Recursos em projetos socioambientais sobem 62,7%, para R$ 60 bilhões; empresas estão de olho em produção de carro elétrico e fertilizantes
A indústria da mineração tem planos de investir US$ 64,5 bilhões (cerca de R$ 365 bilhões na cotação atual do dólar) no Brasil até 2028, entre aportes já em curso desde 2023 e projetos futuros, segundo divulgou nesta quarta-feira (11/09) o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), durante o Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram), que acontece até essa quinta-feira (12/9) na capital mineira. Na última projeção da entidade, os investimentos do setor somavam US$ 50 bilhões entre 2023 e 2027. Houve crescimento, portanto, de 28,8% entre as duas estimativas.
Grande parte da alta desses investimentos vem de projetos ambientais, em um momento em que problemas climáticos afetam o Brasil, como seca, calor e queimadas. O setor pretende elevar em 62,7% os aportes em ações e compromissos socioambientais. Esses projetos representam, conforme o Ibram, a segunda maior parcela dos investimentos previstos até 2028: 16,6% ou US$ 10,7 bilhões (cerca de R$ 60,5 bilhões), ante os US$ 6,6 bilhões projetados para 2023-2027.
A principal parcela, claro, é para ampliar e modernizar a produção. “O maior desafio da humanidade é atualmente a emergência climática. Ninguém deve fugir dessa responsabilidade, e o setor de mineração não vai fugir. O Brasil passa hoje por grandes problemas, como seca e queimadas, e as empresas do setor, via Ibram, assumiram compromissos e estabeleceram metas de descarbonização, por exemplo”, disse Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram.
Segundo ele, as empresas estão comprometidas com práticas de ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) e tem ações que merecem destaque, como o combate ao garimpo ilegal no Norte do país. “Temos parceria com órgãos públicos, Polícia Federal, dentre outros. Esses garimpos degradam a Amazônia, prejudicam os povos indígenas e têm envolvimento com o crime organizado, como o PCC”, lamenta Jungmann.
Além dos investimentos socioambientais, as empresas do setor elevam planos no Brasil de olho em mercados promissores, como a produção de carros elétricos, geração de energia fotovoltaicas e fertilizantes, com insumos que vão além do tradicional minério de ferro.
A Vale, por exemplo, tem projetos que envolvem aportes acima de R$ 20 bilhões no chamado Hub Sul, no Pará, que incluem metais básicos do projeto da mina de Sossego, em Canaã dos Carajás. E mais investimentos devem vir. “Temos planos de dobrar a produção de níquel e triplicar a de cobre”, informou Vinícius Assis, diretor de operações da Vale Metais Básicos, durante a Exposibram. Segundo ele, a produção de carro elétrico deve disparar no país e as baterias precisam dos minerais. “O aumento da produção de energia solar também é um mercado promissor”, avalia. Ele também informou que mais investimentos serão feitos no Projeto Apolo, localizado entre os municípios de Caeté e Santa Bárbara, em Minas Gerais, na extração de minério de ferro.
Redução da dependência de fertilizantes importados
Outro importante investimento apresentado durante o evento foi da Eurochem. A multinacional de origem russa e com sede na Suíça, investe, desde 2023, cerca de US$ 3 bilhões no município mineiro de Serra do Salitre, no Alto Paranaíba, em um complexo de fertilizantes. A unidade foi inaugurada em março e já está em produção, com extração fosfato. O complexo mineroindustrial vai adicionar um milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano no agronegócio brasileiros, cerca de 15% da produção nacional deste insumo.
Esta produção vai contribuir com a redução da dependência de importações do insumo. Segundo Gustavo Bastide Horbach, CEO da Eurochem, 85% do fertilizante usado no Brasil vem de fora. Por isso, há motivo para a multinacional investir mais no país. “É um mercado promissor, já que o agronegócio do Brasil é forte e é possível reduzir a dependência de fertilizantes importados”, informou. O grupo Eurochem é um dos líderes globais do segmento de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos, e atua no Brasil desde 2016, quando adquiriu 51% da Fertilizantes Tocantins, concretizando a aquisição total em 2020. Em 2022, o grupo adquiriu o controle acionário da Fertilizantes Heringer. São vinte e uma fábricas, com capacidade de produção de 9 milhões de toneladas por ano.
Ouro
A Hochschild Mining é outra mineradora que colabora para a alta dos investimentos do setor mineral no país. Em maio deste ano, iniciou a produção comercial do Projeto Mara Rosa, primeira mina de ouro da empresa no Brasil, localizada ao norte do Estado de Goiás. Foram investidos quase R$ 1 bilhão no local. Mas mais aportes podem vir. Segundo Rodrigo Augusto Nunes, COO da Hochschild Mining, a empresa irá fazer aquisições de empresas na região que já têm concessão para explorar no local. Há, de acordo com ele, negociações avançadas.
FONTE O TEMPO