carrancas: de perfil a formação rochosa lembra a imagem da carranca de um índio.
Pode parecer irônico que justamente num circuito de cachoeiras, o momento que mais tenha me encantado seja um trecho somente com pedras. Mas existem momentos de viagem que encantam justamente pelo inusitado, e essa passagem na trilha foi um dos pontos altos do Complexo da Fumaça para mim.
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FONTE VIAGENS CINE