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Memorial dedicado às 272 vítimas de Brumadinho será inaugurado no sábado (25)

O monumento construído em Córrego do Feijão, primeira comunidade atingida pela lama, estará aberto somente para familiares no dia da abertura

Após um impasse com a mineradora Vale levar ao atraso e postergar a inauguração em 2024, na marca de 5 anos, o “Memorial Brumadinho”, dedicado à memória das 272 vítimas do rompimento da barragem ocorrido em 2019, será enfim inaugurado no próximo sábado (25 de janeiro). A solenidade de abertura do espaço será fechada para familiares, autoridades e comunidade local de Córrego do Feijão, distrito que foi o mais atingido pelo crime da mineradora

Assim como o memorial 11 de Setembro, em Nova York, o Museu de Auschwitz, na Polônia, e tantos outros espalhados pelo mundo, o “Memorial Brumadinho” está construído no próprio local onde a tragédia aconteceu. “O memorial reflete a importância de não esquecer esse acontecimento e de compreendê-lo como uma prática de violência contra a humanidade e o meio ambiente. Mas, além disso, ele tem o potencial de posicionar o Brasil como referência em iniciativas que tratam de memórias traumáticas, estabelecendo diálogo com outros países que enfrentaram tragédias semelhantes ”, afirma Fabíola Moulin, presidente da Fundação Memorial de Brumadinho — instituição sem fins lucrativos criada para gerir o espaço.

Brumadinho_MG, 07 de janeiro 2025
Memorial Brumadinho – Imagem: Leo Drumond / NITRO

Membro do conselho fiscal da Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum) e mãe de Priscila Elen da Silva, morta pela lama, Maria Regina da Silva, de 60 anos, conta que somente depois da cerimônia de abertura será divulgado como funcionará a visitação do público. “Queremos que venham muitas pessoas de longe, de fora, pois é um local para contar a história de um crime que aconteceu em Brumadinho. É uma estrutura arquitetônica muito bonita, mas com o objetivo de contar uma história de tristeza, dor, luto e luta, contar das dificuldades nesse caminho repleto de espinhos que caminhamos descalços nesses últimos seis anos”, diz, emocionada, a mãe de uma das vítimas. 

A ideia da construção de um memorial surgiu ainda no fim de 2019, quando as famílias passaram a perceber que estavam enterrando apenas fragmentos dos corpos de seus familiares. “Uma esposa de um dos trabalhadores recebeu apenas uma parte do corpo do marido. Ela não conseguiu comentar isso com ninguém da família, foi muito impactante para ela, que pensava o que seria feito quando o restante do familiar dela fosse achado. Eles (vítimas) foram minerados, moídos no minério e, o que sobrou deles, seria jogado em uma vala comum. Quando soubemos que estes segmentos seriam enterrados em um cemitério que nem saberíamos onde, nós começamos a luta para que fosse construído esse memorial. Teremos 278 espaços numerados, onde serão colocados os restos corpóreos”, continua Maria Regina. 

O projeto do Memorial Brumadinho, que foi selecionado pelos familiares por votação, foi idealizado pelo escritório Gustavo Penna Arquitetos Associados e tem o objetivo de proporcionar uma experiência imersiva aos visitantes. Para além da área dedicada à guarda dos segmentos corpóreos das vítimas, o espaço ainda reúne um bosque com 272 ipês amarelos, plantados em homenagem a cada uma das vítimas; uma escultura-monumento; um espaço meditativo; uma drusa de cristais e duas salas de exposição. 

Além disso, o memorial também oferecerá projetos educativos e de pesquisa, fomentando estudos interdisciplinares em áreas como meio ambiente, geografia, arquitetura, direito e história, tendo como foco a tragédia e seus desdobramentos. 

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Memorial Brumadinho – Imagem: Leo Drumond / NITRO

Moradoras administrarão lanchonete

Após vencer uma concorrência, a cantina do “Memorial Brumadinho” será administrada pelo grupo “Memórias”, formado por cinco mulheres empreendedoras de Córrego do Feijão. Elas também são as responsáveis um dos espaços construídos pela Vale na comunidade, no projeto de ressignificação do distrito marcado pela tragédia.

Renata Marley, de 49 anos, é uma das integrantes do projeto. Ela conta que vencer a licitação foi muito gratificante, uma vez que houve a disputa de interessados de todo o Médio Paraopeba. “Descobrimos que somos capazes”, contou empolgada. 

“Será uma lanchonete sem fins lucrativos, totalmente voltada para o público, com preços acessíveis e cardápio variado. Vamos oferecer desde o delicioso cafezinho da manhã até marmitinhas fitness, remetendo ao sabor da infância, ao tempero de vó”, completa Renata. 

Mulheres de Córrego do Feijão na cozinha comunitária, uma das açõs de repação da Vale l José Vítor Camilo

Ações em Brumadinho, Ouro Preto e até na avenida Paulista

Para a marca dos seis anos do rompimento da barragem, uma série de ações foi programada pelos movimentos sociais envolvendo as vítimas do crime, com seminários, manifestações e exposições artísticas, entre outras coisas. As agendas acontecem não só em Brumadinho mas também em Ouro Preto — cidade mineira repleta de empreendimentos minerários — e, até mesmo, na principal avenida de São Paulo.

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Além da inauguração do Memorial Brumadinho, a Avabrum também está promovendo uma vasta programação para marcar a data. Na última quinta-feira (23), foi promovido na cidade o seminário “Memórias do Irreparável: seis anos do rompimento, além da homenagem “Memória Irreparável —Uma Tragédia que Rompeu Histórias Não Será Esquecida”, que também acontecerá no sábado (25). 

Na sexta-feira (24) será realizada,em Brumadinho, a “Carreata da Justiça”, marcada para começar às 17h no Cemitério Parque das Rosas. Já no sábado, o ato dos 6 anos da tragédia está marcado para começar às 11h na Praça da Saudade”.

Para além dos eventos promovidos pela Avabrum, os 6 anos da tragédia também contam com uma vasta programação do Instituto Camila e Luiz Taliberti, criado por amigos e familiares dos turistas paulistas que vieram a Minas para conhecer Inhotim e acabaram morrendo soterrados na pousada que foi engolida pela lama.

Até o próximo dia 15 de março, está em cartaz no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, a exposição “Paisagens Mineradas: marcas no corpo-território”, reúne obras de 12 artistas mulheres que utilizam técnicas como pintura, gravura, videoarte e instalações para explorar os impactos da mineração na natureza e na sociedade brasileira. No sábado, a exposição contará com duas intervenções artísticas voltadas para o rompimento em Brumadinho. 

Exposição em Ouro Preto acontece até o próximo dia 15 de março l Isabelle Aguiar / Divulgação

Já no domingo (26), será a vez da avenida Paulista, no coração de São Paulo, ser palco de um ato em memória das 272 vítimas do crime da Vale. Marcado para acontecer de 10h às 16h, na esquina com a rua Pamplona, a manifestação contará com oficinas, plantio de mudas, entre outras atividades. Às 12h28, horário exato do rompimento, acontecerá o toque de uma sirene, representando o alarme que não soou no fatídico dia, seguido de um pronunciamento da porta-voz do instituto. 

FONTE O TEMPO

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