Livro expõe novos aspectos da vida e obra do maior expoente da arte colonial brasileira, celebrado nos 210 anos de sua morte
Das mãos do artista brotaram maravilhas, na forma de imagens em cedro, esculturas em pedra-sabão, altares e outras tantas obras que encantam o mundo. Seu nome, Antônio Francisco Lisboa, fez história, e o apelido, Aleijadinho, se tornou símbolo do Barroco e tradução da mais genial arte colonial brasileira. No próximo dia 18, com programação, homenagens e toque de sinos, serão lembrados os 210 anos do falecimento do escultor, entalhador, marceneiro e perito (na época, chamado “louvado”), natural de Ouro Preto, filho do mestre-arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e da escravizada Isabel. A programação da 45ª Semana do Aleijadinho unirá arte, cultura, contemporaneidade e patrimônio.
Passados mais de dois séculos, o que há ainda para se descobrir sobre o patrono das artes no Brasil? “Muito… sobre a vida e a obra”, responde o vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, que lança, na próxima quarta-feira (13), às 19h, em Congonhas, na Região Central de Minas, o livro “Aleijadinho revelado – Segunda edição”. Durante mais de três décadas, em arquivos do país e da Europa, Souza Miranda localizou documentos que “podem mudar a história”, conforme ressalta. No dia seguinte (14), às 20h, o livro será lançado em Ouro Preto, no Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição.
Nesta matéria especial sobre o escultor dos 12 profetas do adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, reconhecido como Patrimônio Mundial, o Estado de Minas conta a trajetória de Aleijadinho em cinco partes: Revelações, O discípulo, As obras, O encantamento e A história, traçando ainda uma linha do tempo e apresentando um roteiro dos tesouros que o artista deixou como legado em Minas. Quem já viu seu trabalho grava na memória; quem admira pela primeira vez sente que os séculos só aumentam o poder do talento de Antônio Francisco Lisboa.
São 30 anos pesquisando, procurando documentos no Brasil e na Europa e se surpreendendo com a trajetória de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, falecido em 18 de novembro de 1814 e sepultado sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte, na Igreja Nossa Senhora da Conceição, de Antônio Dias, no Centro Histórico de Ouro Preto. Na segunda edição do seu livro sobre a vida e o legado do chamado “mestre do Barroco”, Marcos Paulo de Souza Miranda faz novas revelações sobre o artista. E está certo de que algumas mudam a história conhecida.
A obra dele é muito maior do que se imagina, observa Souza Miranda: “Basta dizer que, nos últimos anos, foram identificadas duas imagens de São Francisco atribuídas ao mestre do Barroco. Pertenceriam a ‘presídias’ ou filiais de ordens religiosas.” Um dos santos de devoção, o São Francisco da Penitência, de Cipotânea, na Zona da Mata, retornou ao local de origem em maio de 2023, após ser restaurado e merecer estudos no Centro de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG). O outro objeto de fé, localizado mais recentemente, não está sendo ainda divulgado por medida de segurança.
Em Congonhas, na Região Central de Minas, Souza Miranda encontrou a certidão de óbito, de 1810, de um escravizado de nome Maurício, que trabalhou com Aleijadinho. “Esse documento indica que a oficina do artista pode ter ficado na cidade por mais tempo. E, portanto, produzido mais peças sacras”, ressalta o autor de “Aleijadinho revelado”. Conforme a documentação conhecida (recibos de pagamento ao artista), Aleijadinho fez, entre 1796 e 1799, as 64 esculturas, em cedro, das capelas dos Passos da Paixão; e, de 1800 a 1805, os 12 profetas, em pedra-sabão, do Santuário Bom Jesus de Matosinhos.
Também na “cidade dos profetas”, o vice-presidente do IHGMG encontrou um documento, de 1724, comprovando que o pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa, morou ali entre 1724 e 1726. “Isso muda muito a história, pois, até agora, a informação existente é que ele estaria, nessa época, em Ouro Preto. Assim, os primeiros serviços podem ter sido feitos em Congonhas”, diz o autor do livro.
