28 de março de 2024 20:31

URBANICIDADE – XADREZ DO GOLPE (A nítida aposta de Bolsonaro na guerra civil)

Achei muito forte essa análise da conjuntura feita por Luíz Nassif (aqui). Na minha idade me permito a não sofrer por antecipação por aquilo que ainda está no campo das hipóteses, mas nem por isso deixaria de trazer aqui, pois estamos num momento bastante conturbado de nossa história. Que cada um tire suas conclusões.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas.

No dia 8 de maio de 2019, publiquei aqui o “Xadrez do gole a caminho”, mostrando que jká era nítida a estratégia de armamento da população, de criação de milícias, para substituir as Forças Armadas na defesa do regime.

No dia 2 de fevereiro de 2020, um segundo capítulo, ficando cada vez mais clara essa intenção.

As declarações de Bolsonaro, na reunião dos Ministros, é a comprovação definitiva.

O que precisa mais para as instituições se mexerem?

Peça 1 – O fator Olavo de Carvalho

Depois das últimas escaramuças, não resta dúvida de que a alma do governo Jair Bolsonaro são seus filhos Carlos e Eduardo. E, por trás de ambos, Olavo de Carvalho. Conforme foi possível conferir ao longo desses meses iniciais, todas as loucuras ditas por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro têm consequências políticas. Não são meramente bazófias e grosserias. Têm que ser interpretadas ao pé da letra.

Três opiniões relevantes para compor essa primeira peça

A opinião de Olavo sobre os militares

É evidente que, para Olavo, os generais representam o maior empecilho para a guerra final contra o marxismo cultural.

A opinião de Eduardo Bolsonaro sobre o armamento para a população

Em mais de um Twitter, Carlos e Eduardo Bolsonaro deixaram claro que armar a população é condição essencial para a libertação do país. Deram como exemplo os EUA dos pioneiros e a Venezuela da Maduro. Se a população tivesse armas, Maduro não imporia sua ditadura.

A hora do enfrentamento, segundo Olavo

De todos os tuites de Olavo, o que mais chamou a atenção foi o que ele avisa para deixar para mais tarde a briga com o general Villas-Boas. Quem o avisou foi “o anjo da guarda”. Não é necessário muito tirocínio para intuir quem é o tal de anjo da guarda.

É evidente que o sentido da frase embute a questão da correlação de forças. Mas o que impediria, neste momento, se o próprio Bolsonaro deixou claro que, entre militares e Olavo, fica com Olavo? Certamente não é a correlação de forças políticas dentro do governo Bolsonaro, onde Olavo saiu vitorioso. É a correlação entre o bolsonarismo e as forças externas – incluindo aí, os generais.

Peça 2 – o decreto de Bolsonaro

Portanto, é ingenuidade supor que o decreto de Bolsonaro, ampliando desmedidamente o direito às armas seja mero lobby dos clubes de tiro ou da indústria de armas dos Estados Unidos.

É um posicionamento político para impor-se amparado pelo poder das milícias, dos ruralistas, pelas armas nas mãos de seus seguidores, pelos aliados nas empresas de segurança e, provavelmente, por sua influência junto à média oficialidade das Forças Armadas.

As ligações de Bolsonaro e do PSL com as milícias são óbvias. E há evidências de monta sobre sua proximidade com os mercadores de armas. Dono de um arsenal de 120 armas pesadas, o ex-PM Ronnie Lessa era vizinho de condomínio de Bolsonaro. Ligado a tantos milicianos, colega de tantos ex-militares que vieram dos porões, é impossível que Bolsonaro não soubesse das atividades de Ronnie Lessa

Aqui o primeiro mapa feito mostrando essas ligações.

Peça 3 – as ligações com a indústria de armas dos EUA

No artigo “Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita” mostrei as estreitas ligações entre o lobby das armas e o avanço da ultradireita no mundo. Mostra também a associação dos Bolsonaro com a NRA, a associação dos fabricantes de rifles dos EUA.

Leia também:  Bolsonaro evidencia intenção em militarizar Ministério da Saúde

 

Dizia a matéria;

No dia 10 de novembro de 2018, o site da America´s 1st Freedom, da NRA, dizia (https://goo.gl/F7mkKV):  “Tiremos o chapéu para Bolsonaro por ver a situação pelo que realmente é”.

Um ano antes, em 2017, Jair e Eduardo Bolsonaro foram recebido com todas as regalias pela NRA, conforme reportagem da Bloomberg (https://goo.gl/KWcMhy):

“Enquanto estavam lá, eles experimentaram uma AK-47 e outras armas de assalto. Depois, Eduardo, vestindo uma camiseta “F — ISIS”, segurou cartuchos de grande calibre para a câmera e expressou consternação por eles poderem “ter um problema” se tentassem trazer a munição para o Brasil.”

Quando entrou em crise, depois de ter defendido o armamento para a população dias antes da chacina e ela passou a ser alvo generalizado de críticas, inclusive do prefeto de Nova York, a saída foi invocar Deus:

A reação da NRA veio através de seu líder, Wayne LaPierre, alertando contra uma “agenda socialista” por trás das campanhas contra o desarmamento. E dizendo que o direito às armas “é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença” (https://goo.gl/QKwpaa).

A atuação política da NRA é fundamentalmente contra as instituições, das quais a mais visada é a imprensa.

Peça 4 – o fator Wilson Witzel

O governador carioca Wilson Witzel está claramente preparando sua polícia – civil e militar – para a guerra. Pode-se supor que seja contra as organizações criminosas adversárias das milícias. O que aconteceria com essa estrutura armada, caso o bolsonarismo decidisse peitar a hierarquia das Forças Armadas?

É mais uma evidência do posicionamento dos bolsonaristas.

Peça 5 – o caos que se avizinha

Não há a menor possibilidade da economia melhorar. A equipe econômica conduzida pelos inenarráveis Paulo Guedes e Mansueto de Almeida, parecem determinados a inviabilizar o país, a pretexto de cumprir a Lei do Teto. E sempre com a promessa impossível de que tudo irá melhorar, em um passe de mágica, se for aprovada a reforma da Previdência.

Todas as medidas tomadas parecem ter o intuito de promover a reação da população. Pode ser mera miopia política, de economistas desvairados, pode ser a busca do álibi para o confronto final contra o tal do “marxismo”, que os bolsonaristas vêem até nas Forças Armadas.

De qualquer modo, a cada dia que passa o desalento será maior, assim como a corrosão na popularidade de Bolsonaro. Isso explica a pressa em acelerar providências, a pretexto de recuperar o contato com a base.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas. Seria relevante que caísse a ficha das instituições – STF (Supremo Tribunal Federal), Forças Armadas e Congresso, antes que seja tarde.

 

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