Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 19

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 19

FOI ASSIM QUE UM ALUNO E UMA ALUNA INTERPRETARAM

E TRADUZIRAM DA MADEIRA PARA AS PALAVRAS, NOS ALTARES DA MATRIZ DE NOSSA  SENHORA DA CONCEIÇÃO, A INSPIRAÇÃO QUE MOVEU

 O ARTISTA DOS TEMPOS PASSADOS. 

Continuando a apresentação da História de nossa Cidade, na estrada do tempo estamos no…

Período próximo à Criação da Real Villa de Queluz:

 Neste artigo de hoje vou falar sobre um fato muito interessante de nosso patrimônio artístico e contar como tudo aconteceu.

Por que vou abordar este assunto na sequência cronológica das notícias da cidade? Porque, quando aqui se tornou Real Villa de Queluz, o desenrolar dos acontecimentos da Inconfidência Mineira estavam em efervescência e em nossa terra onde o movimento libertário foi muito mais forte e grandioso do que contam os livros históricos.  Muitos episódios foram abafados, muita gente conseguiu ficar escondida…

Um vestígio muito forte, na minha opinião, está na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, realizado na madeira que já atravessou mais de dois séculos. Revelei este fato em escritos meus anteriores, já contei para muita gente e vi até reproduzido na Internet. Fico feliz que esteja sendo divulgado, porém quero, neste artigo, mostrar a história completa.

Nos últimos tempos do século XX eu dava aulas de Redação para os alunos do Segundo Grau no Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”. Nas salas de terceiro ano, eu tinha aulas semanais geminadas. Eram duas classes: uma num dia e outra, no outro.

As aulas geminadas permitiam atividades maiores, como o que aconteceu um dia. Nas duas classes, desenvolvi o seguinte projeto para duas semanas: a escrita de um conto. Na primeira semana, levei as turmas, uma em cada dia, para a Praça Barão de Queluz. Sentaram-se alunos e alunas nos bancos e em degraus do chafariz. Tinham levado os cadernos e deveriam escrever a primeira parte do conto  em que um jovem ou uma jovem, enquanto aguardavam alguém sentado(a) num dos bancos, observasse o jardim e a movimentação da praça no começo do dia (eram as duas primeiras aulas da manhã). Uma manhã linda, clima perfeito para atividade literária que eles desenvolveriam. Tanto em um dia como no outro as classes, que eram muito brilhantes, escreveram textos muito criativos, muito bonitos.

Na semana seguinte, antes de sair da sala, informei à turma que o texto deveria ter o seguinte seguimento: a pessoa que prometera ir àquele encontro da semana passada não aparecera. Eles deveriam então contar que o personagem ou a personagem se dirigira à igreja cujo interior ainda não conhecia. No tempo da primeira aula, eles sentados nos bancos da nave da igreja, eu daria uma explicação sobre os elementos artísticos e, no segundo horário, ali nos bancos mesmo eles fariam a dissertação, encaixando a descrição do que estavam escrevendo no enredo do conto.

FOI AÍ QUE ACONTECEU O QUE EU ACHEI IMPORTANTÍSSIMO!

Quando fui descrever os altares laterais, barrocos da segunda fase, entre a capela-mor e a nave, comecei falando sobre a carranca, que existe nos dois altares, semelhantes mas com pequenas diferenças, como é o comum no barroco, nos dois altares, e expliquei que aquelas figuras de feio aspecto na parte superior deles eram explicadas pelos estudiosos da Arte como representantes do POVO. De sua boca saíam belos cortinados, representantes da REALEZA. Estes cortinados, chamados dosséis, são características do Barroco Joanino, referente à fase do Barroco português que floresceu no período do reinado de dom João V, no século XVIII. Nessa época, os altares tinham que trazer o símbolo da realeza, tinham que ter os cortinados ou dosséis. Naquele altar, de uma maneira não comum nos altares de outras igrejas, os DOSSÉIS  saíam da boca da CARRANCA.

Quando expliquei esses simbolismos, diante do altar do lado esquerdo da Matriz, explicando que a CARRANCA ERA O POVO e  OS DOSSÉIS ERAM O O REI, a aluna Talulah Franco disse logo:

– Veja, D. Avelina: O REI ESTÁ TIRANDO O ALIMENTO DA BOCA DO POVO!

Imagem de Mauro Dutra

AQUELA ALUNA FEZ UMA INTERPRETAÇÃO NUNCA FEITA SOBRE AQUELE ALTAR! IMPORTANTE DESCOBERTA INTERPRETATIVA!

Eu mesma, que mostrei o altar aos alunos, não havia percebido isto! ENTÃO PENSEI: ESTE ESCULTOR ESCREVEU UMA MENSAGEM, COM A ESCULTURA,  NA MADEIRA, NESTE ALTAR, TRADUZINDO O PENSAMENTO E O SENTIMENTO DO POVO DAQUELA ÉPOCA. A MENSAGEM ATRAVESSOU MAIS DE DOIS SÉCULOS E FOI TRADUZIDA EM PALAVRAS PELA ALUNA!  Incrível!

E muito importante: meses depois, fazendo uns estudos em livros escritos no século XIX, achei um comentário em um deles dizendo que o povo de Carijós falava:

“O rei está tirando a comida da nossa boca.”

AS MESMAS PALAVRAS TRADUZIDAS PELA ALUNA! UM VERDADEIRO MILAGRE DA COMUNICAÇÃO!

Foto de Mauro Dutra

No dia seguinte, levei a outra turma. Diante dos altares, falei com eles que, no dia anterior, uma aluna tinha descoberto alguma relação da carranca com os dosséis e um aluno – já fiz tudo para lembrar seu nome e não consegui, mas tenho a esperança de um dia descobrir – falou assim, noutra interpretação importante: “O POVO ESTÁ VOMITANDO A REALEZA!” Não era  a tradução da REVOLTA DO POVO NO TEMPO DA INCONFIDÊNCIA???

FOI ASSIM QUE UM ALUNO E UMA ALUNA INTERPRETARAM E TRADUZIRAM DA MADEIRA PARA AS PALAVRAS, NOS ALTARES DA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, A INSPIRAÇÃO QUE MOVEU O ARTISTA DOS TEMPOS PASSADOS.

Até hoje não se conseguiu saber o escultor que fez as talhas do altar, mas ou ele era um INCONFIDENTE ou soube interpretar muito bem o  sentimento que levou ao episódio histórico da Inconfidência Mineira.

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete 18

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NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 18

 

O tempo foi passando…

A Irmandade do Santíssimo, sempre ajudada pelo povo, continuava a realizar obras e a preservar o templo de Nossa Senhora da Conceição.

O povo começou a ser explorado pela coroa, através da cobrança do quinto (era um tipo de imposto) e a revolta era grande. Muitos diziam: “O rei está tirando o alimento de nossa boca”.

Até que um dia…

19 de setembro 1790 Aconteceu o que tanto sonhara o povo de Carijós: a criação da vila. Uma petição fora feita ao Senhor Visconde  de Barbacena e enviada a D. Maria I, rainha de Portugal. Entre outras coisas, dizia:

“Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Visconde de Barbacena. A Vossa Exa. expõem, reverentemente os Moradores das Freguezias de Nossa Senhora da Conceição dos Carijós, e de Congonhas do Campo, e de Santo Antonio da Itaberava, quê, formando todos huma povoação conjunta de quasi vinte mil pessoas, com suficientes fundos, propriedades e terras incultas, e distando das vilas de São Joze, São João, Villa Rica e Mariana por onde são demandados mais de quinze, vinte e trinta legoas, por asperas Serras, caminhos Solitarios e passagens de Rios, sem que a justiça possa amparar prontamente os orfaons e Viuvas pobres, nem defender a tranquilidade publica de alguns facinoras e Saltiadores; Desejão os suplicantes merecer a Sua Magestade Fidelissima, o Foral e criação da nova Villa com Corpo de Camara, Juiz Ordinario e de Orfaons, Vereadores, Tabelliaens, e mais Offeciais competentes, no Campo Alegre de Carijós;” e prosseguia o documento com mais considerações.

