Mineradora planeja estruturas próximas a comunidades atingidas pelo rompimento da barragem que matou 19 pessoas
Mais uma bofetada na cara. É assim que Mauro Marcos da Silva, integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), define o novo plano da mineradora Samarco de construir duas pilhas de rejeito, no município de Mariana, em Minas Gerais. Cada uma das pilhas pode chegar a até 200 metros de altura. Uma delas deve ficar a menos de 300 metros de casas habitadas.
Bento Rodrigues e Camargos, comunidades que estarão mais próximas das novas estruturas, foram os primeiros distritos atingidos no maior desastre ambiental do Brasil, quando a barragem de Fundão, da Samarco, rompeu em 2015, provocando uma avalanche de mais de 30 milhões de metros cúbicos de lama tóxica. O “tsunami” de lama matou 19 pessoas – além de incontáveis animais e plantas. E chegou até o mar, contaminando todo o rio Doce, que deságua no litoral do Espírito Santo.
Até hoje, a empresa paga indenizações aos atingidos, realiza ações de recuperação ambiental e faz repasses para políticas públicas como parte do acordo de reparação fechado em novembro do ano passado.
POR QUE ISSO IMPORTA?
As pilhas de rejeito que a Samarco quer construir em áreas próximas às comunidades são apresentadas como alternativas às barragens, mas especialistas apontam que ainda não há regulação para as pilhas.
O Ministério Público de Minas Gerais apontou falhas e omissões no licenciamento ambiental da barragem da Samarco que rompeu em Mariana, em 2015. A proximidade da barragem com a comunidade também contribuiu para o desastre.
Agora, Mauro e outros moradores de Bento Rodrigues e de Mariana, que nem se recuperaram totalmente do desastre, temem os impactos das novas estruturas planejadas para o descarte de rejeitos da mineração de ferro – como aumento de poeira, barulho e tráfego de veículos, alteração da paisagem e, principalmente, risco de deslizamento ou colapso das estruturas.

“Tanto a pilha de Bento quanto a de Camargos vão estar muito próximas do rio Gualaxo do Norte, que foi soterrado por 400 metros cúbicos de rejeito”, disse Mauro à Agência Pública. “A gente vê a possibilidade de se repetir todo o desastre novamente, não sei se daqui a cinco ou vinte anos, mas fica esse fantasma de uma repetição”.
As pilhas, que estão previstas para entrarem em operação somente a partir de 2028, fazem parte do plano da Samarco (propriedade da Vale e da mineradora multinacional BHP) de retomar totalmente sua produção, que foi paralisada depois do rompimento de Fundão e retomada, parcialmente, em 2020.
As duas “montanhas artificiais” serão instaladas em áreas ainda bem preservadas, com vegetação nativa. Uma delas terá até 221 metros de altura (o equivalente a um prédio de 74 andares) e ficará a 1,2 km do centro de Bento Rodrigues.
A outra, de até 190 metros de altura (que equivaleria a cinco estátuas do Cristo Redentor empilhadas) está prevista para ficar a menos de 300 metros de uma edificação em Camargos. As comparações de altura foram calculadas por pesquisadores do Conterra, Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos, da Universidade Federal de Ouro Preto.
FONTE: AGÊNCIA PÚBLICA