Mais de 100 famílias foram retiradas de suas casas em 2019 por risco de serem atingidas por 3,3 milhões de metros cúbicos de rejeitos de barragem em nível 3 de emergência
Conforme informou a Vale nessa segunda-feira (13 de maio), o local da barragem está em processo de validação pelos órgãos competentes e ainda passará por obras complementares, com implantação de drenagem e revegetação. Depois disso, será determinada pela Defesa Civil de Nova Lima a liberação da Zona de Auto Salvamento (ZAS), até então evacuada, e as 27 famílias que seguem em moradias temporárias poderão voltar aos seus imóveis de origem. Porém, já não existe mais risco associado ao local, já que foram removidos os 3,3 milhões de metros cúbicos de rejeitos que estavam armazenados na barragem.
Presidente da Associação Comunitária de Macacos (ACM), Marcelo Bonfanti conta que o fim do risco trouxe alívio e esperança à comunidade. “Quando recebemos essa notificação, o que sentimos é que a comunidade ficou aliviada por não ter mais essa barragem aqui em cima. Essa barragem trouxe transtornos, em 2019, para a comunidade e sofrimento”, afirma. Segundo Bonfanti, a população agora aguarda a retomada do turismo na cidade, que recebia média de 5 mil turistas todos os fins de semana antes da evacuação. Atualmente, a média de visitantes no período é de pouco mais de mil pessoas, o que representa uma redução de até 80% em alguns casos.
“Hoje a população se sente aliviada e pede que retorne ao que era antigamente, na área do turismo e gastronomia. O sofrimento psicológico não passa, para muitos moradores virou um trauma, a repercussão negativa na área do turismo foi grande para os comerciantes, que fecharam. Os que resistiram hoje estão felizes por não ter mais a barragem e ansiosos com a retomada do turismo”, conta. Para isso, Bonfanti cobra investimentos e revitalização do distrito. “Nós aguardamos que Macacos seja reconstruída, que o acesso ao distrito, por meio da AMG-160, seja revitalizado. Esperamos que os cinco mil turistas voltem a frequentar a área de cachoeiras, pousadas e restaurantes de São Sebastião das Águas Claras”, pontua.
Questionada, a Vale afirmou que para a requalificação do comércio e turismo e fortalecimento do serviço público municipal, transferência de renda, além de demandas das comunidades atingidas, em dezembro de 2022, foi assinado um acordo no valor de R$ 500 milhões para ações de reparação no distrito de Macacos. O acordo foi firmado em audiência no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com a participação do Ministério Público de Minas Gerais, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, com interveniência e anuência do Município de Nova Lima e do Ministério Público Federal.
A reportagem também questionou a Prefeitura de Nova Lima sobre as ações para revitalização e impulsionamento do distrito de São Sebastião das Águas Claras e aguarda retorno. A matéria será atualizada tão logo em posicionamento seja enviado.
Medo ainda assombra
Apesar do alívio, para muitos, o som da sirene, mesmo que em cenário de testes, se tornou sinônimo de “gatilho para angústia” dos momentos vividos em 16 de fevereiro de 2019. Passava das 22 horas do dia e a chuva caia sobre o distrito de São Sebastião das Águas Claras, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, quando o som de uma sirene perturbou o silêncio dos moradores. O barulho levava uma mensagem jamais esquecida por quem mora na região: “Atenção, atenção. Essa é uma situação real de emergência de rompimento de barragem. Abandonem imediatamente suas residências, siga pela rota de fuga até o ponto de encontro e permaneçam até que sejam repassadas novas instruções”.
O relato é de Daniela Costa, de 44 anos. Moradora do distrito, ela foi indenizada pela mineradora e teve que deixar sua residência meses após a sirene por risco do imóvel ser atingido em caso de rompimento. Apesar do alívio com a notícia da conclusão da descaracterização da barragem B3/B4, ela afirma que é impossível esquecer os momentos de pânico. “Todo mundo que está em Macacos convive com um fantasma. Dá um alívio, mas parece algo irreal. A gente acaba descrente por conta do que ocorreu, ninguém sabe o quão seguro está”, afirma.
Daniela ainda relata a tristeza de ter perdido amigos e vizinhos, que acabaram deixando suas casas por medo. “A Vale comprou muitas propriedades depois do que aconteceu. A gente anda pelas ruas e vê dezenas de placas de ‘propriedade privada da Vale’. Não tem como esquecer, ali era onde moravam amigos, parentes e vizinhos que deixaram suas propriedades após a sirene”, conta.
Segundo a Vale, após o toque das sirenes, cerca de 1,3 mil pessoas assinaram acordos com a empresa, totalizando mais de R$ 200 milhões pagos. A mineradora afirma que todas essas indenizações individuais seguiram parâmetros e critérios estabelecidos no Termo de Compromisso firmado entre a Vale e a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. Com relação aos imóveis adquiridos pela Vale, a empresa garante que está sendo elaborado um plano de destinação que levará em consideração a particularidade de cada propriedade.