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Descubra como o turismo de experiência “abraçou” a serra da Mantiqueira

De recantos na natureza à excelência da gastronomia, região na borda dos Estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro é uma excelente dica para uma viagem nesta época do ano

A serra da Mantiqueira é uma porção de montanhas que se estende por mais de 500 km na borda de Minas Gerais com os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, com alturas que variam entre 900 m e 2.798 m, atingindo o ponto mais alto no pico da Mina, na serra Fina, divisa de Passa Quatro (MG) e Queluz (SP). A magnitude dessas montanhas impressiona o turista que, em uma visita de carro, se perde por estradas vicinais para descobrir pequenos tesouros escondidos.

Plantações de oliveiras em encostas íngremes que originam azeites únicos, queijos artesanais premiados no exterior, trilhas que levam a cachoeiras de águas geladinhas e refrescantes no meio da mata e a mirantes para contemplação de espetáculos como brumas e pôr-do-sol, fazenda de búfalo que produz laticínios, plantações de frutas vermelhas, como amoras e morangos, passeios de maria-fumaça, áreas de preservação ambiental com mais 300 espécies de pássaros e uma culinária que se apropria de um terroir único para aguçar paladares. O turismo de experiência “abraçou” a Mantiqueira de uma tal forma que dificilmente um visitante sai dessa região sem um gosto de “quero mais”. 

Famosa por destinos como Monte Verde e Gonçalves, a Mantiqueira esconde joias como Aiuruoca, pequena cidade emoldurada pelo pico Bico do Papagaio, terra do azeite; Alagoa, famosa mundialmente por causa de um queijo artesanal de sabor especial; Itamonte, conhecida pela natureza exuberante e por ser porta de entrada do lado mineiro para o Parque Nacional do Itatiaia; Itanhandu, com suas cachoeiras e trilhas; e Passa Quatro, ponto de partida para uma viagem no tempo pelo Trem da Serra da Mantiqueira. Todas essas localidades com muitas particularidades têm em comum o fato de pertencerem à Associação dos Municípios da Microrregião do Circuito das Águas (Amag), às Terras Altas da Mantiqueira e ao Circuito das Águas.

Pegar um carro e se perder nas estradas é a melhor maneira de explorar a Mantiqueira, com paradas para banhos de cachoeira, para degustar a comida mineira no fogão à lenha, para contemplar paisagens arrebatadoras e para provar azeites, queijos e cachaças, tudo produzido artesanalmente e vendido em lojinhas, como a de Osvaldo Martins de Barros Filho, o Osvaldinho, pioneiro na venda do queijo de Alagoa. 

Rota do Queijo e do Azeite

Osvaldinho criou em 2016 a Rota do Queijo e do Azeite – é um dia inteiro de tour que começa na Fazenda Cauré, produtora de azeite, faz parada para almoço no restaurante de Dona Inês, no centro de Alagoa, e continua na fazenda 2M, produtora do queijo artesanal, finalizando na loja do produtor para degustação harmonizada com goiabada, geleia de jabuticaba e mel. A história do queijo de Alagoa começou na década de 1920, quando o italiano Pascal Poppa chegou a Alagoa acompanhado da esposa, Luiza. Veio com ele a receita de um queijo diferente, que permitia maior conservação. Sem poder exercer o ofício de sapateiro, o artesão construiu três laticínios na cidade, produzindo o queijo de forma rudimentar. Apesar de não ser chamado mais de “parmesão”, o queijo de Alagoa carregou o nome por muito tempo. Em 2010, produtores locais começaram a buscar sua certificação geográfica. Uma década depois, o governo do Estado publicou portaria reconhecendo Alagoa como região produtora de queijo artesanal. Esse queijo único é resultado do terroir – palavra francesa que se refere à forma como o solo, a água e o microclima, além do manejo e dos processos, influenciam o produto e seu sabor. 

Toda essa história do queijo mudou quando Osvaldinho colocou três peças debaixo do braço e embarcou para a França para participar do Mondial du Fromage. O Queijo Alagoa 1722 e o Queijo Alagoa Fumacê ganharam a Medalha de Prata e a Faixa Dourada Medalha de Bronze, concorrendo com outros 600 queijos, de 42 países. “O prêmio na França colocou Alagoa em um patamar internacional, atraindo turistas e movimentando a economia da cidade”, conta o produtor. Hoje, Osvaldinho leva os visitantes à fazenda 2M para mostrar como o queijo artesanal é produzido pelo casal Márcio e Dirce. Após a visita, Dirce prepara aquele café típico da fazenda, tendo como destaque a receita do pão de queijo com ovo caipira e queijo premiado na França. Alagoa tem atualmente cerca de 138 produtores de queijo artesanal e uma produção de 30 toneladas/dia. Na fazenda Cauré, a poucos quilômetros de distância, Tonhão guia os visitantes pelas encostas íngremes de olivais, explicando os segredos do plantio e da colheita antes da degustação do azeite Prado & Vazquez. Aos pés da Pedra do Juquinha, descobrem-se oliveiras começando a florir. Se a visita ocorrer entre janeiro e março, é até possível colher as azeitonas. 

