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Descubra os destinos para pegar um gostoso friozinho na serra da Mantiqueira

Extrema, Gonçalves e Monte Verde se beneficiam de temperaturas baixas para acolher os turistas que buscam aconchego

Marcava 10ºC no termômetro local, e uma bruma espessa já tomava conta da paisagem. Há menos de uma semana, eu estava na serra da Mantiqueira, em uma região de montanhas com altitudes acima de 1.000 m, localizadas na borda de três Estados – 10% delas em terras fluminenses, 30%, em São Paulo e 60% em Minas Gerais. Para chegar a esse paraíso montanhoso, o ideal é ir de carro próprio ou alugar um veículo utilitário-esportivo, porque boa parte dos atrativos só pode ser acessada por estradas de terra. A partir de Belo Horizonte, a viagem dura quase seis horas via BR-381; a partir de São Paulo, o trajeto encurta-se em três horas e meia. 

Na serra da Mantiqueira, nossa visita mira três destinos escolhidos pelo governo de Minas para curtir o frio do Estado – Monte Verde, considerada uma das cinco localidades brasileiras mais frias deste inverno; Extrema, na divisa com São Paulo; e Gonçalves, destino no qual o turismo de experiência proliferou nos últimos anos. Os três locais estão inseridos na campanha Inverno em Minas, que combina gastronomia, natureza, patrimônio histórico e muita aventura. Essa iniciativa também faz parte do projeto “Ano da Cozinha Mineira – Clássica e Contemporânea”. Segundo pesquisa do Observatório do Turismo, a culinária é o motivo pelo qual 36% dos turistas dizem visitar o Estado.

Para estimular o turismo na região nesta época do ano, o governo de Minas convidou, no final de junho, um grupo de 40 jornalistas de Minas Gerais e de todo o país para conhecer cinco territórios do Estado, entre eles a região produtora de vinhos, a Canastra/Mar de Minas, o Espinhaço/Diamantina, o Circuito do Ouro/Estrada Real e, por fim, o Sul de Minas/Mantiqueira. As press trips foram organizadas pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, com patrocínio da Cemig, vai Lei de Incentivo à Cultura. O projeto turístico coincide com os tradicionais festivais de inverno que ocorrem nesta época do ano e propõe ainda uma valorização da cozinha mineira, patrimônio imaterial do Estado desde julho do ano passado.

Extrema

Depois de horas de estrada, nossa primeira parada foi no Armazém Bertolotti para degustar uma costelinha de porco no jeitinho mineiro (foto acima) ou o Tour Mineiro, ambos os pratos acompanhados de ovo caipira, linguiça artesanal, couve refogada, polenta frita, banana frita, arroz, viradinho de feijão e farofa, servindo bem de duas ou três pessoas, ao preço de R$ 175. Para abrir o apetite, a porção de torresmo (R$ 69) vem à mesa dentro de um porquinho de cerâmica. A comida farta e a hospitalidade local indicam que aterrissamos em terras mineiras. Para dar as boas-vindas, cerveja artesanal Bertolotti e caipirinhas com cachaças locais e frutas da estação.

Localizada na divisa com São Paulo, 973 m acima do nível do mar, Extrema tem no ecoturismo o ponto forte. Na área urbana, o Parque Cachoeira do Jaguari é um espaço de lazer para a população; fora do município, o Parque Cachoeira do Salto tem excelente infraestrutura. Ambas as áreas de preservação são cortadas pelo sinuoso e caudaloso rio Jaguari. Por causa das fortes correntezas e pelas pedras escorregadias, o turista não pode se banhar nas águas, apenas contemplar a paisagem a partir de mirantes. Estradas e trilhas também levam ao pico dos Cabritos, pedra do Sapo, pedra do Cume, pico do Lobo-Guará, pico do Lopo e a duas rampas de voo livre.

A proximidade com São Paulo fez de Extrema um ótimo local para compras, proliferando outlets como o da Centauro, que oferece produtos com imperceptíveis defeitos a descontos de 70%, e da Bauducco, com seus panetones, chocotones, bolachas recheadas, cookies e torradas a bons preços. Depois de um dia intenso, a dica é descansar no Hotel das Amoreiras, um refúgio cercado por um boque e com excelente infraestrutura para aproveitar o friozinho da montanha. A pedida no final da noite foi a Cervejaria Extremosa (foto acima), localizada no Parque Cascata do Jaguari, com cardápio de pastéis de angu, bolinhos de linguiça, torresmo à pururuca, carnes, massas e sanduíches.