Visconde de Barbacena /Imagem da Internet

No dia tão esperado, o povo, dominado pela alegria, reuniu-se na Praça Nova. O Senhor Visconde de Barbacena chegou acompanhado de luzida comitiva e, lá no prédio da Câmara, assinou o Auto de Criação da vila. No termo lavrado em um livro especial, estavam arrolados o dia da inauguração, o nome da vila, os limites e confrontações de seu território, os nomes do ouvidor, do capitão-mor da vila e das outras autoridades.

ESTAVA CRIADA A REAL VILLA DE QUELUZ!

Em seguida, como narra o Auto de Levantamento, “sendo presente o Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Visconde de Barbacena do Conselho de Sua Magestade, Governador e Capitão General desta Capitania de Minas-Gerais, e o Doutor General, e Corregedor desta Comarca, com os Moradores, Nobreza e Povo tanto da dita Real Villa novamente erecta como dos Arrayaes convezinhos; pello mesmo Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Visconde General foy mandado levantar o Pilorinho da referida Villa, o qual, com efeito se levantou, com a solenidade do estilo, no lugar que para isso se considerou mais proprio e acomodado, e vem a ser a Praça Nova, que fica no meyo da Villa, entre as Cazas destinadas para a Camara, e a Igreja Matriz, cujo acto se fez, e concluhio repetindo todos em altas vozes, e sucessivas aclamaçoens – Viva a Rainha Nossa Senhora Dona Maria primeira…”

Rainha D. Maria Primeira /Imagem da Internet

Enquanto isso, os sinos das igrejas (Matriz, Santo Antônio e Nossa Senhora do Carmo) badalavam alegremente, a força miliciana deu uma descarga de seus mosquetes, alguns moradores davam salvas de suas roqueiras (peça de artilharia que atirava pelouros, que eram balas de metal com que se carregavam muitas das antigas armas de fogo) e todos gritavam vivas.

Casa da Câmara – Pintura de Lygia Seabra

A Câmara foi instalada no casarão de Manoel Albino de Almeida, que alugou um pedaço de sua grande casa para ser a Sede da Câmara. Ficava na atual Avenida Prefeito Mário Rodrigues Pereira, em frente ao Pronto Socorro. A primeira foto é de uma pintura de Lygia Seabra.

Casa da Câmara de Queluz – década de 30 /Imagem da Internet

A Câmara foi instalada no casarão do Guarda-mor Manoel Albino de Almeida. Ficava na atual Avenida Prefeito Mário Rodrigues Pereira, em frente ao Pronto Socorro. A primeira foto é de uma pintura de Lygia Seabra.

FOI ASSIM, DESSA MANEIRA TÃO BELA, TÃO ALEGRE, TÃO FELIZ QUE NOSSA CONSELHEIRO LAFAIETE VIVEU O PRIMEIRO DIA DE SUA VIDA INDEPENDENTE.

MAIS ALGUMAS INFORMAÇÕES

O Pelourinho, distintivo das vilas, ficava mais ou menos em frente ao local onde termina a Rua Afonso Pena. Não temos fotos dele, mas qualquer pessoa pode ver os degraus dele, que, quando ele foi destruído, foram levados para serem base do chafariz da Praça Barão de Queluz. Eram quatro, mas apenas são vistos três porque um deless, numa época muito antiga em que aterraram a praça, ficou debaixo da terra. No degrau do meio do chafariz, numa das pedras do pelourinho, fica o nosso POLO GEODÉSICO, que participa da indicação de localizações do Mundo e serve, inclusive, para marcar rotas para os aviões.

Chafariz /Imagem da Internet

Estes degraus que estão no chafariz e o prédio em que foi instalada a Câmara em 1790 até tempos atrás eram os vestígios que havia daquele dia do passado.      Porém no sobrado que foi onde se instalou naquele dia a Câmara, aconteceu um incêndio, não tenho certeza se foi em 1957 ou 1958. Foi queimada a parte de cima. Há tempos o resto foi jogado ao chão. Observem a beleza do portão de entrada da casa.

Incêndio no casarão no final da década de 50 /Imagem de acervo pessoal

Se o leitor quiser ter um contato material com o passado, sente-se nos degraus do chafariz, pois, a não ser os documentos, só eles RESTARAM EM NOSSA CIDADE COMO AS ÚNICAS MARCAS, LEMBRANÇAS materiais locais do que aconteceu no momento em que nossa terra adquiriu sua AUTONOMIA e se tornou a REAL VILLA DE QUELUZ.

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete 17

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

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NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 17

Era na verdade capela

Aquela igrejinha

Que no meio da rua ficava

Elza Verdolim Hudson

Imagem da Internet

Continuando as notícias cronológicas de Conselheiro Lafaite, ainda estamos na época do Arraial do Campo Alegre dos Carijós.

Chegamos agora ao ano de 1767.  Certo dia, homens abastados de Carijós, que haviam instituído, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a arquiconfraria de Nossa Senhora do Carmo, requereram a provisão para a construção de sua igreja. Concedida a provisão, ela foi levantada. Estava pronta cerca de 20 anos depois.

Esta foi o sétimo templo de nossa cidade. Por que o SÉTIMO?

VOU EXPLICAR:

Os bandeirantes, que sempre traziam imagens nas expedições, ajudados pelos índios, levantaram uma ermida de madeira ou cercada de esteiras e coberta com folhas de colmo, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição,  a qual, algum tempo depois, teria sido substituída por uma igrejinha de pau a pique.

Padre José Duarte de Souza Albuquerque / Imagem da Internet

Pe. José Duarte de Souza Albuquerque focaliza o assunto no excelente trabalho inédito “SUBSÍDIOS DE PESQUISAS FEITAS NO ARQUIVO PAROQUIAL E NO FÓRUM DE CONSELHEIRO LAFAIETE, NA CÂMARA ECLESIÁSTICA DE MARIANA, NO ARQUIVO MINEIRO E NO MUSEU DE SÃO JOÃO DEL REI, PARA A FUTURA HISTÓRIA DA PARÓQUIA DO MUNICÍPIO DE CONSELHEIRO LAFAIETE.

Em minha opinião, tal igrejinha de pau a pique teria sido erigida onde   mais tarde, já em meados do século XVIII, erigiu-se a igreja da Passagem ou nas proximidades do templo. Talvez haja algum documento esclarecedor na Cúria do Rio de Janeiro, pois Carijós, naquela época, fazia parte do bispado do Rio de Janeiro, em Mariana ou Ouro Preto, pois Carijós fez parte de uma divisão regional sediada em Villa Rica. A procurar.  Disse o jornalista Quincas de Almeida que havia um documento sobre a primitiva igreja em um baú na Fazenda dos Macacos. Fui lá um dia, há muitos anos, e me disseram que não havia mais nenhum baú lá.

Baseando-me em Padre José Duarte sobre as três primeiras igrejas e complementando com outras pesquisas:

A primeira igreja de nossa terra foi a de madeira feita pelos bandeirantes ajudados pelos índios carijós em Passagem do Gagé, nos últimos tempos do século XVI, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição.

A segunda, a de pau a pique, no mesmo local, com s mesma invocação.