Já em Ouro Preto, Souza Miranda verificou outra faceta nas atividades de Aleijadinho. “Ele teria sido responsável pelo conjunto da Samaritana (nicho, estátua e aguadeira), existente em imóvel da Rua Direita, no Centro Histórico. “Trata-se da única obra civil particular conhecida do artista, O serviço foi requisitado por um contratador de impostos. Na época em que viveu Aleijadinho, as obras eram contratadas pelas irmandades (associações de leigos) para igrejas e capelas.” A estátua da Samaritana (pedra sabão, com 1,05 metro de altura), hoje no Museu da Inconfidência, ficou desaparecida por 40 anos até ser apreendida na Pampulha, em Belo Horizonte, e levada para Ouro Preto em 10 de outubro de 2013.
TRÊS ANJOS
Outra informação nova, dessa vez quanto ao estilo do artista, veio de observação na igreja matriz de São José de Odivelas (cidade atualmente da região metropolitana de Lisboa, em Portugal), de onde vieram o avô de Aleijadinho, João Francisco, e três filhos. “Os três anjos, que são marca registrada do trabalho de Aleijadinho, estão presentes nos altares do templo em São José de Odivelas. Certamente, veio daí a inspiração para o trabalho, com informações transmitidas pelo pai.”
A citação dos antepassados do artista é a senha para se conhecer um lado familiar curioso. “O avô dele, João Francisco, estava preso na aljube (cadeia) de Lisboa, em Portugal, quando se casou. “A união com a avó de Aleijadinho foi realizada, portanto, na prisão”, conta Souza Miranda. Outra informação, constante da primeira edição do livro, só tem se fortalecido com as pesquisas do promotor de Justiça. Em que ano nasceu Aleijadinho? Em livros, as datas são 1730 e 1738, mas ele está certo de que foi em 1737, pois encontrou em arquivos da Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, o registro de nascimento de Antônio Francisco Lisboa, filho da negra forra Isabel.
“Os estudiosos, certamente, procuravam o registro apenas pelo nome do pai, o artífice português Manuel Francisco Lisboa. A questão é que, naquela época, pelo direito canônico, era proibido que constassem dos registros os nomes dos pais quando os dois não fossem formalmente casados. Daí só haver o nome da mãe no documento. Além disso, o costume era levar a criança à pia batismal logo após o nascimento.”
45ª Semana do Aleijadinho, em Ouro Preto
Até o dia 18, haverá uma série de cerimônias, como missas e atividades, incluindo visitas guiadas, palestras, oficinas, apresentações musicais, exposições e outros. A programação (gratuita) completa está no site e e nas redes sociais da Paróquia Nossa Senhora da Conceição.
Dia 18 de novembro, Dia do Aleijadinho
12h – Toque de sinos em homenagem ao mestre do Barroco
19h – Missa solene de Réquiem, no Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, presidida por dom Edmar José da Silva, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Força que vem de minas
Os desenhos a lápis sobre papel mostram cenas do cotidiano de Aleijadinho: o mestre segurando o malho (também conhecido como macete), o movimento na oficina, gente trabalhando. As cenas nasceram da imaginação de Luciomar Sebastião de Jesus, natural de Congonhas e residente na “cidade dos profetas”, onde tem seu ateliê no Beco dos Canudos, perto do Santuário Bom Jesus de Matosinhos. Quando o repórter pergunta ao escultor, desenhista e pintor se ele se considera um discípulo de Aleijadinho, ele apenas sorri, e, com orgulho, reafirma sua admiração “pelo maior artista brasileiro dos tempos coloniais”. E resume: “É a força que vem de Minas. Minha fonte de inspiração.”
Certo de que não surgiu na América Latina artista tão importante e raro como Aleijadinho, Luciomar lamenta que o gênio do Barroco não figure em muitos catálogos internacionais. “Acho que existe preconceito”, observa o morador de Congonhas para quem Antônio Francisco Lisboa, ao lado do italiano Michelangelo (1475-1564) e o francês Auguste Rodin (1840-1917), forma a “trindade” de seus ídolos-escultores.
No ateliê, há livros, esculturas, gravuras e uma caixa verde, de onde Luciomar retira uma massa de argila. A equipe do EM vê o material e se impressiona com a transformação que ocorre com o talento das mãos e a beleza da criatividade. Em pouco tempo, a argila ganha forma e se transmuta nas feições de um dos apóstolos existentes na Capela da Santa Ceia – um dos seis Passos da Paixão de Cristo com as 64 peças, em tamanho natural, em cedro, esculpidas entre 1800 e 1805. É um trabalho com alma que a um simples toque dos dedos, abaixando as pálpebras ou arqueando as sobrancelhas, altera completamente o semblante.
