Novidade é fruto de estudos e pesquisas da Epamig ao longo de anos.Conceito da agricultura biodinâmica baseia-se em formas de cultivo que respeitam o ritmo da natureza, com poucas interferências
Anos de pesquisas e estudos da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) ajudaram o estado a produzir o primeiro azeite biodinâmico do país. O produto-conceito que acaba de ser anunciado pela Secretaria de Estado da Agricultura (Seapa) baseia-se numa forma de cultivo que respeita o ritmo da natureza, utilizando, por exemplo, práticas da agricultura orgânica, sem o uso de agrotóxicos. O próximo passo é fazer as análises físico-químicas do produto para saber a quantidade de gordura e ácidos graxos presente em sua composição e, principalmente, a concentração de ácidos polifenólicos, que dão qualidade ao azeite, são benéficos à saúde eprevinem o envelhecimento precoce.
Produtores se concentram na Serra da Mantiqueira
Minas tem se destacado no cultivo de oliveiras e na produção de azeites extravirgens de qualidade. A maior parte dos produtores está concentrada no Sul de Minas, na região do entorno da Serra da Mantiqueira. São olivicultores como Samir Rahme, dono do primeiro azeite biodinâmico, cultivado nos Olivais de Quelémém.
Desde o início do negócio até chegar à produção do premiado Azeite Zet, Samir contou com o apoio da Epamig com indicações para a escolha das variedades mais apropriadas para a região, a condução dos olivais e nas primeiras extrações do azeite, que foram feitas usando a estrutura e equipamentos do Campo Experimental da empresa de pesquisa, em Maria da Fé.
“A olivicultura entrou em minha vida por uma questão de destino, no começo dos anos 2000. Eu era presidente de uma Associação Médica em São Paulo e decidi organizar uma feira orgânica, que teve a participação de pessoas da Associação de Produtores de Agricultura Natural de Maria da Fé. Eles fizeram a ponte para a visita ao município, onde acabei comprando, em 2005, o terreno de 7,5 hectares, a 1,6 mil metros de altitude. O plantio de oliveiras começou como um hobby. Não planejamos virar olivicultores, mas o mundo planejou isso para nós, por isso chamo de destino”, detalha.
Produção segue ritmo da natureza
Samir explica que escolheu a agricultura orgânica baseada nos conceitos da agricultura biodinâmica por acreditar na sabedoria da natureza. Segundo o próprio produtor, um alimento biodinâmico “é aquele cuja árvore é tratada de maneira a oferecer o que tem de melhor. Seguimos e respeitamos o ritmo da natureza. Não forçamos nada, não damos nada a mais do que a planta necessita. A nutrição básica é pela compostagem, a partir de esterco de vaca”.
Azeitonas certificadas pelo IBD
O Zet é produzido a partir de azeitonas orgânicas, certificadas pelo IBD, maior certificadora de orgânicos da América Latina. A qualidade dos azeites da marca já foi reconhecida em premiações internacionais como o Olio Nuovo Days Competition, em Paris (França). “A gente sabe que o azeite é um alimento fantástico e queremos que essas características benéficas sejam ainda mais exacerbadas no nosso produto”, disse Samir.
Curiosidades sobre as características é grande
O próximo passo é atestar características dos azeites da marca em análises laboratoriais que poderão ser feitas pela Epamig. “A empresa recebeu um equipamento que fará a análise da quantidade de gordura e ácidos graxos, principalmente, de ácidos polifenólicos, que dão qualidade ao azeite. Estou muito curioso para fazer não só a análise química e física, mas essa análise mais detalhada do nosso azeite”.
Apoio para quem quiser apostar
A diretora-presidente da Epamig, Nilda Ferreira Soares, reforça os serviços oferecidos pela empresa a quem quer investir na atividade. “Temos em Maria da Fé um ponto de apoio a quem quer apostar na olivicultura. Uma agroindústria, equipada com maquinário moderno, disponível para os produtores que ainda não têm seus lagares (nome técnico do local onde se faz a extração do azeite) serviços de análises laboratoriais e orientações para o início do plantio e manejo de doenças e pragas”.
Boas perspectivas para a safra 202
A produção dos Olivais de Quelemém segue as projeções de boa safra para a região da Serra da Mantiqueira. “Em 2022, colhemos sete toneladas de azeitona. No ano passado, colhemos pouco mais de 300 quilos, em função de questões climáticas. Para 2024, as perspectivas estão boas para todos e prevemos uma colheita entre cinco e seis toneladas”, informa Samir Rahme.
Música clássica nos olivais
É também em Maria da Fé que fica a fazenda Santa Helena, primeira propriedade a receber o Certifica Minas Azeite, programa de certificação de produtos agropecuários e agroindústrias do Governo de Minas. A propriedade de 10 hectares é conhecida pela adoção da musicoterapia para os olivais. A olivicultora Rosana Chiavassa acredita que a música clássica tenha o poder de interferir positivamente no desenvolvimento das plantas. Por isso, chegou ao requinte de contratar um musicoterapeuta para fazer uma playlist para seu olival, definindo os melhores compositores e as melhores frequências para as plantas.
Rosana atribui a esse cuidado o fato de conseguir duas colheitas precoces. Explica-se: é que a colheita da azeitona acontece sempre de janeiro a março, mas a fazenda Santa Helena, misteriosamente, consegue duas colheitas: uma em dezembro e outra em fevereiro. Também não por acaso, o azeite Monasto, produzido no local, já ganhou oito medalhas internacionais.
A produtora destaca ainda a importância da certificação para a agregação de valor ao produto e para a credibilidade junto aos consumidores. “Os azeites mineiros são de excelente qualidade e a certificação chancelada pelo IMA agrega bastante. Sou de São Paulo e posso afirmar que Minas Gerais tem órgãos prontos para atender as demandas dos produtores”, comentou.
Visitas guiadas
Tanto os Olivais de Quelemém quanto a Fazenda Santa Helena realizam visitas guiadas e atividades especiais para os interessados em conhecer a excelência da produção de dois azeites mineiros mundialmente reconhecidos pela qualidade.
Outros investimentos
- A Epamig realiza pesquisas para o desenvolvimento e a adaptação da cultura de oliveiras em Minas desde a década de 1970.
- A empresa foi responsável pela primeira extração de azeite extravirgem no Brasil, realizada em fevereiro de 2008.
- O Governo de Minas investiu R$ 2,3 milhões nesta cadeia produtiva de 2019 a 2024.
“Alcançamos importantes avanços em termos de tecnologia em todas as etapas da cadeia produtiva, da produção de mudas, à análise da azeitona e do azeite. Mas ainda há muito a se evoluir, seja no estudo do comportamento das plantas, seja no conhecimento do potencial produtivo da oliveira ou em ações para amenizar os impactos das condições climáticas”, explica o engenheiro agrônomo e coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Luiz Fernando de Oliveira.
(*) Com informações da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais via jornalistas Mariana Penaforte e Márcia França.
FONTE ITATIAIA