A terceira foi a primeira Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída no local onde hoje se ergue a Matriz de São João, depois que foi criada a freguesia de Nossa Senhora da  Conceição pelo Padre Gaspar Ribeiro Fonseca, enviado do bispo do Rio de Janeiro, Dom Francisco de São Jerônimo.

A quarta foi a igreja de São Gonçalo, provisão de 1725, construída por Manoel de Azevedo Pereira Brandão.

A quinta foi a atual Matriz de Nossa Senhora da Conceição, localizada na Praça Barão de Queluz. Em seus escritos, Pe. José Duarte de Souza apresentou anotações tiradas do Livro da Irmandade do Santíssimo, que se encontra em Mariana.  De acordo com essas anotações, como a primeira Matriz, ereta em 1709, estava pequena para conter os fiéis, a Irmandade reuniu-se em 1731 e escolheu um terreno, localizado na região em direção à qual o arraial ia se expandindo, e o cercaram. O trabalho de construção, embora seja citado em 1732,  iniciou-se mais fortemente em 1733, portanto 24 anos mais ou menos após a criação da paróquia.

A sexta foi a igreja de Santo Antônio. O capitão Manoel de Sá Tinoco requereu e obteve, a 14 de março de 1751, de Dom Frei Manoel da Cruz, primeiro bispo de Mariana, provisão para erigir e construir patrimônio para Santo Antônio. Em 1754 o templo estava pronto.

A SÉTIMA foi a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em 1767.

A oitava foi, a de Passagem de Gagé, que foi construída pelo Padre Silvestre da Silva Araujo em 1774 e, anos atrás, foi restaurada pela Gerdau.

Outros templos foram construídos, mas já nos séculos seguintes.

VOLTANDO À IGREJA  NOSSA SENHORA DO CARMO:

No próximo artigo, darei mais algumas informações deste templo construído em 1767, pois é importante aproveitar para tornara mais conhecido este religioso patrimônio que já existiu há muito tempo, contribuindo para que não se perca nas brumas do passado!

Hoje vou terminar com um poema da ilustre poetisa lafaietense Elza Verdolim Hudson, que deu vida ao templo, que tão bem conheceu, num lírico documento.

Este poema está na Orelha da Contracapa da ANTOLOGIA EM PROSA E VERSO XXIII. QUE FOI LANÇADA ESTE ANO E QUE TEM NA CAPA A FOTO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO, QUE ESTA FOCALIZADA NA ANTOLOGIA.

A IGREJINHA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Elza Verdolim Hudson

Era na verdade capela

Aquela igrejinha

Que no meio da rua ficava

Construída pelos escravos

Velha, pequena, maltratada

Guardando com galhardia

Toda uma tradição.

Sempre fechada

Quando se abria a porta

Pelo vento, por

Mendigos ou passantes

Ou curiosos estudantes

Mais medo tínhamos nós

E mais amada se tornava.

Nela ninguém entrava

De superstições era cheia

E os anos assim se passavam

Até que um dia espantada

De tanta irreverência pela história

Vi a igrejinha demolida

Para viver só na lembrança.

Aquela igrejinha

Inexistente mas tão querida

Sinto com emoção

Que bem naquele lugar

Ainda parece estar

Nossa Senhora do Carmo

A toda a cidade abençoar.

COMO PEDE A POETISA ELZA:

QUE NOSSA SENHORA DO CARMO DERRAME MUITAS BÊNÇÃOS SOBRE                                     NOSSA CIDADE!

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete 16

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NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 16

 

O governador prometeu fazer com que os credores esperassem

até o fim da obra mas que “se as coisas não saíssem como dizia,

 era com ele, governador, que teria de haver-se.

 Continuo a história do homem empreendedor que vivia, no século XVIII, na localidade de PASSAGEM,  próxima a Gagé, e que embrenhou-se na mata para desviar um córrego que descia para o Piranga, trazendo-o para a vertente oposta, a do Rio Paraopeba. Nas anotações de Joaquim Rodrigues de Almeida descobri, num documentos de perfilhação, que esse homem é meu sexto avô. Mas isto é outra história…  O motivo de tal empreendimento era a necessidade de águas para explorar o ouro abundante nas minas de Passagem, por ele descobertas. Em sua visão arrojada e espírito aventureiro, lembra – respeitadas as devidas proporções – o grande Barão de Mauá.

Ainda recordando o que escrevi anteriormente, completou suas posses com dinheiro emprestado de amigos e conhecidos. Como o tempo fosse passando (pois a empreitada era difícil e o referido córrego estava a algumas léguas de distância) e o homem não aparecesse, justamente fugindo de assédio dos credores, estes resolveram tomar providências. Mas passo a palavra escrita para Francisco de Paula Ferreira Rezende (em Minhas Recordações) que sabe contar os fatos com seu estilo literário sugestivo e agradável:

 “Diante de um tal desaparecimento, os credores trataram de acioná-lo à revelia; prepararam as suas execuções; e quando o misterioso fujão de novo apareceu no campo, nas imediações de Ouro Branco e à frente do rego que vinha agora trazendo, sem mais demora começaram a cair sobre ele as citações para a  penhora, e ele, pelo seu  lado e com a maior impassibilidade, a pedir vista  para embargos”.

 Em sua teimosa atividade, foi ajudado pela sorte. O governador e capitão-geral, sabendo do fato ou devido a denúncias, chamou o homem para saber “se era exato que ele havia pedido vista para embargo de todas aquelas execuções e se era possível que em tão grande número de credores e de dívidas não houvesse um só que não fosse um velhaco ou uma só que não fosse filha da fraude”.

O homem foi muito seguro e correto em suas explicações ao governador, dizendo, de seus credores, que eram homens  “muito de bem” e que realmente devia tudo o que cobravam; que pedira vista às execuções para ganhar tempo e “não ter o desprazer de naufragar quando já estava quase que entrando no porto”. Logo que chegasse com as águas à mina, pagaria os seus credores e “se julgaria bastante rico para dar disso prova à Sua Majestade e ao seu representante na colônia”.

O governador prometeu fazer com que os credores esperassem até o fim da obra mas que “se as coisas não saíssem como dizia, era com ele, governador, que teria de haver-se”.

Pois o homem conseguiu levar as águas aonde desejava e pagou generosamente todos os seus credores, naturalmente com bons juros. O relato do livro não fala sobre a recompensa à Sua Majestade e ao governador, mas é de se supor que tenha sido também generosa.

Águas trazidas pelo personagem da história verdadeira

Foi quando, com esta transposição do regato,  tornou-se um verdadeiro nababo. Voltando ao livro: “.. e a sua riqueza tornou-se tal que, sendo uso naquele tempo pulverizarem as mulheres os seus cabelos com uma espécie de pós brancos, as suas filhas (se não há em tudo isto no meu espírito alguma confusão de fatos e pessoas) quando iam à igreja, pulverizavam os seus com ouro em pó”.

Verdadeiramente é um final de feliz sucesso. Um happy end depois de tanta luta.

Ruínas que seriam da casa do personagem desta história verdadeira

FRANCISCO DE PAULA FERREIRA DE REZENDE é patrono de uma cadeira da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. Merecidamente, porque ele abre, em vários momentos de seu livro,  uma janela ampla para o passado de nossa terra, onde viveu alguns anos, tendo sido juiz, na qual se pode debruçar e vislumbrar, como se fossem episódios de um filme, cenário, personagens e fatos da gente de Carijós e de Queluz.

