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Mulheres preservam tradições da cozinha mineira em quintais urbanos

Isabel Casimiro, Lucia Rodrigues, Simone Abrantes e Wanusa Aparecida dão sabor ao livro “O cheiro do gosto”, da fotógrafa, cozinheira e pesquisadora Luisa Macedo dos Santos

Quatro mulheres, de diferentes regiões de Belo Horizonte, ligadas por um amor em comum: a gastronomia. Isabel Casimiro, Lucia Rodrigues, Simone Abrantes e Wanusa Aparecida dão sabor ao livro “O cheiro do gosto”, da fotógrafa, cozinheira e pesquisadora Luisa Macedo dos Santos, mineira de estômago e paulista de nascimento.

Apesar de ter nascido em São Paulo, Luisa desenvolveu o paladar mineiro durante o convívio com a avó materna, que morava na região do Triângulo Mineiro. Vendo as plantações de diferentes legumes e vegetais na fazenda da família e acompanhando a avó cozinhar, ela entendeu o valor do alimento. Mais tarde, desabrocharia para o universo da culinária. Foi através da conexão com os pratos mineiros que surgiu a proposta do “O cheiro do gosto”, que aposta muito mais em imagens do que em palavras para contar a história das quatro mulheres.

Numa espécie de “cinema impresso”, o livro é recortado por imagens que falam. Imagens que descrevem a rotina de quatro mulheres que veem a comida além de alimentos, veem amor e aconchego. “Não uso tampa na panela, porque eu gosto de escutar a comida falando comigo”, relata Simone no livro.

Diferentemente dos tradicionais livros disponíveis no mercado, o “Cheiro do gosto” tem um recorte inovador. Em meio às belas imagens, as páginas levam o leitor a viajar pela gastronomia mineira e suas tradições. Revelam a resistência de quintais urbanos em contraste com a tendência de verticalização da capital mineira.

“Achei que seria importante trazer imagens e narrativas de quintais como espaços potentes, mas sem deixar de trazer para o debate os conflitos que o rodeiam, as questões sociais, o machismo e as muitas intolerâncias ligadas às mulheres que deles cuidam”, explica Luisa.

Antes do livro, Luísa dirigiu um curta-metragem sobre a mesma temática, chamado “Comida de Quintal”. “O livro deveria ter sido feito antes do filme, mas a pandemia atravessou o processo e acabei deixando a pesquisa do livro para depois, quando já estava bastante imersa na ideia das imagens em movimento, que acabaram por reverberar no modo como a obra se estruturou”.

Luísa começou a obra mapeando mulheres que estivessem em diálogo com a abordagem que queria dar ao livro: a dos quintais como um espaço de resistência.”Visitei os quintais diversas vezes, sempre propondo de fazermos juntas alguma receita que fosse importante para elas. Nesses encontros, eu registrava em fotografia e vídeo, mas sempre cozinhando junto com elas e fazendo desses momentos uma possibilidade de escuta e aprendizado”.

Pratos tradicionais de Minas Gerias são destaques no livro Luisa Macedo/Divulgação
Simplicidade e tradições se unem no livro “O cheiro do gosto” da fotógrafa e cozinheira Luisa Macedo Luisa Macedo/ Divulgação
Em meio a verticalização da cidade, o livro “O cheiro do gosto” chega como um protesto às tradições mineiras e valorização dos quintais de BH Luisa Macedo/Divulgação
Na foto angu de banana verde, com bolinho de cará moela e frango caipira ilustram os pratos feitos no quintal de dona Lúcia Luisa Macedo/Divulgação

Histórias conectadas

Desses encontros, formou-se o livro. Nele, somos apresentados a Isabel, a Belinha, que transforma o Reinado 13 de maio, no Bairro Concórdia, em um importante território de proteção material e imaterial do congado, um patrimônio simbólico mineiro. Conhecemos Lucia, que mantém uma horta agroecológica na ocupação Tomás Balduíno, no Bairro Areias.

Ficamos mais próximos de Simone, que protege a memória de sua família quilombola e preserva receitas de sua mãe e avó no quintal compartilhado por todas as casas do Quilombo Souza, no Bairro Santa Tereza. E descobrimos a história de Wanusa, que ressignifica seus quintais do passado na casa atual, na Vila Barragem Santa Lúcia.

“Acredito que seja fundamental olhar para os quintais como universos de muita sabedoria, principalmente no contexto em que vivemos, de supervalorização dos grandes chefs e da chamada alta gastronomia. Olhar para essas mulheres, suas práticas e o patrimônio alimentar que preservam é poder ver como existe muita potência nos saberes e sabores que muitas vezes não estão sob holofotes, mas resistem, cotidianamente”, defende a autora.

O projeto também está disponível no site www.ocheirodogosto.com, onde é possível acessar vídeos, outras fotografias e áudios que ampliam ainda mais a “visita” aos quintais.

FONTE ESTADO DE MINAS

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