30 de abril de 2024 15:54

O Roubo do Esmoler de Feliciano Mendes

André Candreva
Sócio Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas – IHGC – cadeira nº 8
Sócio Efetivo da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas – ACLAC – cadeira nº 39
Sócio Correspondente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete – ACLCL
Sócio Efetivo da Academia de Letras Brasil – RMBMG – cadeira nº 39
Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais – cadeira nº 11
Sócio Efetivo da Academia de Letras, História e Genealogia da Inconfidência Mineira – cadeira nº 18

Alguém já imaginou o Esmoler de Feliciano Mendes sendo surrupiado da Basílica do Bom Jesus de Matosinhos? Pois é. Difícil de acreditar. Mas aconteceu.

O Esmoler é considerado pela Igreja Católica mineira como a primeira relíquia religiosa deixada pelo português Feliciano Mendes em Congonhas. Foi com ele (Esmoler) que Feliciano saiu peregrinando pelas paragens mineiras revelando a quem encontrasse pelo caminho o milagre que lhe ocorreu por intercessão do Bom Jesus de Matosinhos e pedindo esmolas para construir o templo. Feliciano, sem querer, se tornou o “primeiro grande propagandista” do Bom Jesus no território mineiro, divulgando sua fé inquebrantável e o poder de cura do Senhor Morto, representado por uma pequena escultura em uma caixa de madeira.

E isso impressionou a todos que o conheceram, dando início a uma peregrinação de romeiros a Congonhas, que aqui afluem constantemente para “dobrarem seus joelhos” frente ao Cristo jacente dentro da Basílica. Como sabemos, a permanente peregrinação levou a Igreja Romana a oficializar os festejos ao Bom Jesus instituindo no longínquo ano de 1779 o concorrido Jubileu no mês de setembro.

Pesquisando sobre a depredação das esculturas dos Profetas de Congonhas, me deparei com a matéria do jornalista Maurício Kubrusly (o mesmo repórter/apresentador da TV Globo), e ilustrada com fotos de Kaoru Higuchi, com o título: “Profetas de Congonhas são vítimas do tempo e da violência dos homens”, publicada no “Caderno B” do Jornal do Brasil, em sua edição de 06/12/1964.

A matéria retrata a descaracterização do casario colonial, da tentativa do DPHAN (o atual IPHAN) de impedir isso, além de tentar impedir a instalação da Rádio Difusora de Congonhas ao lado do Santuário. E cita também o roubo que ocorreu do nicho com a imagem do Bom Jesus no qual Feliciano Mendes percorreu as paragens mineiras em busca de doações.

Eis o trecho da matéria que menciona o roubo do Esmoler:

“Há pouco tempo foi roubado o pequenino Santuário de Bom Jesus de Matosinhos com o qual o português Feliciano Mendes percorreu as estradas de Minas colonial, angariando fundos para erigir aquele templo, em pagamento de uma promessa. O Santuário – guardando a imagem milagrosa – foi, pouco tempo depois, devolvido, permanecendo, contudo, incógnito o autor do roubo, aparentemente sem motivo.
Mas este roubo fez com que o Governo do Estado de Minas Gerais determinasse que fosse reforçado o policiamento no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Atualmente, três policiais se revezam em três turno, das oito às vinte e duas horas. A vigilância, contudo, não pode ser efetiva e contínua, uma vez que, à chegada de novo grupo de visitantes, os policiais têm de sair de perto das imagens dos Profetas para abrir e fechar, uma a uma, todas as capelinhas dos Passos do Horto. Ao que parece, exatamente nesses poucos instantes em que ficam desguarnecidas, é que são mutiladas as 12 imagens. Acresce que, as vezes, os policiais são requisitados por seus destacamentos, ficando longo tempo desguarnecido, por completo, aquele formidável conjunto.”

A citada matéria jornalística menciona ainda o detalhamento do vandalismo em cada um dos 12 profetas, além de ventilar a possibilidade de substituí-los por réplicas e guardá-los em outro local.

Maurício Kubrusly finaliza seu trabalho para o Jornal do Brasil com a declaração do professor Donald Goodhall – catedrático de História da Arte da Universidade do Texas (EUA) e Diretor do Museu de Belas-Artes do Texas que ao visitar Congonhas desejou levar a todo custo os 12 Profetas para uma exposição itinerante pelo Brasil e nos EUA…

Ainda bem que nunca levaram os 12 profetas para “passear”. Poderiam não mais existirem. E o Esmoler segue seguro, guardado sob a custódia do Padre Benedito Pinto da Rocha (Reitor Emérito) e do Cônego Nedson de Assis – atual Reitor.

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