Quem tem uma Volkswagen Amarok ou um Jeep Grand Cherokee fabricado entre 2013 e 2021 na garagem já deve ter ouvido falar na bomba de alta pressão CP4 da Bosch. A peça tem causado dores de cabeça em diversos proprietários no Brasil, Estados Unidos e outros países da América devido a um problema crônico: com tempos variados de uso, sofre um desgaste que gera limalhas que se espalham e danificam componentes do sistema de combustível. Segunda a própria Jeep, o defeito pode causar acidentes fatais.
De acordo com engenheiro mecânico Ronald Funari, proprietário da Funari Automotiva, o problema realmente está muito famoso e a grande questão é que não há sintomas, o veículo simplesmente demfuncionar.
“Já pegamos vários carros com esse defeito, alguns com menos de 20 mil quilômetro rodados. Na prática, o diesel que entra para lubrificar a peça acaba gerando um desgaste que cria pequenas limalhas. Elas se espalham pelo sistema e danificam várias peças, como bicos injetores e sensores”, explica o engenheiro.
Para resolver o problema, é preciso trocar a bomba e os itens danificados. Um serviço que varia de R$ 15 mil a R$ 20 mil, podendo ser ainda mais caro dependendo do estrago feito pelas limalhas. Encontramos relatos de pessoas que chegaram a gastar R$ 50 mil.
Engenheiro mecânico especialista em defeitos crônicos em veículos, André de Maria explica que o mesmo problema acontece na Amarok, Grand Cherokee e de outros tantos modelos dos Estados Unidos movidos a diesel.
“O fabricante de bomba diesel produz um mesmo projeto e só muda a interface do eixo, que vai se adequar ao do motor do carro. 80% dos sistemas de injeção direta nesta faixa de cilindrada de motores é fabricada pela mesma marca. O que assusta é que esse tipo de falha parece ter surgido ainda em veículos de 2012, são 10 anos de produtos com baixa qualidade”, argumenta.
A Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário, principal órgão de trânsito dos Estados Unidos, conhecido pela sigla NHTSA, está realizando uma investigação sobre uma série de falhas em bombas de combustível de alta pressão que afetam veículos Ram e Jeep movidos a diesel. Até agora, a principal teoria do grupo de trabalho é que estas bombas de combustível, fornecidas pela Bosch, falham devido à falta de qualidade do diesel dos Estados Unidos.
O combustível de baixa qualidade é justamente o argumento da Bosch para o problema. Sobre os defeitos na bomba CP4, a marca afirmou ao UOL Carros que “o uso de combustíveis de má qualidade e problemas com filtragem podem ocasionar a degradação de componentes do sistema de injeção diesel e de outras partes do motor. O aparecimento de partículas metálicas foi relatado por alguns proprietários de veículos comerciais leves, que pode estar atrelado ao uso de combustível e/ou manutenção indevidos”.
Para evitar esse tipo de problema, a Bosch afirma que “é importante abastecer com diesel S10 de qualidade e procedência, assim como seguir rigorosamente o plano de revisão/manutenção indicado no manual do fabricante do veículo”.
Falta peças para conserto
O defeito na bomba de combustível já é reconhecido pela Jeep no Brasil desde julho de 2022, mas a grande questão é que faltam peças para resolver. No ano passado, a marca informou aos proprietários dos veículos Jeep Grand Cherokee, anos/modelo 2013, 2014, 2015, 2018, 2020 e 2021, motorização 3.0 V6 Diesel, que foi identificada a possibilidade de a bomba de combustível apresentar problemas internos de funcionamento, interrompendo o envio de combustível ao motor com o veículo em movimento, potencializando a ocorrência de acidentes com danos materiais, danos físicos graves ou até mesmo fatais aos ocupantes do veículo e/ou terceiros.
Na época, a marca alegou que, tão logo a solução técnica estivesse disponível, os consumidores seriam novamente comunicados para realizarem o agendamento gratuito do reparo em uma das concessionárias da rede Jeep. A questão é que, quase um ano depois, os proprietários ainda não foram chamados para recall. Estão envolvidas nesta campanha 2.960 unidades do Jeep Grand Cherokee, com os números de chassi não sequencial (últimos oito dígitos) de DC515770 a MC772692.
“A Stellantis aproveita a oportunidade para ressaltar que os Órgãos Governamentais e os clientes foram informados por meio de um aviso de risco (recall) e assim que a solução estiver disponível, os consumidores serão chamados para atendimento”, disse, por meio de nota.
Nos Estados Unidos, a General Motors (que controla como a Chevrolet e a GMC – marca de picapes e SUVs que atua no mercado americano) está respondendo a uma ação coletiva por “construir centenas de milhares de caminhonetes com motores incompatíveis com o diesel produzido nos Estados Unidos”. De acordo com a denúncia, as bombas Bosch CP4 foram projetadas para funcionar com óleo diesel produzido na Europa, que é mais espesso e, portanto, não funciona da mesma forma com o combustível norte-americano.
Já a Amarok não possui nenhum chamamento de recall sobre a bomba de combustível. Sobre o tema, a Volkswagen afirma que “não possui conhecimento técnico sobre os produtos e aplicações de outras montadoras. A Volkswagen ressalta ainda que seus produtos não representam risco à saúde e à segurança do consumidor.”
FONTE UOL