De R$ 30 mil para R$ 80 mil: o carro popular Fiat Mobi e Kwid expõe a crise do carro acessível no Brasil. O que vem pela frente?
Se você ainda acreditava que era possível comprar um carro popular no Brasil por menos de R$ 80 mil, pode ir tirando o cavalinho da chuva. A barreira simbólica dos R$ 80 mil foi quebrada de vez, e agora até os modelos mais simples, como Fiat Mobi e Renault Kwid, passaram a fazer parte de uma realidade que parece cada vez mais distante do bolso do brasileiro comum.
O que antes era chamado de carro de entrada, hoje já começa a disputar espaço com modelos intermediários de alguns anos atrás. E acredite: a coisa não para por aí.
Kwid Zen 2026 agora custa mais de R$ 80 mil, e as outras versões também subiram
O reajuste mais recente foi da Renault, que empurrou o preço do Kwid Zen 2026 de R$ 79.790 para R$ 80.690, um aumento de R$ 900. Parece pouco, mas o valor marca um divisor de águas: o último carro novo abaixo de R$ 80 mil no país deixou de existir.
As versões mais equipadas também ficaram mais salgadas. O Kwid Intense foi para R$ 83.890, enquanto a versão Iconic já custa R$ 87.390. Para quem quiser um visual mais “off-road”, o pacote Outsider, que é praticamente só estético, custa R$ 87.490. Os dados são confirmados pela própria Renault em seu site oficial.
Fiat Mobi não ficou para trás: agora parte de R$ 80.990
A Fiat também já havia puxado a fila dos aumentos em junho. O Mobi Like, versão mais básica do modelo, agora tem preço de tabela de R$ 80.990, enquanto a versão Trekking chega a R$ 82.990.
Os dois carros, que surgiram com a proposta de serem os substitutos dos populares Uno e Clio, se tornaram, ironicamente, símbolos de um mercado que já não tem mais espaço para o “popular”. No lançamento, o Mobi custava R$ 31.990 (em 2016) e o Kwid R$ 29.990 (em 2017). Hoje, ambos já beiram o triplo desse valor.
Descontos na venda direta: única escapatória?
Ainda é possível escapar parcialmente desses preços inflacionados com a chamada venda direta, uma modalidade que permite que pessoas físicas comprem com desconto, principalmente para frotistas, produtores rurais ou PCD. A Fiat, por exemplo, oferece o Mobi com preço promocional de R$ 69.975 em alguns casos.
Mas esses valores são exceções, e nem sempre estão disponíveis ao consumidor comum de forma simples ou transparente. Ou seja, o mito do carro de entrada acessível está, na prática, enterrado.
Carros populares ficaram para trás na estratégia da Renault
A estratégia da Renault para o Brasil também explica parte desse cenário. A marca francesa vem se afastando dos modelos mais baratos: Sandero e Logan já saíram de linha, e as futuras gerações desses modelos foram canceladas.
Agora, a montadora aposta no Kardian, SUV compacto com pegada mais sofisticada, e prepara o Boreal, um utilitário maior, de olho nos consumidores que buscam mais conforto e tecnologia. A ideia é aproximar o padrão da marca ao que já oferece na Europa, melhorando a percepção de qualidade e, também a margem de lucro, como destacou o CEO da Renault América Latina, Luiz Fernando Pedrucci, em entrevista à Autoesporte.
Nesse novo reposicionamento, o Kwid começa a destoar. Para amenizar esse contraste, ele será reestilizado em breve, adotando um design mais próximo do Kwid E-Tech, que por sua vez será inspirado no modelo europeu Dacia Spring, elétrico e compacto.
Fiat prepara mudanças no interior do Mobi para manter o modelo vivo
Enquanto a Renault se afasta do segmento, a Fiat parece ainda não estar pronta para desistir do Mobi. Segundo informações do site Autos Segredos, a marca italiana prepara uma atualização no interior do carro, que deve herdar o mesmo painel da Strada, com melhorias no console, volante, comandos do ar-condicionado e central multimídia.
Apesar da repaginada interna, o visual externo não será alterado, mantendo a identidade do Mobi mesmo após a chegada do sucessor do Fiat Argo, que deverá ocupar um espaço mais alto na linha da marca.
O carro popular que o Brasil deixou para trás
É difícil imaginar que, há uma década, havia carros com preço abaixo de R$ 30 mil nas concessionárias. Hoje, o termo “carro popular” virou quase um deboche da realidade econômica.
E não se trata apenas da alta dos preços, o poder de compra também despencou. O brasileiro médio, que antes sonhava com um carro 0 km básico, agora precisa pensar duas ou três vezes antes de parcelar um Kwid ou um Mobi por 60 meses com juros altos.
E agora, quem poderá nos salvar?
Com o fim dos carros abaixo dos R$ 80 mil, a grande pergunta é: como o brasileiro vai continuar sonhando com um carro novo? As montadoras alegam alta de custos, inflação de insumos e exigências de segurança como justificativas para os preços nas alturas.
Mas, enquanto os salários seguem estagnados e os impostos sobre automóveis permanecem altos, a conta não fecha. O que antes era um símbolo de mobilidade e independência, agora se transforma em privilégio.
E você, acha que ainda vale a pena comprar um carro novo no Brasil? Já considerou trocar por uma moto, um seminovo ou até aplicativos de mobilidade? Conta pra gente nos comentários e compartilhe esta matéria com aquele amigo que ainda acredita que existe “carro barato” por aí.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS