Você já percebeu como a comoção social muitas vezes é seletiva, guiada por narrativas específicas? Infelizmente, é notável a falta de comoção popular diante das tragédias que atingem os mais pobres e excluídos. De fato, o cérebro é capaz de se acostumar mesmo em momentos tão difíceis, a partir de um processo denominado neuroplasticidade, como explica a neurocientista Eliane Comoli, docente do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. E, ainda segundo estudos, o cérebro tem dificuldade de elaborar grandes quantidades numéricas. Mas isto não nos abona de buscar, sempre, ressaltar a realidade, buscar florecer uns dos mais puros sentimentos humanos: a compaixão e o desejo por justiça. Não apenas pela passagem do “Dia da Consciência Negra”. Mas, sim, por necessidade de que esta consciência realmente se estabeleça.
A morte de jovens como Guilherme Gomes da Silva, de 17 anos, na Bahia, e Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, no Rio de Janeiro, ambos vítimas de ações violentas da polícia, passa despercebida por grande parte da sociedade. Em 2022, 83% das vítimas de intervenções policiais eram negras, e 52,9% tinham entre 12 e 24 anos, uma verdadeira tragédia que parece não gerar a indignação devida.
A letra da música “80 tiros – Guadalupe chorou”, de Vinny Santa Fé, encapsula de maneira impactante a realidade de um Brasil marcado pela violência: “Você confunde o cidadão trabalhador. Aponta a mira e depois faz o que quer. E na sequência mais um pai deixa seu filho. Mais um filho sem seu pai. E mais luto de mulher. O mundo sangra todo dia. Pela falta de amor”.
Enquanto mais de 5 mil crianças palestinas perdem a vida e jovens negros sucumbem diariamente em operações policiais, as balas no Brasil parecem ter um alvo definido: pessoas negras, predominantemente jovens e, cada vez mais, crianças.
No ambiente no qual a prevalência deveria ser a educação, os dados são alarmantes. Sete em cada dez educadores(as) brasileiros(as) dizem ter escutado piadas racistas em seu espaço de trabalho, seja por parte de estudantes, professores(as) ou funcionários(as). O dado foi apresentado na pesquisa “Sua Escola É (Anti)racista?”, realizada pela ONG Quero na Escola, de fevereiro a maio deste ano. Questionados(as) sobre sofrer racismo no espaço escolar, 23% dos(as) professores(as) apontam já ter sofrido algum tipo de discriminação racial. Entre as pessoas declaradas pretas, a situação é assustadora, cerca de 90% já enfrentaram uma situação de intolerância, enquanto pessoas pardas apontam um índice de 39%.
Em Minas Gerais, nos últimos dez anos, quase 1.300 vidas foram ceifadas devido a intervenções policiais. Em 90% dos casos, PMs foram os responsáveis, vitimando homens (97%), com idades entre 12 e 29 anos (67%), predominantemente pretos ou pardos (68,4%).
O sangue continua sendo derramado, e a impunidade persiste. Os culpados são protegidos, enquanto as vítimas são estigmatizadas como criminosas, como se merecessem tal destino. As vítimas negras não são meros acidentes, mas alvos premeditados.
Diante desse cenário, surge a pergunta: o que estamos fazendo é realmente suficiente? A resposta é não. Não podemos nos calar, não devemos ter medo. É hora de denunciar, cobrar cada órgão responsável para que cada culpado seja julgado e punido.
Em 2023, o governo federal deu um passo importante para enfrentar a questão histórica do racismo no país com a criação do Ministério da Igualdade Racial. Apoiamos plenamente a ministra Anielle Franco em sua missão monumental à frente desta pasta.
O Brasil é de todos, e o projeto “Juntos para Servir” é construído na base popular para defender todos os mineiros e mineiras. Estamos ao lado dos companheiros e companheiras negras e não descansaremos até que todas essas violências diárias sejam reconhecidas e combatidas. Saibam que podem contar conosco para o que for necessário nessa pauta. Embora não tenhamos o lugar de fala, sempre cederemos o nosso espaço para somar nessa luta.
Projeto “Juntos para Servir”
Deputado Estadual Leleco Pimentel
Deputado Federal Padre João