O carro-chefe da Extremosa, no entanto, são suas cervejas artesanais. Ao preço de R$ 68, a régua de degustação inclui seis estilos de cervejas. Os chopes, todos autorais, fazem sucesso na casa, entre eles o Pérola da Mantiqueira, com leve aroma cítrico e baixo amargor, e o Chope de Vinho, uma cerveja Pilsen com adição de vinho bordô suave e um toque a mais de carbonatação.

Monte Verde

Cerca de 52 km separam Extrema de Monte Verde, uma das localidades mais frias do Brasil nesta estação. O distrito de Monte Verde (foto acima) é o segundo lugar mais alto do Brasil, com 1.555 m, atrás apenas de Campos do Jordão (SP). Os termômetros podem chegar a -10ºC no inverno. Com boa infraestrutura turística, com hotéis e pousadas aconchegantes, com lareira, camas térmicas e banheiras de hidromassagem, os atrativos estão um tanto espalhados pela região. A maioria dos programas está ligada à natureza, à gastronomia e às compras. A área urbana se resume a uma avenida homônima com lojas, chocolatarias e restaurantes com arquitetura de estilo alpino.

Um dos atrativos mais curiosos da avenida Monte Verde é o IceBar. Inaugurado em 2019, o bar foi construído com 18 mil kg de cristais de gelo, com interior de esculturas instagramáveis de gelo, como um trono, um urso, um termômetro, um lustre com cubos de gelo, um boneco de gelo e um coração, além de plaquinhas com inscrições bem-humoradas. O visitante é devidamente agasalhado com casaco, luvas e gorro para suportar temperaturas de -15ºC. Um bar vende bebidas alcóolicas e não alcóolicas para esquentar os visitantes, que podem permanecer apenas 30 minutos no recinto. A entrada custa R$ 70 (com uma bebid inclusa) e aR$ 80 (com duas bebidas inclusas) para adulto para adultos e R$ 40 para crianças de 4 a 10 anos (com bebida não-alcoólica). O combo de fotos pode ser comprado a R$ 50.

A fondue (foto acima), prato de origem suíça, bate ponto em todos os cardápios nos finais de noite. Nossa dica é o L’Archange Gourmet Bistrô, localizado no spa L’Occitane, do Hotel Saint Michel. O L’Archange oferece atmosfera sofisticada, com iluminação baixa, lareira e música de fundo, além de um atendimento diferenciado. O Sequencial L’Archange é o trio de fondue – queijo gruyère (com vinho branco e acompanhado de pão italiano, batata rústica e brócolis no azeite), carne (por imersão em óleo de canola e com seis molhos caseiros) e chocolate (feito com blend de chocolates servido com marshmallow e frutas da estação) –mais completo da casa.

Os dois programas mais interessantes levam à Escola de Falcoaria e à Fazenda Off-Road. Na escola, que desde agosto de 2023 está em endereço novo, somos recebidos pelo biólogo Riuvanio Rodrigues. O espaço foi criado em 2016 com a proposta de reabilitação de aves de rapina recolhidas em operações policiais no Sul de Minas e no Norte de São Paulo. O falcoeiro explica que a escola tem função acadêmica, recebendo alunos de medicina veterinária para estágio obrigatório de final de curso e extensão acadêmica, e recentemente tem firmado parceria com empresas de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para começar a montar um setor de controle biológico de espécies.

Sem verba ou ajuda de custo, Riuvanio (foto acima) abriu as portas aos turistas – a visita começa com uma instrução sobre as aves de rapina e seu manejo. O custo é de R$ 140 por pessoa. “Como trabalhamos com o bem-estar das aves e o relógio biológico delas, as aves não encaram intempéries, ou seja, em época de chuva elas não podem voar”, explica. Na aula, o visitante leva a ave no braço para um voo, com direito a fotos e pose. Hoje, o plantel conta com nove aves, sendo quatro gaviões-asa-de-telha adquiridos em criadouro, um gavião-de-calda-branca recolhido pela polícia, uma coruja-listrada, duas suindaras e um mocho-orelhudo. A atividade é recomendada para pessoas a partir de 7 anos.