Autodidata, Luciomar explica que gosta de arte desde pequeno, e essa afeição foi influenciada pelo avô, Geraldino Navarro, que era luthier (profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de corda, tipo viola, violão e violino). “Sou de família católica. Quando menino, ia à missa com meus pais e ficava maravilhado com os profetas.”
Escultor de muitas peças espalhadas pelo país, a exemplo da imagem de Nossa Senhora do Carmo, feita para Betim, na Grande BH, onde está também uma homenagem em bronze aos bandeirantes, e da escultura (2,5m de altura) da imperatriz Teresa Cristina (1822-1889), para Petrópolis (RJ), Luciomar explica que todos os caminhos o levam a Aleijadinho. “Nasci e vivo à sombra do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Então, essa atmosfera me acompanha desde o berço.”
AS OBRAS
O legado já conhecido de Aleijadinho pode ser admirado em várias cidades de Minas, porém fica em Congonhas o acervo mais extraordinário com a assinatura do mestre do Barroco. A obra-prima. Estão no município, distante 89 quilômetros de Belo Horizonte, os 12 profetas em pedra-sabão, no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, e as 64 esculturas em tamanho natural nas seis capelas que retratam a Paixão de Cristo: Santa Ceia, Horto das Oliveiras, Prisão, Flagelação e coroação de espinhos, Cruz às costas e Crucificação.
Segundo o diretor Municipal de Patrimônio de Congonhas, Hugo Cordeiro, a restauração das capelas, das portas e janelas, está no final: “Estamos com 90% prontos, faltando só o término da Crucificação”. As intervenções nos Passos da Paixão de Cristo, conduzidas pela Prefeitura de Congonhas, começaram em setembro de 2023, com uso de material (cal, argamassa de cal e areia) e técnicas da época da construção, contemplando a recomposição de rebocos e algumas partes degradadas, tratamento das cúpulas, limpeza das cantarias e pintura das esquadrias de madeira.
Todo o serviço tem acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois os bens são tombados pela União e integram o complexo arquitetônico e artístico (incluindo os 12 profetas) reconhecido como Patrimônio Mundial, em 1985, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Também no ano passado, num trabalho de conservação, as esculturas em cedro passaram pelo processo de desinfestação denominado anóxia ou anoxia, para matar cupins e evitar a proliferação dos insetos, caso presentes na madeira. O serviço esteve a cargo do Grupo Oficina de Restauro, tendo à frente o restaurador Adriano Ramos. Conforme explicou Adriano, a técnica consiste em colocar as imagens dentro da bolha de plástico especial – cada uma tem 3 metros de comprimento, 2m de largura e 1m de altura –, fechada com barreiras e válvulas. Quando tudo está bem acondicionado e vedado, a equipe técnica injeta nitrogênio para ser retirado todo o oxigênio existente no interior da bolha. O trabalho de desinfestação foi realizado graças a recurso de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal.
Após a missa, haverá a inauguração da estátua do Aleijadinho esculpida pelo artista Elias Layon
Encantamento e contemplação
Diante dos profetas, impossível não ser tomado pelo encantamento. Os olhos contemplam a obra prima de Aleijadinho. E assim se sentiram os turistas paulistas. Breno Vinícius Alves da Silva, bancário, e Gabriela Brito Fernandes, arquiteta. Na primeira vez em Congonhas, num passeio pelas cidades coloniais mineiras, eles dedicaram as primeiras horas do passeio à contemplação das 12 esculturas em pedra-sabão. “Estão muito bem conservadas”, observou Gabriela, que considerou a visita mais especial ainda pelos 210 anos de falecimento do mestre.
Partes da história emocionam os turistas, principalmente pela origem. “Era filho de uma escravizada com um português, não é mesmo? Esse é um monumento grandioso, de Minas e do Brasil”, acrescentou Breno Vinícius.