Azeites Artesanais Olibi

Também está na mesa do produtor Nélio Weiss um dos atrativos da fazenda Campo do Meio, em Aiuruoca, nessa rota de aromas e sabores. Dos 140 hectares, 18 estão tomados de oliveiras que produzem um azeite com baixa acidez (0,8%), frutado e com agradável cheiro de natureza. Por R$ 40 a visitação, o economista promove visita guiada e degustação do azeite artesanal Olibi, resultado de blends de varietais como arbequina, arbosana, koronei e grappolo, entre outros. O olival foi plantado em 2011, e a primeira colheita aconteceu em 2017. Plantar oliveiras, no entanto, não foi o propósito inicial de Weiss ao comprar um terreno de 140 hectares próximo a Aiuruoca (palavra do tupi que significa “casa do papagaio”), mas reflorestar uma área degradada com espécies da Mata Atlântica e reintroduzir uma espécie em processo de extinção, o papagaio-do-peito-roxo. Hoje, há registros de 42 aves da espécie da região. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Weiss mantém 42 aves com autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Desde que começou o projeto, em 2007, já promoveu a soltura de cerca de 4.000 aves na natureza. 

Cachoeiras dos Garcia e do Facão

É essa natureza intocada e preservada que encanta os visitantes na Mantiqueira. É uma imersão na natureza para se deparar com cachoeiras escondidas no trajeto, como a do Facão. Uma pequena trilha revela uma queda d’água de águas límpidas e geladinhas no meio da mata. Por sinal, as cachoeiras se multiplicam nessa porção da Mantiqueira. A palavra, de origem tupi-guarani, significa “serra que chora” e não existe no Aurélio ou Houaiss. É constante nas estradas presenciar gotejamento das pedras. A grande quantidade de pequenas cachoeiras que descem das encostas e formam pequenos rios também pode justificar o nome. Uma das mais belas cachoeiras, a dos Garcia, pode ser trilhada a partir do restaurante do casal Ilacir, formado por Juninho e Renilda, uma chef de mão cheia. A trilha de nível intermediário tem alguma infraestrutura, com escada de madeira e corrimão, alguns trechos estreitos e pedras escorregadias, e exige algum esforço físico, mas toda a caminhada de 20 minutos é recompensada por uma visão esplendorosa de uma cachoeira de 30 m de altura que deságua em um poço profundo para banho, porém com uma parte de areia rasinha. 

Instituto Alto Montana

A Mantiqueira é um território perfeito para atividades como montanhismo. Há ao menos cinco picos com mais de 2.600 m de altura, todos num raio de 20 km do Instituto Alto Montana da Serra Fina, uma das paisagens mais eloquentes da região de Itamonte, porta de entrada do lado mineiro para o Parque Nacional do Itatiaia. O lugar é muito procurado para prática do montanhismo e cascading, informa Vinícius do Couto Carvalho, gerente de uso público do instituto. O Alto Montana é também uma RPPN com 1.049 hectares, com 17 nascentes e altitudes que variam de 1.400 m a 2.540 m. Além de proteger uma extensa área de Mata Atlântica, o instituto oferece banho na cachoeira do Pinhão Assado e piscinas naturais, um circuito de 30 km de trilhas e rampa de voo livre. Uma das atividades é a observação de pássaros – já foram registradas 284 espécies na reserva. O Abrigo Montana ainda oferece acomodações em quartos para até quatro pessoas a partir de R$ 210.

Pérola da Serra

Menos de 20 minutos depois, pela MG–158, o turista chega a Itanhandu, uma pequena cidade de 15 mil habitantes com vocação para o ecoturismo e o turismo rural. Na fazenda São Francisco, o casal Carlos Alberto e Adriana Carvalho narra sua saga como empreendedores: começaram a criar búfalos na cara e na coragem, sem nenhum conhecimento prévio. “Todo mundo chamava a gente de louco”, conta Carlos. As primeiras búfalas chegaram em 2014 da Itália e da Índia, e em 2015 a família Carvalho Cunha começou a produção do leite e da muçarela de búfala. Hoje, o negócio prospera e ganhou até uma marca, Pérola da Serra. Mansas, as búfalas têm nome e divertem o turista, que pode fazer afagos nas bichinhas e até montar. “O búfalo é um ‘cachorro que dá lucro’”, brinca Carlos. De um negócio rentável – são 600 litros/dia e cinco litros para a produção de 1 kg de muçarela de búfala – para produto turístico foi um pulo. A família recebe o visitante na fazenda e oferece um café com delícias produzidas com o leite de búfala, além de explicar todo o processo de produção e mostrar os queijos produzidos artesanalmente.