NOTA COMPLEMENTAR:

De acordo com documento feito por Pe. Américo  Adolpho Taitson, pároco de Queluz, sobre as terras de Passagem e da Igreja da Passagem, onde ele cita João José, irmão de Pe. José Silvestre Araújo, que construiu a igreja que foi restaurada pela Gerdau e é usada para as cerimônias religiosas, e com estudos sobre este documento de perfilhação transcrito nos Cadernos de Joaquim Rodrigues de Almeida, este João José abaixo é o personagem da história que foi narrada.

1847 – João José Silvestre da Silva Araújo, capitão, morador na Passagem de Ouro Branco (hoje é de Conselheiro Lafaiete) em escritura de perfilhação, passada no sítio Cruz das Almas, residência de Luiz Lobo Leite Pereira, reconheceu como seus filhos, havidos no tempo de solteiro, com Joana Batista, mulher solteira, seguintes filhos: Bárbara, casada com  Joaquim José Carlos; Ana, casada com Francisco Ribeiro; João Custódio; e com Joaquina Rosa do Espírito Santo, também mulher solteira, tivera: José Augusto da Silveira, Silvéria Maria de Jesus, Carolina Maria de Jesus; Maria, casada com Joaquim José Lobo, Joaquim José da Silva e Antônio José da Silva.

(Livro de Joaquim Rodrigues de Almeida)

Bárbara e Joaquim José Carlos são meus pentavós, antepassado das pessoas do meu Ramo Gegealógico Batista.

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 15

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                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

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NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 15

O falecido e notável jornalista e pesquisador Joaquim Rodrigues de Almeida disse-me haver encontrado, na  fazenda dos Macacos, documentos que afirmavam que a primitiva igreja fora construída de esteira, coberta de colmos ou de capim por não haver, naquele tempo, material apropriado.”

Padre José Duarte de Souza

Igreja da Passagem antes da reforma / Imagem de Célio dos Santos

Continuando a focalizar a nossa História de Conselheiro Lafaiete através dos tempos,  chegamos a:

1774 – Construção da Igreja de Passagem de Conselheiro Lafaiete (Passagem de Gagé).

Esta não foi a primeira igreja de Carijós, etapa inicial da vida de nossa cidade de Conselheiro Lafaiete. De acordo com Padre José Duarte de Souza, em seu livro inédito SUBSÍDIO DE PESQUISAS FEITAS PELO PADRE JOSÉ DUARTE DE SOUZA NO ARQUIVO PAROQUIAL E NO FÓRUM DE CONSELHEIRO LAFAIETE, NO DA CÂMARA ECLESIÁSTICA DE MARIANA, NO ARQUIVO MINEIRO, NO MUSEU DE SÃO JOÃO-DEL-REI: “O falecido e notável jornalista e pesquisador Joaquim Rodrigues de Almeida disse-me haver encontrado, na  fazenda dos Macacos, documentos que afirmavam que a primitiva igreja fora construída de esteira, coberta de colmos ou de capim por não haver, naquele tempo, material apropriado. Esta capela serviu, naturalmente, por algum tempo, para a celebração do clto divino e catequese dos selvícolas, feita, provavelmente, pelos jesuítas, cerca de 1690.”

Para falar sobre ela, vou transcrever um artigo que escrevi e foi publicado nesta coluna do Correio de Minas na Edição 137, de 31 de maio de 2006, porque tem relação com esta igreja e seus primeiros tempos e dá uma visão com pessoa envolvida com ela naquela época da segunda metade do século XVIII. Será uma introdução ao estudo desta igreja. Aqui vai o artigo do passado:

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UM NABABO EMPREENDEDOR EM NOSSA HISTÓRIA

                                                           Avelina Maria Noronha de Almeida

Um dos intuitos desta coluna é garimpar aqui e ali, em livros que não estão facilmente disponíveis, alguns fatos da história de Conselheiro Lafaiete e trazê-los para os nossos leitores. Uma das melhores fontes, e que ainda espero usar muitas vezes, é   “MINHAS RECORDAÇÕES” de Francisco de Paulo Ferreira de Rezende, que sempre nos traz alguma novidade.

É assim que ele nos relata: 

“Além da Freguesia da Itaverava, em que se descobriu o primeiro ouro de Minas, e a de Catas Altas, em que este se mostrou muito mais abundante, ainda havia em Queluz um lugar que se tornou notável pela grande quantidade que aí se retirou desse metal. Este lugar chama-se Passagem e fica a uma légua mais ou menos de Congonhas.”

Assim havia outra igreja anterior.

Um parênteses na história: Passagem é um local ao qual se vai entrando em Gagé ou continuando o caminho de Casa Branca, vindo da Santa Efigênia, e que faz parte de uma de minhas hipóteses a respeito dos primeiros tempos de nossa cidade. Penso que ali seria o aldeiamento de índios carijós e mineradores que garimpavam na Serra de Ouro Branco (Serra do Deus Te Livre), o qual foi visto por bandeirantes, de acordo com informação de Saint-Adolphe, um desses viajantes estrangeiros que aqui vieram no passado e nos deixaram muitas notícias importantes. Creio que escavações naqueles locais poderiam trazer um material arqueológico valiosíssimo.

Continuemos com Ferreira Rezende:

Imagem da Internet

“Um dia em que eu viajava lá para os lados de Ouro Preto, atravessei um rego que se dirigia para as bandas da Passagem; e eis aqui o que a seu respeito me contaram. Possuindo alguma fortuna e sendo um homem extremamente empreendedor, o dono ou o descobridor daquelas minas, que sabia muito bem quanto eram ricas e que pouco ou nada podia fazer, por causa da água que era escassa ou não era suficiente para ser útil, já não sabia de que expediente pudesse lançar mão que o tirasse daquela tão grande contrariedade, quando afinal julgou achar esse meio. E eis aqui qual foi. Como se sabe, na serra que passa próximo de Queluz, há um lugar em que se encontra, a muito pequena distância, águas que correm para o Piranga ou Rio Doce, para o Paraopeba ou S. Francisco e finalmente para o Carandaí ou Rio Grande; e caminhando-se desse ponto para os lados do Ouro Preto, vai-se tendo sempre à direita as águas do Rio Doce e à esquerda as do S. Francisco. Vendo, pois, aquele homem, que não achava na bacia do Paraopeba a água de que tanto precisava, resolveu trazer para a bacia deste rio um córrego que na vertente oposta descia para o Piranga; e, embora tivesse, para isso, de vencer não pequenas dificuldades e uma distância de algumas léguas, empreendeu a tirada do rego. Como, porém, as suas posses não davam para uma tão grande empresa, contraiu entre os seus amigos e conhecidos um grande número de dívidas; meteu-se na mata e nunca mais apareceu, para que, enquanto tirava o rego, que devia levar muito tempo, não fosse ele inquietado pelos seus credores”, completou suas posses com dinheiro emprestado de amigos e conhecidos. Como o tempo fosse passando (pois a empreitada era difícil e o referido córrego estava a algumas léguas de distância) e o homem não aparecesse, justamente fugindo de assédio dos credores, estes resolveram tomar providências. Mas passo a palavra escrita para Francisco de Paula Ferreira Rezende (em Minhas Recordações) que sabe contar os fatos com seu estilo literário sugestivo e agradável: 

“Diante de um tal desaparecimento, os credores trataram de acioná-lo à revelia; prepararam as suas execuções; e quando o misterioso fujão de novo apareceu no campo, nas imediações de Ouro Branco e à frente do rego que vinha agora trazendo, sem mais demora começaram a cair sobre ele as citações para a  penhora, e ele, pelo seu  lado e com a maior impassibilidade, a pedir vista  para embargos”.

A história prossegue realmente interessante, mas vamos deixar a continuação para a próxima semana e veremos as peripécias, os sucessos e os sofrimentos do nosso personagem. Até lá!