“Ver uma ave de rapina voar e pousar no seu braço é uma experiência única. Por isso, pedimos encarecidamente que as visitas sejam agendadas. Não permitimos que as aves fiquem expostas à visitação, aqui não é um zoológico nem um parque de diversão”, explica Riuvanio. Ao agendar a visita, o turista já recebe todas as orientações para garantir sua segurança e o bem-estar das aves. “A atividade está condicionada ao bem-estar da ave, porque ela é um predador do topo da cadeia alimentar, e isso não foi retirado dela. Podem acontecer alguns arranhões não por vontade da ave, mas por acidente. Ela usa seu braço como um galho, um trampolim”, conta.

A região tem muitas aves de rapina, como o gavião-pega-macaco e o carcará. As aves da Escola de Falcoaria atendem por nomes como Gaia, Uriel, Jade, Atena, Apolo, Dara, Xande e Strix, e há uma ave em reabilitação. A falcoaria surgiu há aproximadamente 4.500 anos com a necessidade que o homem primitivo teve de conseguir seu próprio alimento. Hoje ela é praticada por povos do mundo todo e considerada uma forma de arte devido ao alto grau de dedicação e conhecimento exigidos na sua prática. A arte da falcoaria é reconhecida pela Unesco como patrimônio cultural imaterial intangível da humanidade desde 2010.

Outro passeio muito comum e muito procurado em Monte Verde é o de quadriciclo (foto acima). O distrito é conhecido por ter uma das maiores frotas de quadriciclos do país. A locação do veículo é oferecida em circuitos fechados pelas fazendas Aventura Radical, Radical, Off-Road e das Samambaias. O circuitona Fazenda Off-Road (35/9745-0686) dura cerca de uma hora e é feito em uma trilha exclusiva. De nível intermediário, o percurso conta com subidas, descidas, atoleiro e parada para descanso em mirante. Cada veículo leva duas pessoas, e o preço é em torno de R$ 110 por quadriciclo. Quem curte adrenalina ainda pode contratar pacotes de megatirolesa, arvorismo, escalada e arco e flecha a partir de R$ 135.

Em Monte Verde, a hospedagem tem um protagonismo importante na viagem. A maioria dos hotéis carrega o hóspede de conforto e mimos, como chalés no meio da mata, lareiras, banheiras de hidromassagem, piscinas aquecidas e belas vistas. O Mirante da Colyna e a Fazenda Itapuá trazem tudo em seu DNA. O primeiro fica literalmente no alto de uma colina, com vista panorâmica para Monte Verde e os principais picos da região; o segundo é um refúgio em um bosque com trilhas e um rio de águas cristalinas e corredeiras. A infraestrutura de ambos se assemelha à de um resort, com quadras, playground para crianças, sala de cinema, saunas e spa. 

O Mirante da Colyna inaugurou há um mês e meio o restaurante giratório Sierra 360º (foto acima). A 15 m de altura, o restaurante dá uma volta em 360º em aproximadamente uma hora, enquanto os comensais desfrutam das delícias do cardápio e da vista privilegiada. O espaço já virou ponto turístico, portanto recomenda-se agendamento. O cardápio com toque contemporâneo tem pratos como stinco de cordeiro ao Barolo e funghi (R$ 138) ou Mineiro Mirante, um feijão cozido com especiarias mineiras e ligado com farinha de mandioca, banana à milanesa, costelinha de porco, torresmo, queijo meia-cura e couve refogada (R$ 105), harmonizados com boa carta de vinhos. 

Gonçalves

Nosso último destino, Gonçalves, carrega a autenticidade de uma pequena cidade de interior encravada entre as montanhas. No centrinho, pode-se explorar lojas charmosas, como a Senhora das Especiarias, da paulistana Fernanda Kurebayashi, que pediu emprestado o nome do livro da indiana Chitra Banerjee Divakaruni para produzir geleias, chutneys, antepastos e conservas; e A Pioneira, um empório de doces, queijos e vinhos. Duas paradas obrigatórias são as feiras Orgânicos da Mantiqueira, aos sábados, para se encantar com a produção de empreendedores locais, e Arte, Cultura e Gastronomia da Mantiqueira, com uma pequena amostra dos criativos artesãos locais.

A cidade já oferece há anos ao visitante o turismo de experiência. Nosso tour começa pelo Alambique Três Barras, que produz a cachaça Gonçalves (foto acima) desde 1952. A tradição, passada de pai para filho, agora está nas mãos de José Menino Ferreira, que resolveu dar continuidade à fabricação desde 1985. Todas as instalações de engenho são originais. A cana-de-açúcar é plantada na propriedade, transportada em trator, moída em moinho d’água, canalizada para um tonel para fermentação (transformação do açúcar em álcool por meio de levedura) e, 24 horas depois, encaminhada para decantador, respirador e tanques de fermentação e destilação. 