Em outro ponto do adro, a também paulista Luíza Moraes, designer gráfica, ouvia atentamente as explicações do guia regional Luiz Eduardo do Espírito Santo. “Estou realizando um sonho. A gente lê os livros, consulta artigos na internet, mas, quando chega frente a frente, é muito emocionante. Não há nada igual em outro lugar. Só mesmo vindo aqui para ver”, disse Luíza. Para Luiz Eduardo, contemplar a obra de Aleijadinho é algo necessário todos os dias: “É o mestre da nossa cultura, o gênio do Barroco”.
Para guiar os olhos, vale ouvir a explicação da professora de história Adalgisa Arantes Campos, especialista em Barroco e autora do livro “Arte sacra no Brasil Colonial”. Ela enaltece a figura do artista: “A obra de Aleijadinho é expressionista, deforma conscientemente para causar emoção”.
Então, vale aproveitar o cenário diante da basílica, que, agora, dá orgulho aos brasileiros e atrai estrangeiros – visitam Congonhas, anualmente, de acordo a prefeitura local, cerca de 500 mil pessoas. No final do ano passado, chegou ao fim a remoção das colônias de micro-organismos que insistem em proliferar nos profetas Joel, Jonas, Amós, Abdias, Daniel, Baruc, Isaías, Oseias, Ezequiel, Jeremias, Naum e Habacuc.
Os micro-organismos, especialmente líquens, que dominavam cabeça, braços e tronco de pedra-sabão, foram removidos com aplicação de álcool 70 e de um biocida, com recursos da Prefeitura de Congonhas. O trabalho foi executado pela equipe coordenada pelos restauradores Adriano Ramos e Rosângela Reis Costa, do Grupo Oficina de Restauro, de BH, e integrada pelo geólogo Antônio Gilberto Costa e o biólogo Aristóteles Goes Neto, com consultoria do geólogo português José Delgado Rodrigues.
A HISTÓRIA
No Museu de Congonhas, perto do santuário, os visitantes podem ver um retrato de Aleijadinho, o qual foi cedido pelo Museu Mineiro, de BH. Trata-se de um óleo sobre pergaminho, feito no século 19 por Euclásio Penna Ventura. O quadro, na verdade um ex-voto, medindo 20 centímetros por 30cm, pertenceu à Casa dos Milagres de Congonhas e mostra um homem mestiço bem vestido. O quadro foi vendido em 1916 a um comerciante de Congonhas, identificado como Senhor Baerlein, proprietário da Relojoaria da Bolsa do Rio de Janeiro. A alegação de que se tratava de Antônio Francisco Lisboa se baseou na imagem representada ao fundo da pintura, em segundo plano, que parece idêntica a uma obra de autoria do artista.
Olhar para o retrato de Aleijadinho é buscar também mais conhecimento sobre sua vida, lembrando que, aplaudido pelas imagens que brotaram de suas mãos, ele, paradoxalmente, teve na própria fisionomia um mistério.
Para entender essa história, é melhor ir aos primórdios. O pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa, nasceu em São José de Odivelas, antes pertencente a Lisboa e hoje município autônomo. O pioneiro João Francisco e seus três filhos vieram da capital portuguesa atraídos, no auge da mineração de ouro nas Gerais, pela efervescência de construção de igrejas. Era uma família de artífices. Os tios de Aleijadinho, Antônio Francisco Pombal e Antônio Francisco Lisboa, foram exímios entalhadores e atuaram, respectivamente, nas matrizes do Pilar e de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em Ouro Preto.
ENSINAMENTOS
Aleijadinho foi aprendiz, oficial e se tornou mestre, aprendendo a trabalhar com a própria família, pois todos eram do ramo. Aos 23 anos, ele deu início à sua própria oficina, embora não fosse um espaço físico, mas um serviço itinerante. Assim, morou em Rio Espera, na Zona da Mata, e em Sabará, na Grande BH, onde pode ser vista sua antiga casa perto da Igreja Nossa Senhora do Carmo. A equipe dormia geralmente nas casas paroquiais. Outra atividade importante, a exemplo da desempenhada pelo pai, foi a de perito ou “louvado”. Um dos irmãos de Aleijadinho, o padre Félix, seguiu a mesma trilha e se tornou um talentoso escultor de peças sacras.