(Continua)

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 14

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NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 14

“Até há bem pouco tempo, antes da faminta verticalização que começou a engolir os horizontes de Lafaiete, uma igrejinha singela, no alto de um morro, poderia ser avistada de quase toda parte da cidade.

Em 16 de janeiro de 1752  foi criado o distrito do Campo Alegre dos Carijós com a elevação da freguesia, por Alvará Régio, à categoria de colativa, passando a ter privilégios régios.

Um ano ante, em 1751, Manuel de Sá Tinoco conseguiu a provisão autorizando a construção da Igreja de Santo Antônio, a qual já estava concluída em 1754.

A Igreja de Santo Antônio atravessou séculos e até hoje abençoa a cidade/ Imagem da Internet

 

Quando a provedor da Irmandade de Santo Antônio de Queluz, de nossa cidade, era Matusalém Rezende Jardim, um familiar do historiador Joaquim Rodrigues de Almeida levou até o provedor um livro antigo onde havia importante registro histórico da Igreja de Santo Antônio, encontrado pelo historiador entre acervo antigo da fazenda Água Limpa, em Carijós, depois Queluz e hoje Conselheiro Lafaiete.

O Irmão Allex Assis Milagre fez profundos estudos dos documentos ali presentes escrevendo um artigo em que colocou as principais provas documentais recolhidas pelo Monsenhor, do qual aqui transcrevemos alguns trechos:

“Até há bem pouco tempo, antes da faminta verticalização que começou a engolir os horizontes de Lafaiete, uma igrejinha singela, no alto de um morro, poderia ser avistada de quase toda parte da cidade. É a igreja de Santo Antônio, cuja história se entrelaça com o desenvolvimento do Campo dos Carijós, no século XVIII.

 

O templo foi dedicado ao milagroso Santo Antônio

A origem dessa igreja é por volta de 1741, quando esteve em Carijós um missionário por nome Frei Jerônimo e benzeu aquele pedaço de terra, no Morro das Cruzes, para que ali fosse construída a igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Entretanto, passaram-se quase dez anos e a construção não tivera início, quando, então, o capitão Manoel de Sá Tinoco requereu e obteve, a 14 de março de 1751, de Dom Frei Manoel da Cruz, primeiro bispo de Mariana, provisão para erigir e construir patrimônio para Santo Antônio.

Ao contrário da maioria dos templos católicos, construídos nas Minas Gerais do século XVIII e XIX, a igreja de Santo Antônio não foi construída para abrigar uma irmandade. O Capitão Manoel de Sá Tinoco, antes de lucrar provisão para construir a dita igreja, teve que se indispor com a comunidade do Rosário, que se julgava dona e possuidora do terreno junto ao Morro das Cruzes. Assim sendo, recorreu ao bispo de Mariana nos seguintes termos:

Exmo. Revmo. Sr., diz o Capitão Manoel de Sá Tinoco, morador na freguesia de Nossa Senhora da Conceição. Campos dos Carijós, comarca do Rio das Mortes. Que ele suplicante, quer edificar uma capela com invocação de Santo Antônio, junto ao mesmo arraial, donde se acha o Morro das Cruzes, fazendo-lhe patrimônio com bens de raízes, livres e desembargados com paramentos e o que mais que lhe for necessário, tudo à sua custa, ficando, assim, gozando de privilégio de padroeiro e protetor da dita capela e porque junto daà dita passagem, onde o suplicante quer edificar a dita capela,  o Revmo. Frei Jerônimo, missionário que foi nestas Minas, há oito para nove anos, demarcou e, dizem benzer para a Irmandade dos Pretos do Rosário um pedaço de chão para fazerem uma capela que a dita Irmandade do Pretos não cuidaram,até o presente, levantar e só querem impedir ao suplicante que aquela obra tão pia com o frívolo pretexto de quererem fazer capela para Nossa Senhora do Rosário. Para Va. Exa. Reverendíssima lhe faça mercê conceder ao suplicante a licença para edificar a sobredita capela para cuja obra tenho alguns materiais prontos e necessários para a obra justa ou presente e não tem o suplicante dúvida consentir em que na dita capela se coloque Nossa Senhora, sendo padroeiro Santo Antônio para quem intenta fazer a dita obra.’

[…]

Consultada a Irmandade do Rosário, ela consentiu em ceder o terreno, desde que a imagem de sua padroeira fosse colocado no bico do altar, o que foi feito por Tinoco. A provisão da igreja de Santo Antônio foi passada a 14 de agosto de 1751.

O Capitão Manoel de Sá Tinoco era casado com D. Úrsulla das Virgens, com contrato de aras. Portanto, qualquer doação que desejar-se fazer, teria que ter o consentimento de sua esposa. Por isso, D. Úrsula passou procuração, a 23 de dezembro de 1757, a seu marido, dando-lhe plenos poderes para administrar todos os bens; então, a 13 de janeiro de 1758, em presença do tabelião da Vila de São José, a ‘ESCRITURA DE DOAÇÃO DE BENS QUE FAZ O CAPITÃO MANOEL DE SÁ TINOCO E SUA MULHER ÚRSULLA DAS VIRGENS À CAPELA DE SANTO ANTÔNIO DO ARRAIAL DOS CARIJÓS’. Devido à ação de insetos e umidade nos arquivos, tornou-se impossível a transcrição da dita escritura, todavia podemos ver que a constituição do patrimônio se faria através de doação de parte dos rendimentos anuais da fazenda da ‘Água Limpa’, de sua propriedade que fazia divisa com as terras de Antônio Francisco França, de Phelippe Antônio (?), Antônio Dutra da Costa, e Francisco da Sylveyra Gigante e Amaro Pereyra. O promotor só aceitou essa segunda escritura depois que D. Úrsulla escreveu a seguinte declaração:.

‘Por esse de minha letra é sinal, digo, eu, D. Úrsulla das  Virgens Sacramento, que de minha livre e espontânea vontade, aprovo uma escritura de doação que meu marido,o Capitão Manoel de Sá Tinoco fez dos reditos de uma fazenda que possuímos cita na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Campo dos Carijós, para patrimônio de uma capela da invocação do Senhor Santo Antônio, filial desta matriz, a qual escritura hei por boa e firme e  valiosa com o selo de própria mão assinar. E por este me obrigo em todo o tempo, nem em parte alguma, reclamar ou ir contra ela, antes quero que, hoje e para todo o sempre, se lhe dê todo o seu inteiro e devido cumprimento e para todo tempo constar, fiz este de minha letra, e sinal. Carijós, 7 de julho de 1758 anos (a) Úrsulla das Virgens Sacramento.’            .

Juntada a declaração acima ao, o juiz do tribunal eclesiástico, Mons. Ignacio Correia de Sá, mandou qu fossem ouvidas as testemunhas a fim de certificar se a fazenda “Água Limpa” era, realmente, de propriedade do suplicante. Após confirmado, o cônego Manoel Castello Branco exarou a seguinte sentença nos autos:

‘Vistos estes autos de patrimônio da capela de Santo Antônio da freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Carijós, testemunhas inquiridas, documentos e o mais que dos autos consta; mostram que, por petição do capitão Manoel de

Sá Tinoco e sua mulher se tem feito doação para o dito patrimônio, na quantia de nove mil réis, pagos anualmente dos reditos de uma fazenda, cita na mesma freguesia do Carijós, na passagem chamada Água Limpa; daquela fazenda são verdadeiros senhores e possuidores, os ditos doadores que a possuem de todo e qualquer embaraço = ajunte tudo. Visto. aceito a dita doação por parte da Igreja e julgo por bem o dito

Sá Tinoco e sua mulher se tem feito doação para o dito patrimônio, na quantia de nove mil réis, pagos anualmente dos reditos de uma fazenda, cita na mesma freguesia do Carijós, na passagem chamada Água Limpa; daquela fazenda são verdadeiros senhores e possuidores, os ditos doadores que a possuem de todo e qualquer embaraço = ajunte tudo. Visto. aceito a dita doação por parte da Igreja e julgo por bem o dito patrimônio em que para seu testemunho se lhe (ilegível) sua senhora; pagos os autos. Mariana, 12 de novembro de 1758. – (a.) Manoel Cardozo Frazão Castello Branco.’ 

Encerrou-se, assim, o processo de patrimônio da Igreja de Santo Antônio, ficando o Capitão Manoel de Sá Tinoco como seu protetor. Após sua morte, D. Úrsulla das Virgens ficou com o padroado, direito esse após sua morte passando a seus filhos padre Manoel de Sá Tinoco e o doutor José de Sá Tinoco. Dona Úrsulla das Virgens Sacramento faleceu em Carijós onde foi sepultada no interior da igreja matriz a 15 de agosto de 1799. Após a morte de , tomaram conta do templo sua viúva, Úrsula das Virgens, e, posteriormente, seus filhos Dr. José de Sá Tinoco e Manoel de Sá Tinoco.

Joaquim Lourenço de Baêta Neves, Barão de Queluz

Tempos depois, foi doado para os fundadores  da Irmandade de Santo Antônio de Queluz, fundada em 16 de outubro de 1870 pelo Barão de Queluz, Joaquim Lourenço Baêta Neves, que foi seu primeiro provedor.

(Continua)

 

 

 

 

 

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O PINTOR MAIS ANTIGO DA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE CONSELHEIRO LAFAIETE 

São descendentes do pintor Ignacio Pereira do Amaral em

Conselheiro Lafaiete, entre outros: um ramo da família Rodrigues Braga

e os Meirelles descendentes do Comendador Francisco Nemezio Nery de Pádua.

Vou continuar a transcrever a postagem de Roberto Belisário, embora longa, mas muito importante para a nossa história lafaietense, agradecendo aqui o historiador pelo grande presente que nos legou com sua pesquisa:

       O QUE SÃO PROCESSOS DE GENERE, VITA ET MORIBUS:

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“Quando alguém se ordenava padre no século XVIII em Portugal e dependências, era preciso que passasse por três processos: um, para inventariar seu patrimônio, a fim de demonstrar que era suficiente para sua ordenação; dois, para assegurar a correteza de sua vida moral (moribus); três, para assegurar a “pureza” do seu sangue, ou seja, que era batizado e filho de pais casados e batizados e que não era descendente do que na época eram consideradas “raças infectas”, nas palavras do formulário utilizado (negros, judeus, índios etc.). Esse terceiro processo, chamado processo de genere, era na verdade feito em estágios anteriores da ordenação. Ele possui informações riquíssimas para genealogistas, pois muitas vezes cita até os bisavós do habilitando (a maioria não era completa, pois a incúria para isso era grande na época).
Para extrair os dados necessários, eram enviadas requisições para os locais competentes para que estes enviassem cópias das certidões de batismo e de casamento do habilitando, de seus pais e de seus avós. Também, eram enviadas requisições para as paróquias onde o habilitando e seus pais e avós residiram, a fim de tomar depoimentos de testemunhas que o conheceram, arroladas pelos párocos locais. Esses depoimentos muitas vezes fornecem dados biográficos preciosos sobre os ancestrais do habilitando e às vezes sobre suas redes sociais. No documento que consultei, esses testemunhos informavam sobre algumas atividades de artífice do avô materno do habilitando, o açoriano Inácio Pereira do Amaral.

 Os processos de moribus também possuem testemunhos, mas não tão ricos (em geral, apenas afirmam que o habilitando não é criminoso nem adúltero etc.). Os de patrimônio incluem cópias de diversos documentos, como de escrituras de terras; às vezes podem ser inferidas informações sobre o nível econômico do habilitando e de seus pais.

RESUMO BIOGRÁFICO DE IGNÁCIO PEREIRA DO AMARAL
Freguesia das Angústias

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O sargento-mor Inácio Pereira do Amaral nasceu em 22 de janeiro de 1698 na freguesia das Angústias, na vila de Horta, na ilha do Faial, Arquipélago dos Açores. Era filho do sapateiro Antônio Pereira e de Serafina Rodrigues, ambos também naturais da vila de Horta. Seus pais moravam no lugar chamado Porto Pim e tiveram pelo menos mais um filho além de Inácio, Francisco Pereira do Amaral.

   Dos Açores, Inácio foi ao Rio de Janeiro.

      Rio de Janeiro

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Foi depois a Ouro Preto, em Minas Gerais, onde morou desde o início da década de 1730, pelo menos, e, como pintor, pelo menos desde o início da de 1740. Ali, morava na frente da Igreja Velha do Rosário dos Pretos (não confundir com a atual Igreja do Rosário) e teve uma “fábrica” (uma oficina de pintura?) onde trabalhavam “pretos e rapazes pintores”

Sobre seu ofício de pintor em Ouro Preto, testemunhas que o conheceram se lembraram, na década de 1790, de ele ter pintado a dita igreja Velha do Rosário dos Pretos e também uma imagem de São Jorge. Uma pequena amostra de um dos serviços menores que deviam povoar sua atividade ao redor desses outros mais notáveis aparece no Arquivo Público Mineiro, nos fundos públicos da Câmara Municipal de Ouro Preto, onde consta uma solicitação de Inácio Pereira do Amaral, datada de 18 de abril de 1744, ‘do pagamento de 35 oitavas e meia de ouro, referente à pintura de 12 varas para os almotacés e de 5 para os vereadores’ Já sobre sua vida particular, a única coisa transmitida pelos testemunhos é que costumava ir na procissão do Corpo de Deus.

Em Ouro Preto, casou-se com Margarida do Nascimento (originária da mesma freguesia das Angústias nos Açores) e ali tiveram duas filhas: Maria do Ó, casada com o mercador Domingos da Silva Neves, e Teresa Angélica de Jesus, nascida em 19 de setembro de 1734.

Quando Teresa ainda era criança, Inácio mudou-se para a freguesia do Campo dos Carijós (atual Conselheiro Lafaiete). Ali, as testemunhas que o conheceram se lembraram dele como pintor, escultor e ourives e também por ter pintado a igreja da Matriz do lugar.

A foto mostra a fachada atual da igreja pintada com a cor com que pintou Ignacio Pereira  de Amaral,

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Teresa casou-se em 6 de novembro de 1757 com o cirurgião português João Pinto Salgado (estes tiveram o filho João Bento Salgado, titular do documento consultado). Maria do Ó ficou em Ouro Preto com seu marido.”

O pintor Ignacio Pereira do Amaral é meu sexto avô. São descendentes dele, em Conselheiro Lafaiete, entre outros: um ramo da família Rodrigues Braga, a família Noronha, o ramo Franco a que pertence João Lúcio Franco, que foi presidente do Clube D. Pedro II e os Meirelles descendentes do Comendador Francisco Nemezio Nery de Pádua.

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O PINTOR MAIS ANTIGO DA MATRIZ DE

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE CONSELHEIRO LAFAIETE
Avelina Maria Noronha de Almeida

ERA O NOME QUE EU PROCURAVA HAVIA TANTO TEMPO!

 

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Já próximo ao final da primeira metade do século XVIII, a construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Arraial do Campo Alegre dos Carijós foi chegada a hora de receber a pintura. Tive a felicidade de descobrir quem foi o seu primeiro pintor: IGNÁCIO PEREIRA DO AMARAL, por coincidência um de meus sextavós.