Hoje, o Alambique Três Barras produz entre 5.000 L e 10 mil L por safra. Além de ver de perto todo esse processo sustentável de produção, o alambique oferece degustação de 14 cachaças, com teor alcoólico de 46%. A cachaça é envelhecida em tonéis de madeira de carvalho, amburana, amendoim e bálsamo. A degustação começa pela branquinha, envelhecida em barril de carvalho por pelo menos quatro anos, e se estende pelas cachaças saborizadas de canela, abacaxi, banana, figo, mel, grão de café torrado, amendoim e outros sabores da safra de 2016/2017. Cada garrafa é vendida ao turista por R$ 45.

Nossa próxima parada é no bairro rural mais antigo de Gonçalves, São Sebastião das Três Orelhas. Um dos argumentos para o nome do bairro é a existência de três pedras – a pedra Chanfrada, a pedra do Forno e a pedra do Barnabé, que lembram o formato de uma orelha. O bairro ainda abriga a Cervejaria Três Orelhas (foto acima). Em 2017, em um passeio a Mantiqueira o empresário Bruno Faria conheceu Gonçalves e se encantou. Uma viagem à Bélgica era o que faltava para apaixonar-se pelas cervejas artesanais. Hoje, a Três Orelhas produz mais de 30 estilos de cervejas. “Temos cervejas de todas as escolas: belga, alemã, inglesa e norte-americana”, pontua.

O restaurante cresceu de tamanho, ganhou deck e virou referência turística. As cervejas são servidas frescas em suas torneiras, diretamente da câmara fria. Entre os rótulos estão a refrescante e aromática Gonçalve-se, uma american pale ale; a Abróba, uma pumpkin ale com abóbora e especiarias; e raridades como a Reserva do Patrão, uma russian imperial stout envelhecida em barris de carvalho. Enquanto admira a beleza da serra da Mantiqueira, o turista harmoniza as cervejas com petiscos e pratos da cozinha da Mantiqueira, como truta, torresmo, tropeiro, carne de lata, linguiça artesanal e orgânicos, todos produtos adquiridos dos pequenos produtores locais.

Gonçalves apostou no turismo há mais de 30 anos. A cidade, que recebe cerca de 60 mil turistas nos meses de junho e julho, tem cerca de10 mil leitos e 1.300 chalés. Na alta temporada do ano passado, só a locação pela plataforma Airbnb injetou R$ 25 milhões na economia. Uma dica de hospedagem é a Pousada Vida Verde, com 25 unidades, entre suítes e chalés, com lareira, varanda, banheira de hidromassagem e colchão térmico. “Gonçalves é diferente de Monte Verde e Campos do Jordão, aonde as pessoas vão para curtir balada. Em Gonçalves, às dez da noite não tem mais nada, as pessoas vão curtir o chalé”, afirma Bruno Mello, secretário de Cultura e Turismo.

Na Casa dos Cogumelos, Felício Costa (foto acima) ensina, de forma didática e detalhada, os intrincados processos de produção de cogumelo. Ele explica que os fungos são “seres filamentosos que se alimentam por absorção”. “A forma que a gente mais conhece do fungo é a decomposição, a matéria orgânica, um amontoado de minerais”, conta. No tour, ele leva o visitante para um espaço indoor, frio, úmido e escuro, onde os cogumelos se reproduzem. O passeio termina na cozinha com degustação. É nessa etapa que os cogumelos podem surpreender o paladar. Na saúde, o cogumelo é indicado para controlar a pressão arterial, os níveis de açúcar no sangue e o sistema imunológico. 

O jantar é uma experiência no Sabor Sem Freio, inaugurado há pouco mais de um mês, do chef Danilo Costa (foto abaixo), um dos finalistas do “Masterchef 2023”. No terreno da avó, um espaço de afetividade, ele construiu seu restaurante. A proposta é uma comida mineira, de memória afetiva, que te lembre a de sua avó, de sua mãe”, conta. O cardápio é bem enxuto, com pratos como a galinhada, que garantiu sua entrada no reality da Band, o bife de ancho com virado de banana, também feito no programa, e o baião de dois mineiro, uma releitura com pernil. “Não podemos fugir do porco, da galinha e do milho, os ingredientes básicos”, defende. Os preços variam entre R$ 40 e R$ 75.

FONTE O TEMPO

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