Um mistério que ainda desafia os historiadores se refere à doença que acometeu o mestre. Ele desempenhou seu ofício com ferramentas presas às mãos lutando contra a deficiência que pode ter sido causada por fratura ou hanseníase, a qual atacou face, mãos e pés. No dia 11, às 20h, no Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, o médico dermatologista Geraldo Barroso de Carvalho vai ministrar a palestra “Doença e exumação do Aleijadinho”, dentro da Semana do Aleijadinho.
Segundo a professora Myriam Andrade Ribeiro Oliveira, mestre e doutora em arqueologia e história da arte pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica, e pós-doutora pela Universidade de Londres, Aleijadinho é o artista de maior importância do período colonial brasileiro e também o de maior qualidade. “Exatamente na fase em que foi acometido pela doença que lhe valeu a alcunha, Aleijadinho se tornou mais produtivo,” diz a professora e autora de referência “O Aleijadinho e sua oficina – Catálogo das esculturas devocionais” (2002), escrito em parceria com os restauradores e também especialistas em arte, Olinto Rodrigues dos Santos Filho e Antônio Fernando Santos.
MARAVILHAS DAS MÃOS DO MESTRE
Conheça obras atribuídas a Aleijadinho em Minas ou comprovadamente (por meio de recibos) de autoria do gênio do Barroco
1) Congonhas, na Região Central
Doze profetas, esculpidos em pedra-sabão, no adro do Santuário Bom Jesus de Matosinhos (1800 a 1805). No interior do templo, há seis relicários
Sessenta e quatro esculturas em cedro, em tamanho natural, nas capelas dos Passos da Paixão de Cristo (1796 a 1799)
Coroa de Nossa Senhora sobre a arca de Noé, guirlanda com três anjos e símbolos da eucaristia, na porta principal (portada) da Matriz Nossa Senhora da Conceição
2) Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Imagem de Santana Mestra (1770), no Museu do Ouro. Peça procedente da Capela Nossa Senhora do Pilar do Hospício da Terra Santa de Sabará
Dois atlantes, em madeira, e fachada, em pedra-sabão, da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Imagens de São Simão Stock e São João da Cruz, em madeira, da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Coro completo, púlpitos e a grade que separa a nave da capela-mor da Igreja do Carmo
3) Ouro Preto, na Região Central
Anjo tocheiro, em madeira, que fica na sala dedicada a Aleijadinho no Museu da Inconfidência. A peça pertenceu à capela-mor da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Lavabo da sacristia e portada, em pedra-sabão, da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Portada da Igreja Senhor Bom Jesus de Matosinhos (São Miguel e Almas), em pedra-sabão, no Bairro Cabeças
Desenho da capela-mor da Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões
Desenho da capela-mor da Igreja São Francisco de Paula
Quatro leões de essa (usados originalmente em cerimônias fúnebres) e imagem de São Francisco de Paula, no Museu Aleijadinho, todos em madeira
Fachada e púlpitos, em pedra-sabão, da Igreja São Francisco de Assis, e lavabo da sacristia no mesmo material; talha da capela-mor em madeira
4) Mariana, na Região Central
Bustos-relicários de Santo Hilário e Santo Athanásio, em madeira, no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra
Imagens de São João Nepomuceno, São Joaquim e São Francisco de Paula, em madeira, no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra. No museu, estão também duas Santana Mestra (uma sob guarda) e peças em pedra-sabão
5) São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes
Portada, em pedra-sabão, da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Portada, em pedra-sabão, e altares laterais, em madeira, da Igreja São Francisco de Assis
6) Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes
Desenho da fachada da Matriz Santo Antônio
7) Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Imagem de Nossa Senhora da Piedade, no santuário da Serra da Piedade
Imagens de Nossa Senhora do Carmo e de Santa Luzia, em madeira, na Matriz Nossa Senhora do
Bom Sucesso
8) Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Altares em madeira, sem policromia, que pertenceram à igreja da Fazenda da Jaguara, construída em 1786, em Matozinhos. No início do século 20, as talhas foram transferidas para a Matriz Nossa Senhora do Pilar (foto), no Centro de Nova Lima
9) Felixlândia, na Região Central
Imagem de Nossa Senhora da Piedade, na Igreja Nossa Senhora da Piedade. A peça em madeira pertenceu à antiga igreja da Fazenda da Jaguara (1786), em Matozinhos.