            Como aconteceu esta descoberta?

Havia muitos anos eu estava sem conseguir andar na genealogia de meu ramo genealógico RODRIGUES BRAGA, tendo parado em IGNACIO PEREIRA DO AMARAL. Sempre que iniciava as pesquisas, colocava o seu nome, porém nunca encontrava nada.

Certo dia, ao iniciar a pesquisa, pensei: este Ignacio não adianta pesquisar. Só por desencargo de consciência vou colocar sseu nome no Google. Mas vai ser a última vez!!! E ao colocar, o que encontro? Um título assim:

Ciências e Adjacências: Inácio Pereira do Amaral: Um artífice …

cienciaseadjacencias.blogspot.com/2013/08/inacio-pereira-do-amaral-um-artifice.html

02/08/2013 – Sinopse da sua atividade de artífice: Sargento-mor Inácio Pereira do Amaral (N. 1698, Horta, ilha do Faial, Açores – F. Queluz, MG?) – Pintor …

         ERA O NOME QUE EU PROCURAVA HAVIA TANTO TEMPO!!!

Na última restauração da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, foram retiradas muitas camadas de tinta, até chegar à primeira pintura, e ela foi respeitada, conforme declaração da restauradora, Rosângela Reis Costa. Assim, a visão que temos agora é das cores iniciais da nossa Matriz. E o primeiro pintor, que usou aquelas cores, foi justamente Ignácio Pereira do Amaral, pintor, escultor e ourives. Nasceu em 1698 na ilha freguesia das Angústias, na vila de Horta, ilha do Faial, nos Açores.

Porto Pim, Angústias, Ilha do Fayal, onde nasceu Ignacio Pereira do Amoral

Imagem da internet

De onde veio para o Rio de Janeiro e, depois para Ouro Preto, onde pintou a Igreja Velha do Rosário dos Pretos e uma imagem de São Jorge e também tinha uma fábrica de pintores.

Quando Teresa ainda era criança, Inácio mudou-se para a freguesia do Campo dos Carijós (atual Conselheiro Lafaiete). Ali, as testemunhas que o conheceram se lembraram dele como pintor, escultor e ourives e também por ter pintado a igreja da Matriz do lugar (a imagem no início desta postagem mostra a fachada atual da igreja com a mesma cor pintada por Ignacio Pereira do Amaral.

Vou transcrever a postagem de Roberto Belisário, embora longa, mas muito importante para a nossa história lafaietense, agradecendo aqui o historiador pelo grande presente que nos legou com sua pesquisa, sendo interessante mais uma coincidência: o autor da postagem, até então desconhecido para mim, sendo eu também uma desconhecida para ele, era meu primo!

Vamos ao importante texto para a História de Conselheiro Lafaiete:

“sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Inácio Pereira do Amaral: Um artífice açoriano em Minas Gerais

 

 Esta postagem é endereçada a historiadores da arte mineira do século XVIII.

Encontrei acidentalmente, em um documento no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (especifico a seguir), citações a um artista ou artífice de Minas Gerais (Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete) do século XVIII, Inácio Pereira do Amaral. Como não achei quase nenhuma referência à atividade esse senhor em nenhum lugar (por exemplo, não consta do “Dicionário de Artistas e Artífices dos Séculos XIX e XVIII em Minas Gerais”, de Judith Martins, e no mecanismo de busca do site do Arquivo Público Mineiro só houve uma ocorrência, descrita mais abaixo), e como esses dados aparecem em uma fonte inesperada (um processo de ordenação sacerdotal de um neto do Inácio), creio que possa ser informação inédita. Então compartilho-a aqui para o caso de interessar a historiadores.


Sinopse da sua atividade de artífice: Sargento-mor Inácio Pereira do Amaral (N. 1698, Horta, ilha do Faial, Açores – F. Queluz, MG?) – Pintor, escultor e ourives. Teve uma “fábrica com pretos e rapazes pintores” em Ouro Preto, MG. Nessa cidade, pintou a Igreja Velha do Rosário dos Pretos e uma imagem de São Jorge. Em Conselheiro Lafaiete, MG, pintou a igreja da Matriz.

 Abaixo, uma discussão sobre a fonte que consultei; um resumo biográfico; e trechos relevantes do documento consultado.

Índice:
O que são processos de genere


Resumo Biográfico

Documentos

Fonte: Processo de genere de Domingos Bento Salgado (Queluz, 1797 – no índice do arquivo e na capa do documento, consta “1777”). Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, armário 5, pasta 769 (Inácio Pereira do Amaral era avô materno deste Domingos Bento Salgado). As informações sobre as atividades de Inácio como artífice aparecem nos depoimentos de testemunhas que o conheceram. Vide seção ‘documentos’ abaixo.”

(Continua)

 

 

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UM DESFILE LUXUOSO NO SÉCULO XVIII EM VILA RICA

 

            Simão Ferreira Machado, que a tudo assistiu, escreveu um livreto do qual  selecionei alguns trechos, porque a narração total é muito extensa.

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Vila Rica

Quando se iniciava, no Arraial do Campo Alegre dos Carijós, a construção da nova matriz de Nossa Senhora da Conceição, o povo do arraial estava agitado  para ir a Vila Rica assistir a um desfile luxuoso que superou, em alguns pontos, a riqueza das atuais  Escolas de Samba, pois  não apresentavam apenas vitrilhos, paetês, missangas e brilhos fáceis, mas enfeites de ouro, prata, diamantes, enfim, adereços  de genuína qualidade, e tudo com muita Cultura e originalidade: a Procissão do Triunfo Eucarístico, realizada em  24 de maio de 1773.

O Santíssimo Sacramento fora transferido da matriz do Pilar para a ermida do Caquende, da Irmandade dos Irmãos Pretos de Nossa Senhora do Rosário, a fim de que se construísse uma nova matriz para o culto, pois a existente já se tornara pequena para o grande número de fiéis. Ficando pronto o templo, a Irmandade do Rosário, por conta própria, abriu um caminho beirando a montanha para que por ele passasse, de volta, a Custódia do Santíssimo Sacramento. .

Matriz do Pilar

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 Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Imagem da Internet

Simão Ferreira Machado, que a tudo assistiu, escreveu um livreto do qual  selecionei alguns trechos, porque a narração total é muito extensa. As palavras que estiverem em itálico é porque foram transcritas do texto.

A bênção da nova Igreja foi antes, no dia da Ascensão, prosseguindo as festividades com seis dias de luminárias entre os moradores da vila sendo que, num morro altíssimo, as luzes nas casas “pareciam aos olhos luminárias do Céu”..

No dia 24 de maio, nas ruas por onde passaria o cortejo, as janelas ostentavam sedas e damascos, com “lavores de ouro e prata, tremulando as idéias do Oriente, troféus à opulência do Ocidente”. Cinco arcos se erguiam, ricamente ornamentados com ouro e diamantes, o mesmo acontecendo com o altar onde descansaria o Divino Sacramento.

Após a missa e o sermão, saiu a procissão, precedida por uma dança de Turcos e Cristãos, por outras danças de Romeiros ricamente vestidos e pela dança de músicos “em cujas figuras era o ornato todo telas e preciosas sedas de ouro e prata” na qual dois carros faziam uma representação bíblica, saindo da abóboda do primeiro um Cavaleiro que ia  montar a serpente do segundo.

