Rota turística pouco conhecida no sul do Brasil leva passageiros por uma ferrovia centenária, com túneis escavados à mão, pontes sobre vales e paisagens preservadas da Serra Catarinense, a bordo de uma locomotiva a vapor dos anos 1920.
A rota turística de Maria Fumaça que liga Rio Negrinho a Mafra, em Santa Catarina, oferece uma experiência única de turismo ferroviário no Brasil, com paisagens em áreas de preservação ambiental, túneis escavados à mão e pontes que alcançam mais de 1.100 metros de altitude.
Localizado no Planalto Norte catarinense, o trajeto integra o trecho da antiga Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, uma das mais altas ferrovias ainda em operação no país.
Além de ser um resgate histórico, o passeio proporciona contato direto com o patrimônio cultural ferroviário brasileiro, atraindo famílias, turistas e entusiastas de trens a vapor.
Ferrovia centenária da Serra Catarinense
A ferrovia que serve de base para o trajeto foi construída a partir de 1903, com conclusão por etapas ao longo das primeiras décadas do século XX.

Originalmente criada para o escoamento de madeira, grãos e erva-mate, a linha teve papel importante no desenvolvimento logístico da região Sul.
Hoje, parte desse traçado é operado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), com o apoio da prefeitura de Rio Negrinho e do governo de Santa Catarina.
O objetivo da entidade é não apenas manter ativa a circulação de trens turísticos, mas também ampliar o percurso até a cidade de Lages (RS), restaurando o trecho completo com mais de 150 km de extensão.
Atualmente, o passeio cobre aproximadamente 70 quilômetros, entre Rio Negrinho e o distrito de Volta Grande, no município de Mafra.
Ao longo do trajeto, o trem percorre áreas de mata atlântica preservada, zonas de escarpa, vales profundos e propriedades rurais a mais de 1.000 metros de altitude.
Trem a vapor, paisagens serranas e vagões de época
A composição que opera o trajeto é puxada por uma locomotiva a vapor Baldwin americana, fabricada na década de 1920.
Restaurada pela própria ABPF, a máquina representa um modelo clássico de transporte ferroviário do início do século passado.
Os vagões são originais ou réplicas fiéis, equipados com bancos de madeira, janelas amplas, iluminação suave e acabamento retrô.
Durante a viagem, que dura cerca de 3 horas, o trem cruza três túneis escavados manualmente, cinco pontes metálicas e trechos curvos com vista panorâmica da Serra Catarinense.
A velocidade média não ultrapassa 20 km/h, permitindo que os passageiros aproveitem a paisagem com calma.

Em vídeos publicados nas redes sociais da associação, visitantes relatam a experiência como imersiva e nostálgica.
“O cheiro da fumaça e o apito ecoando nos vales fazem a gente voltar no tempo”, afirma um dos turistas.
Turismo ferroviário acessível e valorizado localmente
O passeio turístico tem partidas programadas nos finais de semana e feriados, com ingressos a partir de R$ 70 na modalidade convencional.
Há também opções de vagões executivos e panorâmicos, que oferecem conforto adicional e vista privilegiada para o trajeto.
A estação de embarque em Rio Negrinho passou por revitalização e abriga hoje o Museu Ferroviário, com exposição de fotografias antigas, uniformes, peças históricas e objetos utilizados nas operações originais da ferrovia.
O local também recebe atividades culturais, como apresentações artísticas e feiras regionais.
Segundo a ABPF, o projeto vem crescendo com o apoio do poder público.
A prefeitura de Rio Negrinho tem integrado o passeio aos roteiros turísticos locais e divulgado a experiência em eventos de turismo regional.
O governo estadual também reconhece o potencial do turismo ferroviário como alternativa para diversificação da economia nas pequenas cidades do interior.

Expansão até Lages e reativação completa da linha
Estudos de viabilidade técnica e ambiental estão em andamento para reativar o trecho completo da ferrovia até Lages, no estado do Rio Grande do Sul.
O percurso incluiria passagens por localidades como Papanduva, Monte Castelo e Campo do Tenente, ampliando o alcance da rota e valorizando ainda mais a paisagem natural da região.
Em 2024, a ABPF firmou parceria com a Rumo Logística e o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para análise da infraestrutura remanescente.
De acordo com técnicos da associação, muitos trechos de trilhos e estruturas metálicas ainda estão preservados e podem ser reutilizados com baixo custo.
Se aprovado, o projeto pode tornar-se o maior percurso ferroviário turístico em altitude do Brasil, cruzando três biomas diferentes: Mata Atlântica, campos de altitude e florestas de araucárias.
A expectativa é que a reativação gere empregos diretos e indiretos com foco em turismo sustentável.
Eventos temáticos e apelo nostálgico
Além do passeio regular, a linha férrea também oferece eventos temáticos ao longo do ano, como o Trem do Papai Noel, com decoração natalina, e o Trem do Vinho, voltado ao público adulto.
Há ainda viagens especiais em datas comemorativas, como Dia das Crianças e festas regionais.
Essas ações visam aumentar o público e atrair visitantes fora da alta temporada, contribuindo para manter a operação viável durante o ano todo.
De acordo com a organização, o número de passageiros vem crescendo desde a retomada pós-pandemia, impulsionado principalmente por divulgações em redes sociais e blogs de viagem.

Resgate histórico e preservação do patrimônio
A iniciativa da ABPF faz parte de um movimento nacional de preservação ferroviária.
Com sedes em diversas regiões do país, a associação busca reativar trechos históricos de linhas férreas que fizeram parte do desenvolvimento brasileiro entre os séculos XIX e XX.
A ferrovia entre Rio Negrinho e Mafra, além de ser um exemplo bem-sucedido de restauração e uso turístico, serve como plataforma educacional.
Escolas da região organizam visitas pedagógicas à estação e ao museu, promovendo o conhecimento sobre o passado ferroviário e sua influência na cultura local.
Poucos brasileiros sabem que ainda é possível viajar em uma Maria Fumaça original, em funcionamento regular, e menos ainda que esse passeio acontece em meio às montanhas de Santa Catarina, por menos de R$ 100.
Você encararia uma viagem de 3 horas em um trem a vapor, cruzando pontes a mil metros de altura e túneis esculpidos há mais de 100 anos?
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS