Desde a abolição a burguesia anseia pelo momento que será novamente possível retirar todos os direitos dos indivíduos
A exploração do ser humano e o estado brasileiro estão em simbiose desde quando os primeiros brancos chegaram por aqui. Os indígenas foram os primeiros, após muita resistência, a terem que escolher entre a exploração ou a morte. Com a chacina dos povos originários os portugueses foram atrás de outra mão de obra para explorar, a partir disso começa o tráfico humano do Atlantico.
A escravidão africana ficou vigente no Brasil por mais de 300 anos. Temos mais tempos de negros escravizados do que de negros libertos. Essa herança maldita rege a lógica do trabalho até os dias atuais. Eu não estou dizendo que só pessoas negras são exploradas, tão pouco insinuando que só existe capitalismo em sociedades que se originaram com base na escravização africana. Estou tentando pontuar que a precarização do trabalho no Brasil, que ainda carrega elementos da escravidão.
Países como os Estados Unidos, França, Alemanha e outros do norte global também existem profissões mais valorizadas do que outras, no entanto a remuneração e o respeito com pessoas com ofícios menos glamourizados são muito mais adequados do que no Brasil. Uma pessoa que cuida da limpeza da rua, uma outra que faz faxina, um ajudante de pedreiro, todos conseguem ter uma remuneração adequada, frequentar, consumir e morar do lado de profissões que no Brasil seria inimaginável. Empregada doméstica que dorme na casa, quarto de empregada, talheres separados para serviçais, são todas lógicas racistas herdadas da escravidão. Os trabalhos que pessoas negras faziam outrora ainda hoje são vistos como menores e seguem regras bem diferentes das leis trabalhistas. Não à toa frequentemente acompanhamos notícias de casos análogos da escravidão em fazendas pelo país.
Todos sabem que o capitalismo não quer saber sobre o bem-estar de ninguém. O que ele puder fazer para acumular renda será feito. A exploração de outro ser humano é uma das formas mais eficazes para isso. O burguês paga milhões por tratores agrícolas, mas não quer pagar um valor digno para quem faz a manutenção e quem dirige, já que, nesse método, as pessoas não tem valor, quem tem valor são as coisas. Então o que ele puder sugar daquele indivíduo para acumular capital ele fará e escravizar nunca teve longe dos sonhos da burguesia.
Eu consigo enxergar os senhores de engenho falando que iriam quebrar quando a Lei do Sexagenário e do Ventre Livre foram assinadas. Assim como estamos vendo hoje todo esse mimimi por causa do fim da escala 6×1. Quantos CLT milionários vocês conhecem? Existe bilionário sem exploração humana? Ambas as perguntas são negativas. A maioria dos empregadores tem muito, muito dinheiro. Com a escala 5×2 ele tem capital para contratar outros funcionários para cobrir as horas que faltarão. É muita inocência nossa achar que 50 mil reais a menos por mês impactam nessas grandes empresas.
Pega a linhagem dos mais ricos no Brasil e observa quantos deles têm linhagem com famílias que eram escravocratas. A gente precisa entender que o burguês de ontem e o de hoje tem o mesmo DNA. O que estou dizendo aqui, é que a riqueza produzida em solo brasileiro se iniciou em um período que pessoas negras trabalhavam de graça, logo nenhuma pessoas negra consegue batalhar de igual para igual com essa galera que vem herdando uma fortuna desde a época da escravidão.
A escala 5×2 é um pequeno passo para que as pessoas possam voltar a ser donas do seu tempo, e quando precisar vender o tempo para sobreviver, não seja por qualquer mixaria. A elite do atraso brasileiro tem que investir mais no trabalhador mesmo. Distribuir renda, promover ambiente de trabalho adequado, pagar participação no lucro da empresa. Agora isso jamais partirá deles. Isso tem que ser uma busca nossa, da classe trabalhadora que no Brasil é pavimentada, em sua maioria, pela população negra. Quanto mais luta, mais direito e mais distante do ideal escravagista. Existem 70 bilionários no Brasil e 216 milhões de pessoas. Quem depende de quem? Quem deveria temer a quem?
FONTE TERRA