10) Barão de Cocais, na Região Central
Portada, em pedra-sabão, do Santuário São João Batista, e imagem do padroeiro
MARCOS NA HISTÓRIA DO ARTISTA
1720 – Chegam a Ouro Preto, vindos de Portugal, João Francisco e três filhos, sendo um deles Manuel Francisco Lisboa.
1738 – É o ano considerado “oficial” de nascimento (em Ouro Preto) de Antônio Francisco Lisboa, que se tornaria imortalizado sob o apelido de Aleijadinho. Filho de Manuel Francisco Lisboa com a negra alforriada cujo nome se registra apenas como Isabel. Há historiadores que registram a data como 1730 e, em pesquisa mais recente, 1737.
1750 – O menino Antônio frequenta o internato do Seminário dos Franciscanos Donatos do Hospício da Terra Santa, em Ouro Preto, onde aprende gramática, latim, matemática e religião.
1755 – Nasce Félix Antônio Lisboa, irmão de Aleijadinho. Foi padre e escultor talentoso.
1763 – Antônio Francisco Lisboa faz sua primeira intervenção com características arquitetônicas: frontispício (fachada principal) e torres sineiras da Matriz São João Batista, e ainda a imagem de São João Batista.
1766 – Em Ouro Preto, o artista executa o projeto da Igreja São Francisco de Assis, as imagens do frontispício e a fonte-lavabo da sacristia.
1768 – Antônio se alista no Regimento da Infantaria dos Homens Pardos de Ouro Preto e, durante três anos, presta serviço militar, o qual conjuga com uma intensa atividade profissional.
1774 – Recebe a encomenda do projeto da Igreja São Francisco de Assis, de São João del-Rei, e executa o projeto da Igreja São José, de Ouro Preto. Em Sabará, faz trabalhos para a Igreja do Carmo.
1777 – Nasce o filho do escultor, que recebe o mesmo nome do avô (Manuel Francisco Lisboa). O menino é batizado em 23 de janeiro, na Catedral do Rio de Janeiro. Nessa época, é detectada uma grave doença degenerativa, que deforma corpo e membros do artista.
1780 – Antônio Francisco Lisboa é contratado para execução da balaustrada, púlpito e coro da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Sabará.
1784 a 1786 – O artista esculpe o conjunto em madeira da igreja da Fazenda da Jaguara, em Matozinhos. No início do século 20, o acervo é transferido para a Matriz do Pilar, em Nova Lima, na Grande BH.
1790 – Recebe o apelido de Aleijadinho. Tem obra elogiada no levantamento de fatos notáveis, ordenado pela Coroa Portuguesa, em 1782, e feito pelo vereador capitão Joaquim José da Silva, da Câmara de Mariana.
1790 a 1794 – Aleijadinho se ocupa do retábulo da capela-mor da Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, com grande equipe de oficiais de talha. A obra é a coroação da atividade de escultor e entalhador.
1796 a 1799 – Nas capelas que recriam a via-crúcis, em Congonhas, Aleijadinho esculpe 64 figuras em madeira. Nas paredes, estão as pinturas bíblicas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830).
1800 a 1805 – No Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Aleijadinho esculpe os 12 profetas que, juntamente com a basílica e as capelas, receberam reconhecimento da Unesco como Patrimônio Mundial
1812 a 1813 – O estado de saúde de Aleijadinho se agrava. Passa a viver em uma casa perto da Igreja do Carmo, em Ouro Preto, para supervisionar as obras que lá estavam em andamento.
1814 – Aleijadinho morre em 18 de novembro, conforme certidão de óbito arquivada na Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Está sepultado sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte.
1858 – Publicada a primeira biografia do mestre do Barroco, escrita pelo promotor de Justiça Rodrigo José Ferreira Bretas.
1930 – Feita a primeira exumação dos restos mortais de Aleijadinho para lembrar o bicentenário do artista, conforme estudos que apontam 1730 como o ano do nascimento.
1947 – Feita a segunda exumação, de forma clandestina. Pedaços de ossos são levados para exames na Inglaterra. Outras duas exumações ocorreriam em 1970 e 2003.
FONTE ESTADO DE MINAS