Simbolismos diversos e alusões culturais se faziam sempre presentes, como nas figuras a cavalo simbolizando os quatro ventos, Norte, Sul, Leste e Oeste, cada um deles ornamentado de maneiras diversas. Eis a descrição de apenas um deles:

“O Vento Oeste trazia na cabeça uma caraminhola de tisso-branco, coberta de peças de prata, ouro e diamantes, cingida de uma peluta branca, matizada de nuvens pardas; rematava posteriormente em um laço de fita de prata, cor de rosa, coberto de uma jóia de diamantes; ao alto um cocar de plumas brancas, cingido de arminhos; o peito coberto de penas brancas, umas levantadas outras baixas, todas miúdas; guarnecido de renda de prata, o capilar de seda branca de flores verdes, guarnecido de galões de prata; vestia uns manguitos de cambraia transparente e finíssimas rendas; três fraldões de seda branca e de flores verdes e cor de rosa, guarnecidos de franjas de prata; os borzeguins cobertos de pena; nas costas duas azas e um letreiro do seu nome; na mão esquerda uma trombeta, de que pendia um estandarte de cambraia transparente, bordada a mão, guarnecido de laços de fita de prata, cor de rosa e cor de fogo”.

                  

Participantes do desfile

  Em seguida, “vestidos à trágica”, surgiam, a cavalo, as figuras mais majestosas do cortejo. À frente a Fama, com precioso toucado de flores de diamante ornando-lhe a cabeça e na indumentária de finíssimos tecidos havia, entre outros enfeites, plumas, bordados de ouro, broche de diamante, franjas de ouro. “…sustinha na mão direita, pendente de uma haste de prata rematada em cruz, um estandarte de tela branca, em um uma face pintada a Arca do Testamento, e em outra uma Custódia, sobre um letreiro de letras de ouro que dizia: EUCHARISTIA IN TRASLATIONE VICTRIX”.Os pajens que a seguiam a pé vestiam trajes riquíssimos, representados como Mercúrio.

“Por ministérios destes, dirigiu a Fama, ao povo, vários e elegantíssimos poemas em elogio da solenidade”.

 (CONTINUA)

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  NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 10

O grande conhecedor de Arte, Pe. José Feliciano da Costa Simões,

de Ouro Preto, disse-me uma vez que já ficara horas

 observando os altares de nossa igreja.

Continuando a História de nossa amada Conselheiro Lafaiete:

17 de outubro de 1731 – Por provisão do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio de Guadalupe, foi autorizada a construção da nova Matriz, a qual se iniciou em 1733, tendo o seu término somente em 1825. Como o arraial crescesse seguindo a direção do Caminho Velho, estabeleceu-se o local para erguer-se o templo, que é a atual Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

 DOM FREI ANTÔNIO DE GUADALUPE ficou, assim ligado à trajetória de nossa terra. Era sacerdote franciscano, nascido em 27 de setembro  de 1672 em Amarante, Portugal. Foi nomeado bispo do Rio de Janeiro, em 1722, quando já tinha 50 anos de idade.

Cidade do Rio de Janeiro, onde Dom Frei Antônio de Guadalupe era bispo/
Imagem da Internet

 Era um homem experiente, quando se tornou bispo. Já fora juiz, deixando a carreira nos tribunais de justiça da Coroa, entrando para a ordem dos frades menores, dedicando-se à pregação e à atividade missionária. Assim sobre ele se expressou Fr. José de São Gualtér Lamatyde:

“… deu as costas ao mundo, quando o podia lisonjear com os adiantamentos bem merecidos do bom zelo, com que servia a Magestade no lugar de Ministro de Juiz de Fóra da Villa de Trancoso, aonde julgou, (e com solido fundamento) que era melhor ser parte no Paraiso da Religião, do que ser Juiz no século, para que no Juizo final se não trocasse a sorte de vir a ser réo sentenciado a final para huma eternidade de penas; podendo na Religião, pela observância do seu Instituto, ser promovido pela Magestade Divina ao Tribunal da sua glória.”

 Pregou nos púlpitos mais autorizados de Portugal, senso tido como um dos maiores daquele século. Vindo para o Brasil, apresentou muitos valores em sseu bispado.

Considerei ser importante falar sobre ele porque sua assinatura de aprovação está nos anais da construção de nossa Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Alguns trechos que achei muito interessantes em minha pesquisa sobre sua história no Brasil: após pregar numa missa sobre inimizades,chamou aos dois e a um cônego que estava sem falar com outros três, e reunindo todos os cônegos e dignidades na sacristia da igreja, os fez abraçar uns aos outros ‘não sem lágrimas de alguns companheiros’”. Achei esta formidável!!!

Outro trecho de que gostei muito: Foi às igrejas matrizes assistir à doutrina das crianças, tendo, uma vez, ele mesmo assumido a tarefa.

Faleceu em 31 de agosto de 1740.

Antes de falar um pouco das características do templo, quero alertar sobre  informações incorretas sobre ele. É um erro histórico (que eu mesma passei para meus alunos de Curso Primário por muitos anos)  dizer que foi construído pelos bandeirantes e pelos índios carijós; isso aconteceu com a primitiva igreja ainda no século XVII, em Passagem de Gagé.  O atual foi feito com um caprichoso planejamento, feito por carpinteiros e houve ajuda dos escravos  do Capitão-Mor Manoel Gonçalves Viana.

Quando o nosso ilustre historiador Antônio Luiz Perdigão chegou de volta à nossa cidade, procurou corrigir este erro, dizendo que não foram os bandeirantes e índios Carijós que construíram a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, situada entre a Praça Tiradentes e a Praça Barão de Queluz. Eles não tinham condições de realizar uma obra assim. Sua construção se deve a competentes carpinteiros, em terreno bem escolhido e segundo plano obediente às regras da época.

O outro erro é considerá-la como a primeira Matriz, ereta em 1709. Em seus escritos, Pe. José Duarte de Souza desmitificou essa informação corrente e apresentou anotações tiradas do Livro da Irmandade do Santíssimo, que se encontra em Mariana. De acordo com essas anotações, como a primeira Matriz, ereta em 1709, estava pequena para conter os fiéis, a Irmandade reuniu-se em 1731 e escolheu um terreno, localizado na região em direção à qual o arraial ia se expandindo, e o cercaram. O trabalho de construção iniciou-se em 1733, portanto 24 anos mais ou menos após a criação da paróquia. O sacerdote historiador deu várias pistas da localização da primeira matriz, apresentadas no relatório de visita de um bispo e na documentação da ordenação de um sacerdote.

Fazendo algumas pesquisas, levantei a tese de que era no local onde hoje se vê a Igreja de São João, um pouco mais para cima.

A Matriz atual, construída na Praça Barão de Queluz, que nos encanta o olhar e o coração, lançando no azul as suas belas torres, foi, assim, construída pela Irmandade do Santíssimo, com a ajuda financeira do povo, em lugar bem escolhido, de acordo com as regras da época, por experientes carpinteiros contratados e, como já citei, e de acordo com o Livro da Irmandade do Santíssimo da época, escravos de Manoel Gonçalves Viana trabalharam também na obra

Tive ocasião de ver, certa vez, o desenho de um engenheiro que quadriculou a parte da frente da Matriz em linhas transversais que passavam em cada ângulo de janelas, portas, torres e outros detalhes da construção. Algo muito perfeito e digno de admiração.

Apliquei ao desenho de sua parte da frente a Regra Áurea, fazendo sobre ele uma estrela de cinco pontas (um dos exemplos dessa regra) e deu certinho, uma das provas da competência de quem a planejou e construiu.


Veja a perfeição de suas linhas, a harmonia, a elegância de sua conformação/ Imagem da Internet

A Regra ou Proporção Áurea foi-nos legada pelos gregos, que padronizaram a arquitetura em termos de largura e altura, sendo a mesma muito utilizada em pintura, no Renascimento, por Leonardo da Vinci.

 

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