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“Perdi meu título de mestre, porque virei mãe”, denuncia estudante da UFOP

Na última segunda-feira (30), Ambar Cordoba, compartilhou nas redes sociais a sua luta para conseguir o seu título de mestre pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Mesmo tendo apresentado sua dissertação, os desafios da maternidade e financeiros lhe impediram de cumprir os prazos finais, e segundo o Programa de Pós-Graduação da instituição (PPG), se o estudante não entrega sua versão definitiva e a submissão de um artigo, nesse prazo, ele não tem direito ao título de mestre.

Ambar conta que apresentou sua dissertação grávida, pois ela não teve direito à licença maternidade. “Apresentei minha dissertação com 36 semanas de gestação, porque foi negado meu pedido de licença maternidade, já que meu filho nasceria fora do período de regência da bolsa da CAPES, após um trabalho árduo, com muitas noites sem dormir, fui aprovada pela banca e após exatamente 19 dias da apresentação, meu filho nasceu”, conta Ambar.

Foi então que o que parecia um alívio, se tornou o início de uma nova luta para a mãe, pois ela teve o pedido para estender o prazo da entrega da versão final negado.  “Ainda grávida, entrei em contato com o programa perguntando sobre a possibilidade de estender o prazo de entrega da dissertação, e pedi informações sobre o procedimento. A resposta foi muito clara: eu não tinha direito a licença maternidade, e deveria trabalhar com o tempo que tinha. No manual do aluno disponível na página do PPG, está em caixa alta “PRAZO IMPRORROGÁVEL” para a entrega da versão definitiva da dissertação e submissão do artigo”, explicou.

Ela continua. “Eu estava passando por um dos momentos mais desafiadores da minha vida, não tive rede de apoio, eu e meu companheiro estávamos com dificuldades financeiras, com uma dívida enorme […] Eu estava vivendo sob extremo estresse, mal conseguia tomar banho, vivendo o limbo do puerpério praticamente sozinha. Eu só conseguia pensar em descansar, cuidar do meu filho e atender minhas necessidades básicas. É claro que, diante de toda a circunstância, eu não consegui entregar a dissertação corrigida a tempo. Depois que o prazo havia expirado, recebi um e-mail da secretária do PPG, dizendo que iria perder o título e estava enviando meu caso ao Colegiado”, relata Ambar. 

Colegiado não aceita a justificativa

Assim que recebeu o e-mail, Ambar enviou uma justificativa, alegando as dificuldades da maternidade e financeiras, já que ela não poderia terceirizar os cuidados com meu filho e com a casa. “Pedi, portanto, novamente, a extensão do prazo de entrega. O colegiado do PPG primeiramente negou meu pedido, mas como não sabia qual resolução CEPE regia o meu caso, eles consultaram o jurídico da universidade para saber se deveria enviar as justificativas para o colegiado ou para instância superior (Conpep). Posteriormente o jurídico da universidade respondeu que o que regia era o CEPE novo 8039, então quem julgaria minha justificativa deveria ser o colegiado. Enquanto isso corri atrás e entreguei a versão definitiva da dissertação e submeti o artigo, entreguei tudo antes da reunião do colegiado que julgaria sobre meu título. Mesmo fora do prazo, entreguei o que faltava. Mas mesmo assim me foi negado o direito ao título”, relatou.

Após a repercussão do caso, a universidade divulgou uma nota, informando que o caso de Ambar está sendo acompanhado pela coordenação do programa de pós-graduação envolvido e pelas instâncias superiores há dois meses, quando a questão foi julgada. “O assunto continua em pauta e o conselho superior relacionado ao tema deve ser acionado para avaliar a situação”, disse a Ufop. Entretanto, a instituição também informou que os prazos estabelecidos para a conclusão das pesquisas de mestrado e doutorado são estabelecidos nacionalmente, não sendo facultada às instituições a possibilidade de definir prazos ou de oferecer condições diferenciadas para estudantes devido a fatores ou circunstâncias que possam interferir em seus processos de formação.

Situação exporia descaso da academia com as mulheres mães e pesquisadoras

O caso demonstraria, pelo menos, que a academia ignora as necessidades reais das mães pesquisadoras. “Alegam que fui negligente, mas negligência foi da universidade de não ter me dado amparo no momento em que eu mais precisei, invisibilizando minha maternidade e cobrando de uma aluna mãe, muito além do que é cobrado dos demais alunos. Meu direito ao resguardo pós-parto foi completamente ignorado. Minha maternidade foi silenciada. Não existe igualdade de gênero na pós-graduação. Você acabou de ter um filho? Se vire e trabalhe com o tempo que você tem”, indaga Ambar. 

Repercussão

A publicação com o relato de Ambar teve grande repercussão, chamando a atenção de de figuras importantes, como a deputada Áurea Carolina e da comunicadora socioambiental, Giovanna Nader. Além disso, a publicação também teve mais de 5 mil comentários apoiando o direito de Ambar de ter o seu título de mestre. Com a divulgação do seu caso, ela espera que as normas federais e da Ufop sejam repensadas. “Não vou me calar frente a essa injustiça, pois quero meu título de volta. Espero que meu caso sirva para que a universidade repense as resoluções e garanta direitos mínimos para as mulheres-mães-acadêmicas.

Eu vou lutar, recorrer a decisão e fazer tudo o que for possível por esse título de mestre. Pois ele é meu, por direito”, afirma. 

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