Onde se hospedar

Na Mantiqueira, os meios de hospedagem privilegiam amplos espaços, imersão na natureza, conforto sob medida, muito aconchego e tranquilidade. Uma dica é Pousada Paraíso dos Tucanos, localizado em Aiuruoca. Com um paisagismo caprichado, que aproveita todas as virtudes e elevações do terreno de 27 hectares, a pousada é um refúgio escondido nas montanhas, com uma belíssima infraestrutura. São oito tipos de suítes: escolha a que tem vista para o lago, todas com Wi-Fi, decoração sóbria e camas confortáveis. Algumas delas têm ventilador de teto, outras ar-condicionado – uma hidromassagem é o destaque da suíte Vida Boa 9. As configurações variam de acordo com os hóspedes – há suítes com camas de casal e duas camas de solteiro e até quartos conjugados para atender às famílias. O café da manhã é servido no restaurante Casa de Vidro, com uma pequena biblioteca e uma bela vista para toda a pousada. Pet friendly, a pousada aceita cães e ainda dispõe para o turista de passeios a cavalo, em trator e terceirizados em veículos 4×4. A proprietária Ingrid e sua filha Mariane estão sempre por perto para atender os hóspedes de maneira personalizada, resolvendo as demandas e facilitando a vida dos hóspedes.

Trem da Serra da Mantiqueira

O passeio na Mantiqueira pode ter como ponto de partida e chegada a cidade de Passa Quatro, uma cidade com pouco mais de 16 mil habitantes às margens da Rodovia Cardeal Mota. Na cidade mineira, o ponto de interesse turístico é uma estação ferroviária de 1844, inaugurada por Dom Pedro II e hoje administrada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF – Regional Sul de Minas). O passeio no Trem da Serra da Mantiqueira é operado por uma maria-fumaça 332 Leopoldina. O passeio de dura cerca de duas horas, sai de assa Quatro até a divisa de Minas Gerais com São Paulo, fazendo duas paradas para descida dos passageiros – uma na Estação de Manacá e outra a 250 metros de um túnel escavado na pedra. Com 997 metros de comprimento o túnel é marco da Revolução Constitucionalista de 1932. O local se transformou em um campo de batalha entre mineiros e paulistas, que tentavam um golpe contra o governo de Getúlio Vargas. Uma exposição em Manacá explica em detalhes a revolução, que teve a participação do presidente Juscelino Kubitscheck, então médico responsável pelo hospital de campanha para soldados feridos em Caxambu.

Serviço

Como chegar

De Belo Horizonte: pegue a BR-381 (Rodovia Fernão Dias), BR-267e BR-354 sentido Via Dutra e, em seguida, a MG-187 (Rodovia Cardeal Mota).

De São Paulo: pegue a BR-116 (Via Dutra), SP-52 em direção a Cruzeiro, as Rodovias Hamilton Vieira Mendes e Cardeal Mota.

Onde se hospedar

Pousada Paraíso dos Tucanos: Estrada Ponte Alta, 9999 SI Área Rural, Aiuruoca. Diárias de R$ 500 a R$ 650 o casal. Caso o hóspede queira pensão completa, acrescenta-se R$ 100 à diária. Acesse Paraíso dos Tucanos ou (35) 99941-7922 (WhatsApp). 

Hotel Águas Lindas: BR-354, Coqueiros, Itamonte. Diárias a partir de R$ 150 por pessoa Acesse Instagram / @hotelaguaslindas ou (35) 99244-0235 (Whatsapp). 

Pousada Ribeirão do Ouro:  BR-354, KM 759, Itamonte. Diárias a partir de R$ 220. Acesse Pousada Ribeirão do Ouro ou (35) 3363-1235. 

Onde comer

Casal Garcia: Cachoeira dos Garcia. A dica é o filé de truta na manteiga, acompanhado de batata sauté, tomate seco, champignon e sala orgânica a R$ 62 por pessoa. Instagram / @restocasalgarcia

Recanto Caipira: Av. Cel. Ribeiro Pereira, 829 – Sao Miguel, Passa Quatro. Comida caseira a quilo com bm custo-benefício. Instagram / @recantocaipiraa

Velho Oeste:  Estrada da Serrinha, Km 9 Serra dos Garcias, Aiuruoca. Inspirados nos saloons norte-americanos dos filmes de faroeste, Comida caseira preparada no fogão à lenha. Instagram /@velho.oeste.minas

Passeio

Trem da Serra da Mantiqueira: Ingressos promocionais a R$ 90. Para comprar e conferir os horários, acesse Trem da Serra da Mantiqueira.

FONTE O TEMPO

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