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Estudo da UFRJ revela os riscos do Instagram para a saúde mental das mulheres 

Pesquisa do curso de Publicidade e Propaganda da UFRJ levantou dados sobre o papel das influenciadoras na lógica de consumo das usuárias

O impacto das redes sociais na saúde mental é um assunto que preocupa muitos especialistas. Até onde vão os efeitos que uma performance virtual causa na vida real? Ainda é possível distinguir o que se vive na Internet do que se passa fora dela? Quais os limites da publicidade nessas redes? São algumas das questões que estudos tentam responder. 

Em uma pesquisa realizada por alunas do curso de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, que teve como objetivo expor o impacto da lógica de consumo construída pelo Instagram nas usuárias da rede social, 90% das 519 mulheres entrevistadas revelaram se sentirem desconfortáveis com a “vida perfeita” performada por influenciadoras no Instagram.

As estudantes da disciplina “Pesquisa de mercado e opinião pública” traçaram um levantamento sobre “Como a Lógica da Influência Transformou o Consumo e a Consumidora no Instagram”. A rede social é uma das mais usadas no país, sendo a preferência de um em cada quatro brasileiros, além de ser o aplicativo que mais cresceu em uso diário no Brasil, conforme dados do site Opinion Box.

A pesquisa foi desenvolvida em 2019 pelas alunas Beatriz Amaro Gomes Vianna, Eliza Raquel da Silva Franco, Manuela Teixeira de Castro, Mylena Fernandes Paes e Suziane da Silva Novaes, sob orientação do professor Cristiano Henrique, com mulheres da faixa de 16 a 24 anos, residentes no Rio de Janeiro e usuárias do Instagram. Os resultados revelaram, principalmente, um fato curioso: quase 30% das respondentes não gostam de ver conteúdo promocional, mas os nichos mais atrativos para elas são moda e beleza, justamente os que mais rendem publiposts

Isso demonstra que o problema não é o conteúdo em si, mas a forma como ele é tomado pela publicidade. Segundo as pesquisadoras, os influenciadores são, em grande parte, o que mantém o Instagram tão popular perante o público. De acordo com uma pesquisa do Jornal Correio, em 2019, 80% das pessoas seguem pelo menos um influenciador. O poder desse grupo é traduzido nos dados obtidos pela pesquisa: 48,6% das respondentes afirmaram já terem feito compras baseadas na indicação de uma influenciadora. Destas, 65,3% compraram mais de uma vez. 

Pessoas de carne e osso

Grazielli Fraga, estudante de Jornalismo da UFRJ, conta que segue influenciadoras digitais e costuma comprar produtos divulgados por elas, apesar de ter consciência da propaganda. “Às vezes não compro o produto igual, da mesma marca, mas acabo me deixando levar pela aparência. Por exemplo, já vi um vídeo de uma influenciadora postando uma panela antiaderente azul e na hora eu pensei o quanto ela ficaria linda na minha cozinha. E tinha que ser a azul. Mas será que eu realmente achava aquela panela bonita ou eu passei a achar porque uma influenciadora postou?”, indaga a estudante. “Eu cheguei a procurar e comprar a mesma panela”, completa.

Ela também afirma que sabe que as influenciadoras performam uma vida perfeita e que fazem seus seguidores acreditarem que o motivo é aquele determinado produto que ela está divulgando. “As fotos [divulgadas] são muito bonitas, porque elas são moldadas para serem bonitas e despertar o sentimento de ‘poxa, queria ser assim, queria ter isso, queria viver essa vida’, e aí a gente pensa que aquele produto é a causa da pessoa ter aquela vida”, diz.

Esse fato também é exposto pela pesquisa, já que 45,5% das respostas eram concordantes em algum grau com a frase: “gostaria de parecer mais com as influencers que sigo”. Esse sentimento é explorado pelas marcas, que criam a falsa sensação de que uma determinada roupa ou acessório são capazes de transformar a vida de uma pessoa.

Fotografia mostra espaço instagramável da Inovateca. Em um salão quadrado, espelhos estão distribuídos pelas paredes em toda a extensão do teto. No chão, há blocos quadrados em diversas alturas e cores. Um homem branco, de barba e cabelo rosa, tira uma selfie sobre um dos blocos. Sua imagem está refletida em diversos espelhos.
Instagram colabora para abaixar autoestima de usuários. | Foto: Artur Moês

A professora, psicóloga e doutora em saúde mental pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ Anna Lucia Spear King explica o anseio das usuárias do Instagram por terem determinados produtos “da moda”, altamente divulgados pelas influenciadoras. “As redes sociais podem manipular o cérebro no sentido de que, quando as pessoas recebem curtidas, elas sentem muito prazer e bem-estar nisso, porque o cérebro delas recebe uma enxurrada de dopamina, serotonina, endorfina, substâncias químicas que fazem com que a pessoa sinta prazer. Então, ela, mesmo sem saber, quer voltar para as redes sociais e obter cada vez mais curtidas, para que possa ficar o tempo todo se sentindo bem”, diz a pesquisadora.

De acordo com a pesquisa, tanto as marcas quanto os influenciadores têm um mercado com grande potencial e um público que vem demonstrando hábitos de consumo moldados pela influência. Isso pode ser positivo mercadologicamente falando, porém, ao fazer uma análise mais crítica, é possível identificar um forte incentivo ao consumismo e uma crescente postura de comparação, o que pode ser maléfico aos usuários da plataforma. Para 49% das respondentes que afirmam se sentirem desconfortáveis ao usar o Instagram, as influenciadoras não se importam com a autoestima dos seus seguidores. 

A comparação como gatilho para doenças mentais

Anna Lúcia, que também é fundadora e coordenadora do Instituto Delete: Uso Consciente de Tecnologias, da UFRJ, esclarece o perigo da comparação promovida pelas redes sociais. Ela explica que, se uma pessoa já tem um transtorno primário, como depressão ou ansiedade, ela pode ser influenciada pelas postagens das redes sociais. “A pessoa vai usar as redes sociais na tentativa de se sentir inserida, mas, quando ela começar a ver que a vida de todo mundo é ‘perfeita’, que todo mundo é convidado para festas, que só posta coisas boas, ela vai se deprimir ainda mais”, alerta.

Nesse sentido, o próprio Instituto Delete pode ajudar. Ele recebe usuários excessivos ou dependentes de tecnologias e oferece tratamento psicológico e psiquiátrico totalmente gratuito. “A gente trabalha o uso consciente das tecnologias, buscando orientar as pessoas para colher os benefícios que elas podem oferecer e evitar os prejuízos devido ao uso excessivo”, conta Anna Lúcia. 

Para marcar um atendimento, é necessário enviar um email para [email protected]

*Esta reportagem é resultado das atividades do projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania e contou com a supervisão da jornalista Tassia Menezes.

FONTE CONEXÃO UFRJ

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