A reestruturação da Ford no Brasil transforma Camaçari em polo global de engenharia e amplia a relevância da tecnologia nacional na estratégia da montadora.
A Ford reforçou sua presença no Brasil ao transformar sua operação de manufatura em um centro estratégico de engenharia e desenvolvimento.
O movimento, explicado por Martín Galdeano, CEO da Ford na América do Sul, durante participação no programa Radar Times, marca uma nova etapa da montadora no país.
Segundo ele, o Centro Técnico de Camaçari reúne mais de 1.500 engenheiros e especialistas, responsáveis por criar tecnologias e projetos que serão aplicados em veículos globais, ampliando a relevância da engenharia brasileira no mapa mundial da companhia.
Conforme destacou o executivo, essa reorientação permitiu que o Brasil voltasse a ocupar um papel estrutural dentro das decisões estratégicas da marca, especialmente após anos de desafios operacionais na região.
Engenharia brasileira ganha protagonismo na Ford
Durante a entrevista, Martín Galdeano lembrou que a Ford já chegou a vender cerca de 350 mil veículos por ano na América do Sul, mas acumulava prejuízos próximos de 1 bilhão de dólares anuais.
Segundo ele, esse cenário dificultava novos investimentos e impedia que a região participasse de forma consistente do desenvolvimento global de produtos.
O CEO explicou que a estratégia atual reduziu a operação a aproximadamente um terço do tamanho anterior, priorizando segmentos nos quais a Ford possui escala global e competitividade.
“Hoje temos foco total em picapes, SUVs, veículos comerciais e em desenvolvimento de produto”, afirmou.
Ele acrescentou que a equipe de engenharia instalada na Bahia já responde por aproximadamente 30% a 35% da tecnologia aplicada nos veículos da Ford ao redor do mundo.
Para Galdeano, esse é um marco que evidencia a mudança de rota e a consolidação de um modelo sustentável na região.
De acordo com o executivo, a empresa acumula 17 trimestres consecutivos de resultados que garantem retorno de capital aos acionistas, o que viabiliza novos investimentos.

Expansão do Centro Técnico de Camaçari
Martín Galdeano também comentou que o time de engenharia praticamente dobrou nos últimos anos.
“Em 2021, tínhamos por volta de 800 engenheiros.
Hoje são 1.500”, disse.
Ele ressaltou ainda que o local atrai profissionais jovens e altamente qualificados, responsáveis por desenvolver tecnologias não apenas para a próxima geração de veículos, mas para duas gerações adiante.
Segundo o CEO, a empresa inaugura em abril um novo edifício em Camaçari, com capacidade para mais 800 engenheiros, ampliando o peso da estrutura regional no pipeline de desenvolvimento global.
Possibilidade de retomada da produção nacional
Questionado sobre uma eventual retomada da produção local, tema recorrente desde o anúncio do fim da manufatura da Ford no país quase cinco anos atrás, Galdeano afirmou que a empresa nunca descartou essa possibilidade.
“A decisão tomada anteriormente não teve relação com o Brasil”, disse.
Segundo ele, a mudança de estratégia global, com foco em picapes, SUVs e veículos comerciais, direcionou a marca para outros polos produtivos.
Ainda assim, o executivo reforçou que o Brasil permanece como uma alternativa competitiva para a produção.
Ele explicou que, embora não haja um anúncio imediato, a viabilidade continua sendo analisada pela corporação.
Concorrência crescente e mercado em transformação
Ao comentar o mercado brasileiro, Martín Galdeano reconheceu a forte concorrência, especialmente com o avanço das marcas chinesas e dos veículos elétricos.
No entanto, afirmou que a Ford busca se diferenciar pela experiência oferecida ao cliente e pelo domínio aprofundado dos segmentos em que atua.
“Nosso foco antes era volume.
Hoje trabalhamos para entregar a melhor experiência e a melhor linha de produtos nos segmentos em que somos competitivos globalmente”, observou.
Ele citou o desempenho da Ford Ranger, que deve encerrar o ano com recorde de vendas no Brasil, além de índices elevados de satisfação na rede de concessionárias.
Avanços em tecnologia, conectividade e motores no Brasil
O executivo também destacou que tecnologias de motorização e conectividade estão sendo desenvolvidas no Centro Técnico de Camaçari.
Como exemplo, mencionou o anúncio recente da produção de uma Ranger híbrida plug-in com tecnologia flex, revelada durante a visita do CEO global da Ford à região.
Segundo Galdeano, toda a tecnologia associada ao etanol foi desenvolvida pela equipe brasileira, reforçando o papel da engenharia nacional na inovação e na adaptação dos veículos a diferentes mercados.
Impactos da disputa entre China e Estados Unidos
Ao comentar os gargalos globais na cadeia de semicondutores, intensificados pela disputa comercial entre China e Estados Unidos, Martín Galdeano afirmou que o setor automotivo ainda trabalha para reduzir vulnerabilidades.
Ele lembrou que situação semelhante ocorreu no período pós-pandemia, quando a escassez de chips durou aproximadamente um ano e meio.
De acordo com o executivo, o mercado começa a avançar para uma normalização, mas a Ford segue investindo em novas estratégias de abastecimento, com estoques de proteção e um planejamento de longo prazo que diminua riscos.
Ele ressaltou que a cadeia automotiva é extensa e exige previsibilidade para evitar rupturas.
Crescimento contínuo e metas para o próximo ano
Na parte final da entrevista, o CEO da Ford na América do Sul comentou o desempenho recente da empresa na região.
Ele afirmou que a companhia cresceu cerca de 25% no ano passado e acumula aproximadamente 23% de avanço até outubro de 2025, apesar da base ainda reduzida em comparação ao período anterior à reestruturação.
Segundo Galdeano, a meta para o próximo ano é manter o crescimento em dois dígitos e continuar expandindo o portfólio nos segmentos estratégicos.
Ele reforçou que picapes, SUVs, veículos comerciais e modelos com vocação off-road têm amplo potencial no mercado brasileiro e sul-americano.
Ao encerrar a conversa no Radar Times, Galdeano afirmou que a empresa está comprometida em seguir investindo na região.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS



