30 de abril de 2024 11:57

PF indicia 40 agentes da PRF e policiais militares por 26 mortes em cidade mineira

Em outubro de 2021, 26 pessoas foram mortas em dois sítios; policiais foram indiciados por homicídio qualificado, tortura e fraude processual.

A Polícia Federal (PF) indiciou 40 policiais por participação numa operação que deixou 26 mortos em uma chacina em Varginha (MG) em 31 de outubro de 2021.

Do total de indiciados, 24 são do grupo de elite da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e 16 atuam no Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar de Minas Gerais.

Os 40 policiais foram indiciados por homicídio qualificado, tortura e fraude processual.

A CNN teve acesso ao relatório da PF. Nele, o delegado do caso narra o dia do crime: “por volta das 5h:00, ao alvorecer, aguardando o primeiro sinal de luz solar, o dispositivo policial já colocado – atiradores de precisão posicionados em locais privilegiados, militares alinhados no lado direito do imóvel, PRF próximo ao muro defronte a rua – e já decidido pelo assalto ao imóvel iniciam-se as manobras de entrada. Primeiramente, uma caminhonete da PRF derruba o portão principal do Sítio”.

O investigador continua: “logo após equipe tática inicia entrada no perímetro alvejando as janelas frontais da edificação. Fração da tropa caminha até a entrada principal e arromba a porta da sala. Um grupo adentra ao imóvel e inicia a visualização dos que ali estavam e que, a essas alturas, corriam recém-despertos, desorientados e em desespero sem entender o que ocorria. Todos eram alvejados”.

“Quem passa pela mira dos policiais é alvejado. Final da ação: 26 mortos. Nenhum policial ferido. Aproximadamente 500 disparos efetivados pelos agentes do Estado. Aproximadamente 300 cartuchos deflagrados encontrados pela perícia. Somente 20 disparos atribuídos às armas dos roubadores. Neste computo, há de se ressalvar aquelas para as quais as evidências apontam para tiro simulado perpetrado pelos próprios policiais”, detalhou a PF, no documento enviado à Justiça Federal.

A Polícia Federal também destaca possível fraude processual e diz que em 14 de maio de 2023, dois anos após a ocorrência dos fatos investigados, a defesa técnica dos policiais rodoviários federais requereu, sem justificar o porquê, a juntada aos autos de vídeos supostamente produzidos às vésperas da ação. O conteúdo dos vídeos são imagens aéreas produzidas por drone – supostamente controlado por um dos policiais que atuou na investida policial e revelam os chamados sítio 1 e Sítio 2 antes da morte dos suspeitos.

“Em verdade, a oferta extemporânea das referidas imagens revelou, ressalvado melhor juízo, sério descompromisso da Polícia Rodoviária Federal com a presente investigação. Qual a razão de dito material não ter sido prontamente entregue à autoridade policial já no dia dos fatos? Qual a razão de todos os policiais rodoviários federais terem sido perquiridos em sede administrativa e em sede policial e terem olvidado tão relevante informação? Onde estava esse material nos últimos dois anos? Quem dele tinha conhecimento?”, indagou o delegado do caso.

Relembre o caso

Em 31 de outubro de 2021, 26 pessoas foram mortas em dois sítios de Varginha em uma operação da PRF e da PMMG. A operação teve o objetivo de combater a investida de um grupo de assaltantes de banco. Segundo a apuração na época, o grupo roubaria um banco no dia seguinte.

Os criminosos eram de seis unidades da federação (Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Pará, Rondônia e São Paulo).

À época, a PRF – responsável por rodovias – considerou a operação um sucesso contra o crime organizado, mas a reconstituição pericial mostra que algumas das pessoas mortas estavam desarmadas ou deitadas e escondidas embaixo de mesas.

Outro lado

A CNN procurou a PRF e a PMMG para comentar o caso. A Polícia Rodoviária Federal respondeu em nota que “combateu um grupo criminoso dedicado à tomada de cidades para cometimento de ilícitos, prática de banditismo comumente conhecida como ‘Novo Cangaço’”. E que, “na ocorrência, um farto armamento foi apreendido: metralhadora .50, fuzis de grosso calibre, pistolas, dezenas de quilos de explosivos e grande quantidade de carregadores e de munições”.

“A PRF destaca o compromisso com os limites constitucionais e a defesa do estado democrático de direito, incluídos o princípio da presunção de inocência dos agentes, a garantia ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. A Polícia Rodoviária Federal colabora com os órgãos competentes para esclarecimento de todos os aspectos da ocorrência. No âmbito administrativo, a Corregedoria-Geral da PRF reabriu procedimento apuratório ainda em 2023 frente ao surgimento de novas evidências”, finaliza a nota.

FONTE CNN BRASIL

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